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DA ARQUIBANCADA

O corneteiro é antes de tudo um forte

Um desses hereges disse tratar-se de um "ex-goleiro em atividade" (...) É um caso para se tratar com a excomunhão da Igreja Universal do Reino do Galo

postado em 27/05/2017 12:00

Bruno Cantini/Atlético
Notícias que me chegam do Brasil dão conta de que botaram fogo em Brasília. Já não era sem tempo! Verdade que teria sido mais eficiente a réstia de alho, o espelho e o crucifixo, mas sejamos sinceros e que ninguém nos ouça: quem não gostaria de ajudar com um palito de fósforo que fosse, uma bituca acesa, a cachaça do santo pra dar aquela incendiadazinha básica?

Corro os olhos nas redes sociais e lá está, a cuspir marimbondo, esse câncer da cibercultura – o corneteiro. No caso de Brasília, ele surge como um empedernido defensor das vidraças e portas de vidro. Tudo bem que uma quadrilha apanhada com a boca na botija siga mudando a lei e retirando nossos direitos – desde que elas, as vidraças, estejam a salvo. Imagina o que não diria esse pessoal se tivesse visto a Queda da Bastilha em 1789. “Vândalos! Tão achando que vão fazer a Revolução Francesa. Hahahaha. SQN.”

No futebol – o mais importante dos assuntos desimportantes –, os corneteiros se multiplicam como bactérias em colônias de laboratório. O fenômeno me lembra Raul tirando uma onda com Belchior: “Mas é que se agora pra fazer sucesso, pra vender disco de protesto, todo mundo tem que reclamar, eu vou tirar meu pé da estrada, vou entrar também nessa jogada e vamo vê agora quem é que vai guentá”. O sertanejo, como Belchior e Raulzito, é antes de tudo um forte. O corneteiro é antes de tudo um chato. Fuja dele como o Temer foge da cruz, do espelho e da réstia de alho.

Domingo passado, o Galo fez um jogo ruim contra o Fluminense. Poderia ter saído vitorioso mesmo assim, mas perdeu. Vinha de uma convincente classificação às oitavas de final da Libertadores e de um título incontestável no campeonato estadual diante do mais VIP de todos os seus clientes. Ainda assim, um corneteiro se materializou do meu lado, no Horto. Passei a estudar seu comportamento como o ornitólogo que tivesse visto a ave-do-paraíso: ele não comemorou o gol do Atlético, eu juro. Como um Dom Quixote a combater moinhos de vento, bradava contra as bandeiras que se erguiam na sua frente. O corneteiro pagou ingresso. O corneteiro está ali para ver o jogo. O corneteiro é antes de tudo um mala – um contêiner sem alça.

Quarta-feira o Galo jogou bem (foto), especialmente no primeiro tempo. Voltou a ser esse Atlético que aos poucos vai se acertando – um Galo Doido que, conforme sugeria meu querido Mário Marra, parece ter amadurecido. Saiu da adolescência vivida desde os tempos do Cuca, e agora cresceu. Sem chutão, fazendo a bola rodar de pé em pé, com prudência e objetividade. Mas, catzo, a bola não entrava, como não entrou domingo passado. Em três bolas esparsas, duas delas defensáveis, perdemos o jogo outra vez.

Corneta é mato, e no terreno fértil brotou até gente blasfemando contra São Victor. Um desses hereges disse tratar-se de um “ex-goleiro em atividade, vivendo da fama desde o pênalti de Riascos”. É um caso para se tratar com a excomunhão da Igreja Universal do Reino do Galo: toma o GNV, chama o Exército, manda demolir o prédio com o sujeito dentro! Ave Maria, um cara desse é um simpatizante infiltrado pra vandalizar o ambiente, não é possível.

Tristeza de corneta é a realidade da vida: o Galo, campeão Mineiro, está vivo na Copa do Brasil e tem, ao final da fase de grupos, a melhor campanha da Libertadores – o que significa decidir todas em casa, como na conquista de 2013. O Cruzeiro quis Ronaldinho, Pratto, Robinho, Fred (esqueci alguém?). O Cruzeiro quis Valdívia. Deve ser dura essa vida de corneta. O corneteiro atleticano é sim, antes de tudo, um forte.

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