Atlético
None

COLUNA DO JAECI

Violência sem fim

Já passou da hora de uma autoridade decretar que o futebol é das pessoas de bem, e não de facções que não torcem por times, e sim por si mesmas

postado em 23/10/2014 11:00

Jaeci Carvalho /Estado de Minas

ARQUIVO / EM DA PRESS
Eles são jovens na maioria. Têm família, mas parecem não se importar muito com conselhos dos pais. Foi o que percebi na entrevista do pai de um palmeirense preso por causa da emboscada a torcedores do Santos no fim de semana. “Eu aconselho, falo, peço, mas ele não me ouve. Até que ele ficou quieto durante um ano, sem ir ao campo. Mas bastou uma ida para estar preso. Os jovens não ouvem mais os pais.” O que passa pela cabeça de um adolescente ou de um homem que busca no futebol uma forma de agredir, massacrar, matar? Sei que psiquiatras e psicólogos têm explicações científicas, mas atribuo tudo à crise moral do país, onde a impunidade impera.

O futebol, não canso de dizer, é apenas reflexo de estrutura arcaica, de um código penal ultrapassado, de penas brandas para crimes hediondos. Benefícios da lei reduzem drasticamente as penas. Já tivemos várias vítimas fatais das facções organizadas, cujos líderes permanecem soltos. Pior, clubes continuam a fornecer ingressos para esses bandidos. Promotores, vez ou outra, ameaçam extinguir certas organizadas, mas recuam, a meu ver, temendo represálias. Já passou da hora de uma autoridade decretar que o futebol é das pessoas de bem, e não de facções que não torcem por times, e sim por si mesmas. Chega de hipocrisia neste país do faz de conta. Quantas vidas mais precisarão ser dizimadas para que providências enérgicas sejam tomadas?

Sou da época em que havia a charanga do Jaime de Almeida, que animava os torcedores do Flamengo. Quem não se lembra da vascaína Dulce Rosalina? Ou da Charanga do Júlio (foto, E), no Galo? Bons tempos em que organizações serviam para animar o espetáculo. Hoje, esquadrões recrutam marginais, que vão a campo para “matar ou morrer”, como dizem nos refrões. E desafiam: “Nem a PM vai nos segurar”. Estamos mesmo no fundo do poço.

Como disse na coluna de ontem, minha cota no futebol está no fim. Cansei de ver tanto desmando e ninguém tomando providência. Por que não se investigar dirigentes que eram pobres e ficaram ricos depois que comandaram clubes? Por que não abrir o sigilo bancário dos empresários do setor? Eles têm muitos segredos a revelar. Sabe-se que muitos dividem comissões de vendas de jogadores com os cartolas, mas, como o dinheiro é depositado lá fora, não há como pegá-los. Mas se a polícia der uma prensa, o cara confessa.

Já passou da hora de abrir a caixa preta do futebol e mudar essa estrutura viciada e arcaica. Fomos os melhores do mundo, numa época singela e amadora, em que o amor ao clube falava mais alto. Hoje, com raríssimas exceções, temos aproveitadores que usam o clube em benefício próprio, iludindo uma legião apaixonada. Chega dessa gente. Vamos moralizar o futebol e o país, sob pena de acabarmos com o esporte mais popular.

ATLÉTICO O empate com o Bahia não permitiu ao Galo chegar à vice-liderança do Brasileiro, mas o time de Levir Culpi continua em alta. Agora, precisa pensar na Copa do Brasil, cujo título ainda não tem, mas pode conquistar se chegar às finais pela primeira vez. O primeiro jogo contra o Flamengo será na semana que vem, no Maracanã. O segundo, no Mineirão. O momento alvinegro é infinitamente superior, mas não se pode desprezar o rubro-negro, principalmente em decisão. Seria fantástico, como tenho escrito, uma final mineira. E, caso o Cruzeiro conquiste o Brasileiro, novamente, o que é praticamente certo, manteremos nas Gerais a hegemonia do futebol no país.

Tags: cruzeiroec atleticomg americamg