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COLUNA DO JAECI

Velho dilema nas convocações

Para mim, o ideal seria iniciar a temporada em agosto, como na Europa, findando-a em maio. Seria mais coerente e racional

postado em 18/09/2014 14:00 / atualizado em 18/09/2014 08:32

Jaeci Carvalho /Estado de Minas

AFP
Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Diego Tardelli foram convocados para os amistosos da Seleção em outubro contra Argentina, em Pequim, e Japão, em Cingapura. Já era previsto pelo que fizeram nos jogos nos Estados Unidos, em que agradaram a Dunga e ao torcedor. Um assunto, porém, toma conta das rodas de futebol: a maioria da torcida não quer seus times desfalcados nesta reta final de Brasileiro e Copa do Brasil. Para a maioria, caça-níqueis na Ásia nada acrescentam.

Ideal seria que as competições parassem em datas-Fifa, mas nosso calendário ainda não está adequado e neste ano ficou inviável devido à Copa do Mundo. Quem sabe em 2015? Outra verdade da qual não podemos fugir é que hoje o torcedor não está nem aí para a Seleção, principalmente depois de ela levar de 10 a 1 de Alemanha e Holanda.

É curioso o futebol. Sou da época em que comemorávamos convocação de jogadores do nosso time. Simbolizava que eram craques de verdade, pois vestir a camisa amarela era motivo de orgulho. Hoje, qualquer baba tem chance. Basta o interesse do treinador ou do empresário. Não falo especificamente desta comissão técnica, mas do que temos visto ao longo do tempo. Infelizmente, o futebol brasileiro se prostituiu e os treinadores são os principais culpados. Ao ser empregados por empresários, ficam na obrigação de contratar jogadores deles. Mano Menezes foi acusado de convocar vários jogadores do seu empresário, Carlos Leite, e acabou caindo na Seleção, também por incompetência.

Os torcedores do Cruzeiro querem mais é que o clube peça a dispensa de seus dois craques, pois não querem dar chance aos adversários e correr o risco de perder o Brasileiro e a Copa do Brasil, que estão em suas mãos, pela equipe que têm. Até acho que os reservas dão conta do recado, mas ninguém, em sã consciência, abriria mão de ter os dois destaques. Aí, entra em cena outra questão: a Seleção, por pior que seja, divulga o atleta e dá ao clube a chance de negociá-lo.

Na gestão Gilvan de Pinho Tavares, o Cruzeiro virou clube comprador e contrata muito bem, mas ninguém resistiria a 20 milhões de euros por Éverton Ribeiro, por exemplo. Mais de R$ 60 milhões são muita grana. E como não há clube brasileiro nadando em dinheiro, muito pelo contrário, não dá para resistir. Não vejo também condições de a CBF abrir mão dos convocados. Cruzeiro e Corinthians, por exemplo, têm dois jogadores cada. Faz parte do jogo. Acho que o time paulista será ainda mais prejudicado, por não ter grupo tão forte e qualificado, com opções de reposição de alto nível.

Enquanto não adequarmos nosso calendário, teremos sempre esse conflito. A CBF promete que no ano que vem isso mudará e sempre que a Seleção entrar em campo as competições vão parar. Para mim, o ideal seria iniciar a temporada em agosto, como na Europa, findando-a em maio. Seria mais coerente e racional. Quem sabe ainda não cheguemos a esse estágio, depois de um grande passo com o Campeonato Brasileiro por pontos corridos?

E olhem que a Seleção tem mais de 60% de jogadores atuando na Europa, facilitando as coisas para os clubes daqui. Há quem defenda uma Seleção totalmente doméstica, algo inviável nos termos atuais, com campeonatos simultâneos a jogos do Brasil. A três meses do fim do ano, o time nacional terá ainda mais um amistoso, em novembro, contra a Turquia, em Istambul. Tomara que os clubes daqui que cederem jogadores não sejam prejudicados e vençam seus jogos. Somente assim o torcedor não abrirá guerra com a CBF.

A possível interrupção das competições para os jogos da Seleção será um bom começo para as mudanças que pedimos desde o vexame na Copa, mas estamos longe de conseguir ganhar novo Mundial. Nossa estrutura está viciada, com nível técnico baixo, técnicos enganadores, empresários mandando e muitos dirigentes amadores. E, como nunca deixo de frisar, com as divisões de base deterioradas. Como podem ver, estamos no fundo do poço. Mas o Brasil ainda é referência no exterior. Talvez esteja aí a explicação para conseguirmos tantos amistosos na Europa, Ásia e Estados Unidos. Que os clubes e a CBF entrem num acordo.

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