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JAECI CARVALHO

Não é como no passado, mas é sempre clássico

"Será um clássico nervoso, cheio de emoção, e só espero que o árbitro não estrague o espetáculo"

postado em 21/09/2014 10:00 / atualizado em 21/09/2014 10:04

Jaeci Carvalho /Estado de Minas

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press


Quinze pontos separam o líder do Campeonato Brasileiro, Cruzeiro, do rival Atlético. E daí?, perguntam os atleticanos. Hoje é dia de clássico e nada disso tem importância quando se trata do maior jogo de Minas Gerais. É claro que o Mineirão estará azul, com 90% de sua capacidade preenchida pelos cruzeirenses, donos da casa. Aliás, é mais uma das vergonhas do nosso futebol. A Polícia Militar, instituição bicentenária, não consegue dar segurança aos torcedores para que dividam o local como ocorria no passado. E já avisou: vai dar segurança somente dentro do Gigante da Pampulha, mas do lado de fora não é problema seu.

O Cruzeiro já tem uma norma quando visita o Galo no Independência: abre mão dos seus ingressos, para evitar tumultos entre torcedores. No ano passado, um grupo de baderneiros brigou entre si e prejudicou o clube, que perdeu mandos de campo. Futebol já foi lazer, emoção, paixão. Hoje é marketing, está nas mãos de empresários ou dirigentes amadores, técnicos fracos e jogadores que não sabem nem os fundamentos básicos. Mas é o que temos e precisamos resgatar aquilo de bom que tivemos no passado.

Mas o clássico, apesar de tudo, é diferente. Sempre discordei da velha máxima de que em clássico não existe favorito. O favorito é o Cruzeiro, sem dúvida. Tem mais time, banco, estrutura, dinheiro e treinador mais competente e qualificado. Mas o Atlético pode vencer, claro, desde que jogue melhor do que o adversário e mostre o que não mostrou até agora. Em sétimo lugar muito mais pela carência das outras equipes do que pelos próprios méritos, é um time sem referência, pois deixou ir embora o craque Ronaldinho Gaúcho, mas usa a força da camisa para chegar aos resultados positivos. Só que vai enfrentar o time que mais joga bonito, para a frente, e tem dois craques de alto nível comendo a bola: Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart.

Se jogar o que tem jogado, dificilmente o Cruzeiro perde. E a força da China Azul sempre faz a diferença, pois, como escrevi acima, a equipe é a dona da casa. Em nove jogos no Mineirão, venceu todos e faturou 27 dos 49 pontos que tem. Mas vejam que outros 22 foram conseguidos fora, o que prova o poderio celeste. O time está a oito vitórias de mais um título brasileiro, o quarto de sua história, e não se surpreendam se conseguir a tríplice coroa, novamente, pois é também forte candidato a conquistar pela quinta vez a Copa do Brasil.

Será um clássico nervoso, cheio de emoção, e só espero que o árbitro não estrague o espetáculo. Que o dirija com pulso, energia, apitando realmente o que ele perceber, sem olhar camisa ou posição na tabela. Se não for notado, já estará de bom tamanho. A lamentar termos um clássico dessa grandeza praticamente com uma torcida só. Culpa de uma sociedade violenta, desorganizada, que comete os atos mais primitivos já vistos.

Amanhã será dia de mostrarmos ônibus depredados, estádio com dependências quebradas e outras barbáries. Infelizmente, tem sido assim nos últimos tempos e não sou otimista ao ponto de achar que tudo vai mudar do dia para a noite. E muito cuidado com arrastões no entorno do estádio. Sem segurança, é melhor nos prevenirmos.

"Que país é esse"?, perguntava o saudoso Renato Russo na música da Legião urbana. "É a B... do Brasil", respondiam os fãs nos shows. Que pena! Tínhamos tudo para ser o país do futuro, sem terremotos, tragédias naturais, com clima maravilhoso e a maioria do povo de bem. Somos, porém, recordistas em analfabetismo, corrupção, falcatruas, e até no futebol, em que éramos soberanos, já não somos mais. Que o digam Alemanha e Holanda, que nos enfiaram 10 gols na Copa e tomaram para si a hegemonia do futebol bem jogado, bonito e gostoso de se ver.

Que o espírito alemão esteja com Raposa e Galo esta tarde e possamos dizer que aqui em Minas ainda se joga o melhor desse maltratado futebol brasileiro. Pelo menos o Cruzeiro foge da mesmice e da monotonia dos jogos do país. Vá em paz, torcedor, e volte do mesmo jeito. E que a PM dê a você o mínimo de segurança que se exige para os bons pagadores de impostos.

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