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COLUNA DO JAECI

Clássico manchado pela incoerência

Vejo cada um puxando a brasa para sua sardinha, sem assumir a responsabilidade. São tantas as versões que, sinceramente, não sei quem diz a verdade, mas é fato que o clube azul é o único prejudicado

postado em 19/04/2015 12:00

Arquivo/Estadão Conteúdo/AE
O Campeonato Mineiro é deficitário, sem atrativo, de nível técnico baixo como o de todos os estaduais, mas as federações e a CBF não abrem mão deles, sem nada fazer, porém, para melhorá-los. O presidente Marco Polo del Nero, em sua posse na CBF, prometeu ajudar a cuidar e reformulá-los, tornando-os atraentes. Acho difícil algo mudar enquanto a cota da TV para os grandes clubes daqui, por exemplo, girar em torno de R$ 7 milhões e a das equipes do interior, por volta de R$ 300 mil. A Globo, dona dos direitos, paga sabendo que não terá lucro, mas institucionalmente é importante. E quando os clubes assinam o contrato de transmissão, olham apenas o dinheiro, sem se preocupar com datas ou horários. Por duas semanas, algo que jamais vi em 49 anos acompanhando futebol, 33 deles como jornalista, se repete. Um time entra em campo para um clássico decisivo pelo Estadual, e 48 horas depois, volta a jogar, pela Libertadores. Uma covardia com o Cruzeiro e seus milhões de torcedores. Os jogadores não são máquinas. Por tudo o que ocorreu nos últimos dias, pelos desmandos e a falta de fairplay, o jogo, pelo menos para mim, perdeu a motivação.

Não sou como a maioria do povo brasileiro, que cobra atitude dos políticos, mas, na hora de levar vantagem, não abre mão. A tal Lei de Gérson, da qual tanto tenho falado. Gosto de vencer, mas honesta e transparentemente. Aprendi com o saudoso mestre Telê Santana (foto), Zico, Sócrates, Cerezo, Éder e outros gênios que vencer a qualquer preço não vale. Aquela Seleção não foi campeã mundial em 1982, mas ficou na memória dos apaixonados pelo esporte como uma das equipes mais talentosas e importantes da história. A Itália, cuja equipe era muito boa, venceu a Copa, mas o mundo escala mais facilmente o time brasileiro.

Vencer prejudicando alguém não é legal. O que fizeram com o Cruzeiro foi covardia. Vejo cada um puxando a brasa para sua sardinha, sem assumir a responsabilidade. São tantas as versões que, sinceramente, não sei quem diz a verdade, mas é fato que o clube azul é o único prejudicado. E ele decide sua sorte na Libertadores já depois de amanhã, no Mineirão. Sim, na terça-feira. Um absurdo e desrespeito à lei que determina: um time só pode entrar em campo 60 horas depois do jogo anterior. Como no Brasil, porém, leis existem para ser burladas, é apenas mais um entre tantos descasos com tudo o que é nosso. E o futebol é apenas reflexo de tudo de ruim que ocorre no país.

O clássico desta tarde, que deveria ter como protagonistas os goleiros Fábio e Victor, por exemplo, está manchado por uma semana marcada pelo desrespeito, descaso e falta de compromisso dos homens que comandam o nosso futebol. Até agora não sei de quem é a culpa, mas sei que se a lei determina que um time não pode entrar em campo menos de 60 horas depois de ter jogado pela última vez, ela deveria ser cumprida à risca, independentemente de contrato, do TJD, da Federação ou quem quer que seja.

Eu disse no Alterosa no ataque, a cujos telespectadores agradeço a audiência, que, no lugar do presidente do Cruzeiro, eu não poria o time em campo, pelo menos nessas condições desumanas. Arcaria com as punições, pois estou certo de, aí sim, a lei seria aplicada com severidade. Então por que não aplicá-la já, antes da partida?

Lamentável que o clássico seja disputado com os ânimos acirrados, debaixo de descrédito e desconfiança. A ressaltar apenas que nem Cruzeiro nem Atlético tiveram competência para ficar na frente de todos os adversários do interior, com suas cotas bem menores. Medíocres que foram, acabaram em segundo e terceiro lugares, enfrentando-se na semifinal em vez da decisão de costume. Que aprendam a lição e joguem futebol, de acordo com sua capacidade e condição. Têm técnicos dos mais bem pagos do país, jogadores que faturam fortunas, estrutura de primeira, mas está faltando o principal: futebol. Que deste episódio em diante haja mais fairplay, amor e compreensão. Sei que os torcedores de bem querem vencer de maneira correta, sem prejudicar o rival. É muito melhor assim, pelo menos do ponto de vista deste escriba, desanimado e cansado de tanta falcatrua no único país pentacampeão mundial. Pobre futebol brasileiro!

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