Fim de casamento

O Atlético perdeu do Sport por 2 a 1, ontem, no Recife. Mas não dá para negar: a preocupação da torcida vai além disso. O casamento entre Ronaldinho Gaúcho e o Galo chegou ao fim na quarta-feira, com a conquista da Recopa. A chegada de R10 ao clube foi como um furacão. Ele desembarcou numa segunda-feira e na mesma tarde já treinava com o grupo, sob os olhares incrédulos de jornalistas e torcedores. Mandado embora do Flamengo, estava praticamente acabado para o futebol, mas o alvinegro lhe deu abrigo, carinho e amor. Era tudo de que ele precisava. O craque se reencontrou, treinou com afinco, mesmo sem jamais abrir mão das farras na casa que alugou em Lagoa Santa. Depois de cada rodada de domingo, o pau quebrava por lá até a tarde de segunda-feira, quando ele tinha de se reapresentar no CT de Vespasiano.

Em retribuição à confiança, R10 deu o maior título da história do Galo. Foi decisivo na primeira fase da Libertadores de 2013, embora o grande herói do título tenha sido o goleiro Victor. Mas Ronaldinho abriu as portas do mundo para o Atlético. Onde chegava, era idolatrado, na América do Sul, no Marrocos e na China. Uma parceria perfeita que durou até quarta-feira. Estava na cara que se tratava de uma despedida. Substituído mais uma vez por Levir Culpi (foto), ele retornou ao gramado para abraçar cada companheiro e dar adeus à torcida. Ficou a dúvida. Bateu o pé e garantiu que iria à festa de despedida de Deco, independentemente de ser liberado pela diretoria. Só não viajou a Portugal porque perdeu o voo, mas nem satisfação deu. Foi descansar em Salvador, em vez de se juntar ao time no Recife. Sinal de que realmente rompeu, de forma unilateral, o contrato com o último amor.

Muito franco no que falo e escrevo, já disse que R10 não joga bola há 12 meses, desde que se machucou. Ele se recuperou para o Mundial, mas apenas figurou em campo nas duas partidas. Não justificou o salário próximo de R$ 1 milhão mensal. Mas é o Ronaldinho Gaúcho, o cara que tornou o Galo reconhecido mundialmente, o clube que lhe permitiu resgatar a carreira. Boa troca, que valeu enquanto durou. Não conversei com ele, mas gente bem próxima me confirma que um dos motivos de sair é ter sido substituído em quase todas as partidas por Levir Culpi. Não duvido. Como melhor do mundo duas vezes, exigia um pouco mais de respeito por sua história. Vale lembrar que o técnico já se indispôs com outros astros, como Renato Gaúcho e Éder. E sabemos que eles não gostam de ser confrontados.

R10 não aguenta mais atuar em nível competitivo. Ele deve jogar nos Estados Unidos, na Turquia, na China ou em qualquer país que não tenha maiores aspirações. Tudo na vida tem um período de vigência. O de Ronaldinho venceu na quarta-feira, ou talvez até antes, quando Levir chegou. Conheço-o muito bem. Educado, não bate boca e não confronta ninguém. Quando fica chateado, pega o boné e sai, como fez no Flamengo antes de chegar ao Galo. O ídolo se despediu em grande estilo, com mais um título, deixando seu nome na história do Atlético. Dois anos, uma Libertadores, um Campeonato Mineiro e uma Recopa. Acho que está de bom tamanho.

Fim de uma relação sincera, intensificada pelas orações da torcida pela recuperação de dona Miguelina, a mãe do craque, que sofria com um câncer. Um amor eterno, que jamais será esquecido, nem com a saída do craque. Que ele vá com Deus.

Reformulação
Se o Atlético pensa em manter o alto nível, conquistando títulos importantes, pode começar uma grande reformulação na equipe. Não será com Leonardo Silva, Réver, Pierre, Leandro Donizete e Jô que a conseguirá. Jogadores importantes nas conquistas até aqui, mas o futebol é dinâmico e não comporta um grupo envelhecido. Renovação é a palavra-chave, e o Atlético precisa se preparar urgentemente para ela. Nesta temporada, não acredito em título do Brasileiro, tampouco da Copa do Brasil. E mais um aviso: não é Guilherme o substituto de R10. Em quatro anos de Galo, ele pouco fez. Que a diretoria procure alguém com o perfil do craque que sai.