Atlético
None

COLUNA DO JAECI

Pelas duas torcidas em campo

postado em 09/11/2014 11:00 / atualizado em 09/11/2014 08:21

Jaeci Carvalho /Estado de Minas

Paulo Filgueiras/EM/D.A Press
Minas é o centro do futebol brasileiro. Os mineiros são diferentes mesmo. Em 1720, Ouro Preto foi escolhida como a primeira capital da Nova Capitania de Minas Gerais. No fim daquele século houve a Inconfidência Mineira, que produziu um mártir, Tiradentes. Nos anos 1950, o estado deu ao país um grande presidente, Juscelino Kubitschek, o homem que construiu Brasília. Agora, na segunda década do século 21, ele é dono do futebol brasileiro. Privilégio para poucos.

Neste período em que o Brasil inteiro se volta para BH, saberemos receber profissionais de imprensa, e torcedores e outros com carinho. Não é por sermos os melhores, com Cruzeiro e Atlético ditando o ritmo, que seremos soberbos. Teremos humildade para comemorar nossas conquistas sem agredir, sem produzir manchetes pejorativas.

A decisão da Copa do Brasil começará quarta-feira, no Independência, com o Atlético de mandante, e terminará no dia 26, no Mineirão, com mando do Cruzeiro. Abro parêntesis para um pedido especial: já que dominamos o futebol no país em campo e também em transparência na gestão de Galo e Raposa, por que não dar prova de que somos também civilizados e ter as duas torcidas nas finais? No jogo de reinauguração do Gigante da Pampulha, abrindo o Campeonato Mineiro de 2013, elas dividiram igualmente os espaços no estádio (foto).

Poderíamos fazer um grande mutirão para reviver o clima da Copa do Mundo, privilegiando as duas torcidas – gente do bem, não facções organizadas. A Polícia Militar poderia quadruplicar seu efetivo e dar garantias ao cidadão para entrar no estádio do rival em segurança vestindo a camisa do seu time. Se fomos capazes no Mundial, por que não agora?

Seria grande exemplo para o país de que, além do futebol, oferecemos também a melhor segurança. Seria fantástico ver o Independência e o Mineirão divididos por atleticanos e cruzeirenses. Não acho utopia. Se autoridades, clubes e Federação Mineira quiserem, é possível. Seria um prêmio para quem prestigia seu time o ano inteiro e não ficaria de fora da decisão inédita. Temos de aprender a conviver em sociedade, mesmo que o torcedor ao lado seja do clube rival.

Imaginem os estádios lotados, rigorosamente divididos pelas torcidas, fazendo coreografias, cantando e dançando numa festa sem fim. Com a PM dando segurança dentro e fora. Que as autoridades pensem com carinho e privilegiem o torcedor do bem, pondo os bandidos das facções na cadeia. Seria a hora de quebrar mais este tabu. Basta que os envolvidos tenham vontade de estabelecer o que é normal no mundo civilizado: a convivência entre torcedores rivais, que não são inimigos, mas apenas optaram por torcer por um time de camisa diferente.

Somos a capital brasileira do futebol com a final da Copa do Brasil. O Cruzeiro está para ser tetracampeão brasileiro, bi consecutivo. O Atlético foi o último time do país a levantar a Libertadores. Um deles será o vencedor da Copa do Brasil – penta, se der Raposa. Sonhava há tempos com uma decisão mineira de título nacional ou internacional. Não somos o marisco, que fica entre o rochedo e o mar. Somos como o próprio rochedo, fortes, talentosos e competentes demais da conta.

Que os torcedores de fora instalem suas antenas, que a imprensa de outros estados traga suas unidades portáteis e suas câmeras. Aqui tem futebol de qualidade. Podem até escolher por quem torcer, que na ausência das equipes de lá, os mineiros lhes dão uma colher de chá. Ficou provado que quando a arbitragem não age a favor de outros eixos, na bola ninguém tira a taça daqui. Boa decisão a todos, de preferência com duas torcidas em ambos os jogos. Elas são a razão de o futebol e os clubes existirem.

Tags: cruzeiroec atleticomg independencia mineirao torcidas jaecicarvalho coluna