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TIRO LIVRE

Cada um no seu quadrado

Talvez assim, acostumando-se a ver o time dando voltas olímpicas, o torcedor também se habitue a olhar o rival como ele realmente é

postado em 28/11/2014 12:00

Kelen Cristina /Superesportes

O Cruzeiro comandou a festa no gramado do Mineirão no domingo, ao garantir a conquista do Campeonato Brasileiro. Três dias depois, foi a vez de os atleticanos fazerem ecoar pelo Gigante da Pampulha os gritos de campeão, com o troféu da Copa do Brasil. Futebolisticamente falando, é o mundo perfeito para Minas Gerais. Dois times da terra no topo, mostrando para o restante do Brasil como é que se faz. Na filosofia de botequim do coração de um torcedor, no entanto, nada pior do que a alegria do arquirrival. Para ele, a equação só fecha quando o sucesso de seu time é acompanhado pela derrocada do principal oponente.

Quer saber? Talvez esteja na hora de atleticanos e cruzeirenses começarem a olhar para o próprio umbigo e, juntos, mirarem voos mais ambiciosos. Afinal, por que secar a grama do vizinho se a sua está tão verdinha quanto a dele? Que sadismo é esse que alimenta os apaixonados pelo futebol, essa louca vontade de ver o adversário na lama? A felicidade de um tem mesmo de estar relacionada à desgraça do outro? Claro que não!

Pode parecer demais pedir um pouquinho de racionalidade ao torcedor, esperar que ele se limite ao seu direito e dever de apenas “torcer” pelo seu time. Pense bem: quanta adrenalina os atleticanos desperdiçaram ao secar o Cruzeiro na luta pelo título brasileiro... Nessa via de mão dupla, quantos momentos de agonia os cruzeirenses viveram ao assistir, contrariados, ao bom momento atleticano… É muito tempo e energia jogados fora, meus caros!

Até porque não é mera coincidência as campanhas bem-sucedidas dos times da capital nos últimos anos. Virou um círculo virtuoso: o êxito do lado alvinegro acabou se refletindo em mais exigências na porção celeste, e vice-versa. Vejamos: o Atlético começou sua caminhada de recuperação no Campeonato Brasileiro de 2012, quando brigou pelo título. Assim, obrigou o Cruzeiro a também se preparar melhor para o ano seguinte. Daí, o Galo venceu a Copa Libertadores de 2013. Com o adversário em alta, a Raposa correu atrás e faturou o Brasileiro. O alvinegro viu a expectativa de seu torcedor aumentar e, como o rival estava bem acertado, procurou se readequar. Recorreu ao técnico Levir Culpi (foto), que reconduziu o time ao caminho das vitórias. O Cruzeiro, então, redobrou o fôlego na busca pelo segundo título brasileiro, e chegamos ao cenário descrito na abertura desta coluna.

Mesmo em um momento de crise na economia, sem grandes aportes financeiros e receitas menores do que as recebidas por cariocas e paulistas, Atlético e Cruzeiro podem continuar dominando o futebol nacional. O caminho eles já sabem. Com a continuidade dos treinadores e muito cuidado na escolha de reforços para a próxima temporada, o ano de 2015 pode ser de mais conquistas.

Talvez assim, acostumando-se a ver o time dando voltas olímpicas, o torcedor também se habitue a olhar o rival como ele realmente é: nada além do que um adversário. Não importa o que ele faça ou deixe de fazer. O que vale, de fato, é o que o seu time alcança.

O Cruzeiro não deixou de ser uma grande equipe, bem treinada e formada por jogadores de qualidade, por ter perdido a final da Copa do Brasil para o Atlético. Nem tampouco o fato de a Raposa já ter quatro taças do torneio em sua galeria menospreza a épica conquista alvinegra em seu primeiro título da Copa do Brasil.

O trabalho de Marcelo Oliveira na Toca precisa ser muito enaltecido – às vezes, fica a impressão de que ele é mais elogiado fora de Minas do que aqui. Não se ganha um campeonato de pontos corridos em dois anos seguidos por sorte ou acaso. Da mesma forma, o que Levir fez nesta passagem pelo Galo é digno de registro histórico. Aliás, agora que tomou gosto pelo mundo das letras, ele prometeu, ainda que em tom de brincadeira, se aventurar em outro livro, desta vez sobre a epopeia alvinegra sob seu comando em 2014.

Bom é assim. Com cada um no seu quadrado. E os dois no Olimpo.

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