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COLUNA DO JAECI

Futebol do continente agoniza

"Não queremos mesmo ver jogos medíocres que não nos interessam. Futebol precisa ser direcionado para o interesse de cada praça"

postado em 21/08/2014 14:00 / atualizado em 21/08/2014 08:26

Jaeci Carvalho /Estado de Minas

AFP PHOTO / GUSTAVO SEGOVIA
Depois de ver praticamente toda a Libertadores, constatei que não é só o futebol brasileiro que está na lama. O sul-americano é, hoje, dos piores do mundo e tem dificuldades contra advesários de segunda e terceira linhas do mundo. Faltam seriedade e profissionalismo aos dirigentes; a safra é ruim; jogadores não querem mais treinar fundamentos; os técnicos acabaram com a arte, os dribles, a vontade pelo gol; 1 a 0 virou goleada. O técnico Vanderlei Luxemburgo diz que o Flamengo vai jogar por uma bola e sofrer até o fim do Brasileiro para não cair. Realmente, o time é o pior da história rubro-negra. E tem muitos na mesma situação. A parte de baixo da tabela mostra com clareza. Forças do passado, como Botafogo e Palmeiras, são presas fáceis, dão dó.

Serei repetitivo em pedir pelo amor de Deus para cuidarem da base. Quando vemos o Cruzeiro disputando todos os títulos como favorito, entendemos os motivos: o trabalho na base é excepcional, revelando jogadores de alto nível; contratações de desconhecidos como Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart mostram o olho clínico da diretoria, com o aval do técnico Marcelo Oliveira. Também que comanda a garotada são ninguém menos do que Raul Guilherme Plassmann, com olhar de garimpeiro, e Bruno Vicentim, apaixonado pelo clube, que um dia presidirá, e também com faro para descobrir talentos.

Outro dia perguntei a um amigo, diretor do Fla, como anda o trabalho de base por lá. Ele disse que praticamente inexiste, o que explica esse pior time da história. Logo o rubro-negro, que tanto se orgulhava do slogan estampado no alto da arquibancada da Gávea: “Craque o Flamengo faz em casa”. Hoje, de norte a sul do país, percebe-se que raros clubes valorizam esse trabalho. É preferível pagar R$ 1 milhão por mês a um treinador que revele cinco ou seis jogadores capazes de dar retorno com títulos e lucros a pagar salários irreais a quem chega, manda contratar restolhos e vai embora deixando uma conta altíssima.

Dou um exemplo crônico: desde a ida de Dedê para o futebol alemão, o Atlético não revela um bom lateral-esquerdo. Já gastou fortunas para suprir a posição e nada. Não seria melhor ter investido em um garoto da base, dando-lhe suporte para jogar futebol de qualidade?

Por ser o futebol um esporte de alto rendimento, a lei não permite que jogadores abaixo de 14 anos tenham vínculo com os clubes. Nem na concentração da base podem dormir. Por isso, como antecipei na Bomba do Jaeci da última sexta-feira, a CBF pretende encaminhar projeto ao Congresso para transformar a modalidade em recreativa. Só assim, o clube poderá ter domínio sobre o garoto e a prioridade de fazer com ele o primeiro contrato profissional.

O futebol sofre no país os reflexos de uma estrutura arcaica e corrupta, com saúde, educação e segurança sucateadas e inflação em alta. Por que jogos às 22h se não há segurança? O torcedor, já sem dinheiro, prefere ficar em casa a correr o risco de ser agredido, assaltado ou morto. Em recente reunião dos clubes, o presidente do Atlético, Alexandre Kalil, ouvia quietinho Marcelo Campos Pinto, executivo da Globo, e Roberto Marinho Neto, homem forte do Globo Esporte, dizerem que o público da TV cai 10% por temporada. Indagado se não falaria nada, o atleticano retrucou: “Vocês querem ter audiência transmitindo Botafogo e Atlético-PR para todo o Brasil, principalmente para Minas Gerais”? A dupla ficou sem resposta.

Não queremos mesmo ver jogos medíocres que não nos interessam. Futebol precisa ser direcionado para o interesse de cada praça. Um jogo do Galo ou do Cruzeiro para Minas teria muito mais audiência. Já passou da hora de tornar nosso futebol profissional tão técnico como no passado. Começando pela reestruturação das divisões de base dos clubes, passando pela lapidação dos talentos e culminando com a promoção das revelações aos profissionais. Aspectos que tornou o Brasil o único pentacampeão do mundo.

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