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COLUNA DO JAECI

Respeitem o bicampeão brasileiro

postado em 30/08/2015 12:00

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Bicampeão brasileiro, o Cruzeiro passa por um momento difícil, com sua torcida furiosa pelos resultados, pedindo a cabeça do técnico Vanderlei Luxemburgo, do diretor de futebol Isaías Tinoco (foto) e até do presidente Gilvan de Pinho Tavares, único na história do clube a conquistar dois Brasileiros de forma consecutiva. Na verdade, houve uma sucessão de erros de novembro para cá. A derrota para o Atlético na Copa do Brasil, na única decisão nacional entre ambos, a eliminação no Campeonato Mineiro e na Copa Libertadores e a entrada na zona de rebaixamento desde a primeira até a quinta rodada. Tudo isso sob o comando do técnico anterior. Mais grave que isso foi saber que Alexandre Mattos, que provou ser competente e vencedor, foi em parte responsável pela formação do grupo para este ano, em dezembro, quando já estava acertado com o Palmeiras. Foi ele quem contratou Leandro Damião, por exemplo. Lembro-me de tê-lo encontrado na academia e dito a ele: “Não faça isso, é o pior centroavante da história do futebol brasileiro”.

O presidente acha o grupo bom. Eu avalio da seguinte forma: jogadores que eram coadjuvantes no bicampeonato tornaram-se protagonistas, e, quando isso acontece, não pode mesmo dar certo. Não acho que os jogadores sejam de caráter duvidoso ou que haja grupinhos aqui e ali, embora já tenha ouvido falar que há o grupo do Willians, volante, e o do Paulo André, zagueiro limitadíssimo, que está mais para cartola, ao se posicionar como um dos líderes do Bom Senso. Faltam-lhe categoria e qualidade para vestir a camisa azul, assim como a Mena e a Charles, que esteve um ano afastado do futebol, mas que surgiu como solução ainda na gestão do técnico anterior. E não quero aqui culpar o ex-treinador por nada. Mas ele teve sua cota de participação nas derrotas e nos erros, assim como teve o mérito de ganhar dois Brasileiros seguidos e entrar para uma seleta galeria.

Quando havia perdido o grupo, o título da Copa do Brasil, o Mineiro e a Libertadores, não houve alternativa ao presidente a não ser demiti-lo. Curiosamente, os 95% que o rejeitavam quando assinou contrato, por ter a pecha de atleticano, se voltaram contra a demissão. Torcedor é assim. Age somente pela paixão e pelo coração.

Luxemburgo, aquele campeão da Tríplice Coroa, foi contratado sob forte desconfiança de parte da torcida, que o acha ultrapassado. Ao ganhar o clássico contra o Atlético, coisa que seu antecessor não conseguia, conquistou um pouco mais da torcida e viveu alguns dias de glória. Mas a realidade veio à tona com um time ruim, de pouca qualidade. Não é que os jogadores estejam fazendo corpo mole. É que não conseguem render mais do que podem. São limitados. O time bicampeão foi desfeito, e ainda há gente, maldosa, que diz que o presidente deveria ter mantido os jogadores negociados. Éverton Ribeiro foi ganhar R$ 1,5 milhão no mundo árabe. Ricardo Goulart, outra fortuna na China. Lucas Silva, alguns milhões de euros no Real Madrid. Marcelo Moreno custava o olho da cara, pois o Grêmio não aceitou troca. Egídio foi ganhar um bom dinheiro no Leste Europeu. E vale lembrar que o Cruzeiro tinha pequena participação ou quase nada na maioria deles. Hoje, os empresários contratam o jogador, o emprestam ao clube, ele se valoriza, é vendido por uma fortuna, e o clube não fica com quase nada. Só para citar um exemplo, o Cruzeiro tinha 10% dos direitos econômicos de Lucas Silva.

Aí, eu pergunto: o presidente está errado? Ele deveria ser irresponsável e pagar essas fortunas para manter os bicampeões? De jeito nenhum. Gilvan tem 50 anos de Cruzeiro e sabe que seu clube sempre foi pé no chão, organizado, praticamente sem dívidas. Não seria ele quem iria inflacionar e deixar o Cruzeiro à deriva. Todo processo de formação de time tem um custo. O Cruzeiro, bicampeão brasileiro até que dezembro chegue, vai penar até a última rodada para se livrar do rebaixamento. Eu não acredito que caia, pois há muita gente pior, mas não é fácil armar um time durante a competição, ainda mais quando o técnico não escolheu seu grupo. Podem não gostar do Luxemburgo, mas o que ele tem feito é tentar montar um time. Comete erros também, pois Paulo André, Charles, Mena e Leandro Damião não vivem bom momento. Talvez o caminho seja voltar com os jovens Alano, Marcos Vinícius e Alisson.

Uma vitória neste domingo sobre o Santos será de vital importância para a manutenção de Luxemburgo e uma trégua com a torcida. Não há outra hipótese. O futebol é assim, e, com 46 anos de atividade, Luxemburgo sabe muito bem como a banda toca. Criticar o técnico é um direito de todos, mas ele foi atacado em sua vida pessoal, o que não é correto. Tem gente que trabalha com a camisa do clube por baixo, e isso é péssimo. Aliás, graças a Deus, sou de uma geração de profissionais sérios, que criticam o cargo, jamais a pessoa. Hoje, qualquer um tem blog, escreve o que quer e fala o que quer. São os novos tempos no país da mentira, da falcatrua, da falta de preparo. O cara nem jornalista formado é e pega um microfone para falar bobagem.

No Cruzeiro, tudo vira crise. Com o Atlético, há uma parcimônia incrível. Imaginem se fosse o Cruzeiro que estivesse há 43 anos sem um título Brasileiro. O mundo teria desabado. Imaginem se o Cruzeiro tivesse sido eliminado da Copa do Brasil pelo Figueirense, time de segunda linha do nosso futebol. Pois é. E tenho total tranquilidade para afirmar isso, pois sou Flamengo, e aqui torço tanto para Galo quanto para Raposa. O Cruzeiro vai passar em branco neste ano, sem ganhar nada. Tenho a certeza de que não vai cair, assim como Santos, Internacional, São Paulo e Flamengo nunca caíram. As coisas vão se ajeitar, e ano que vem o clube vai voltar a ser vencedor, o que é uma característica sua. Respeitem a história, a tradição do clube e, principalmente um presidente que não dá ingresso, não sustenta facções e que não adoça a boca da imprensa. Todos os grandes clubes passam por dissabores depois de saborearem títulos e mais títulos. Faz parte da história do nosso futebol tão maltratado e engatinhando rumo ao profissionalismo.

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