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DA ARQUIBANCADA

Agora é guerra

'Aceitemos essa brutal realidade: o revés é o nosso vício e a nossa esperança. Tivéssemos metido, sei lá, um broxante 0 a 1, não iríamos até Confins receber a delegação'

postado em 24/09/2016 12:00

Bruno Cantini/Atlético


Foi doido demais. Contra a Ponte, na quarta-feira, revisitamos o impossível e demos a volta no diabo mais uma vez. Valeu de novo o mítico bordão: “Não é milagre, é Atlético Mineiro”. Como de praxe, foi preciso o “2 a 0 contra” – a nossa senha pra falar no SAC de Deus. Se eu fosse um produtor em Hollywood, mandava contratar o roteirista dos jogos do Galo. O único problema é que ele escreve certo por linhas tortas. Nosso roteirista é o homem lá em cima, só pode. O sósia de Karl Marx.

Os argentinos do Newell’s Old Boys, o Olimpia do Paraguai, o Corinthians, o Flamengaço Classificadaço – esse pessoal já experimentou o poder que tem um 2 a 0 sobre a nossa corcova. Jamais cometerão de novo a bobagem do segundo tento, porque sabem que isso acabará por acordar o vampiro brasileiro que cada atleticano tem dentro de si. E aí, meu amigo, a vingança será maligna.

Aceitemos essa brutal realidade: o revés é o nosso vício e a nossa esperança. Tivéssemos metido, sei lá, um broxante 0 a 1, não iríamos até Confins receber a delegação na volta pra casa. Mas o 2 a 2 épico é capaz de produzir aquela peregrinação a Meca, aquele Círio de Nazaré organizado pela Arquidiocese da Galoucura. O revés nos retira a humanidade e nos imbui de poderes transcendentais. O atleticano vitimado pelo 2 a 0 é um Avenger – um Galo Forte Vingador. E agora que ele apareceu no filme, não é no final que ele vai morrer.

Agora é nóis renascido do inferno, Hellraiser total. Egressos da zona, abatidos por alguma peste negra instalada no DM, cá estamos mais fortes do que nunca, com Pelezares e tudo – e com aquela fé que não costuma faiá. Tudo culpa desse 2 a 2, empatizim com sabor de vitória, bom pra esquecer o outro, de domingo passado, que teve o gosto da derrota. Na disputa sensitiva, o Flamengaço já sentiu um “cheirinho de hepta”. Pois eu acho que isso aí é só um punzinho debaixo do edredom. Não vai dar nada.

Agora é guerra: ruas de fogo, réveillon no Ouro Minas, ebós, macumbas, promessas impagáveis, pactos com o demônio, vodu com boneco do Cuca. Na terra onde Moro é rei, tá valendo tudo! Que o Galo repita na quarta a estratégia para o jogo de amanhã: ingresso barato pro povão, que é nossa alma e nosso maior patrimônio. Toca Raul, presida, pra você sacar por que estamos no vermelho mesmo em semana de jogo contra o Inter: “É fim do mês, é fim do mês! E do fim do mês, eu já sou freguês”.

No mais, deixa que o Robinho resolve. Deixa com o Pratto, que ele põe pra dentro. Deixa com o Cazares. Com o Leo Silva (se for o Ábila, ele guarda no bolso). Na hora em que a vaca fizer menção de ir pro brejo, bota o Dátolo pra bater o escanteio. É aquela história: quando se sonha tão grande, a realidade aprende.

De volta à realidade, então. Lembro ao caro leitor que vêm aí as eleições de outubro. Nada a ver com o pleito em que João Leite e Kalil disputam a Prefeitura de Belo Horizonte, cujo nome oficial deve ser alterado para Cidade do Galo tão logo um deles assuma o poder. A eleição é outra: aquela que irá escolher o novo presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, o segundo cargo mais importante de Minas (o primeiro, como sabemos, já está ocupado por Daniel Nepomuceno).

Um dos candidatos é Rodolfo Gropen, diretor de planejamento nas gestões Kalil e Nepomuceno. Gropen é um dos mais reconhecidos advogados tributaristas do Brasil e foi peça fundamental na reconstrução do Galo. Contribuiu de forma decisiva pra organizar a casa, renegociando dívidas e assinando novos contratos. Trabalha de graça para o Atlético. Sim, isso existe! É “remunerado pela paixão”, como ele próprio diz. Já que tá na moda pedir voto, eu peço o seu, conselheiro, sem medo de ser feliz: vá de Gropen, pra gente continuar sonhando grande.

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