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TIRO LIVRE

Clássico mutante

Esses 48 dias são a fronteira entre os times que eles eram, os que gostariam de ser (ou imaginavam que seriam) e aqueles em que, de fato, se transformaram

postado em 24/06/2016 12:00 / atualizado em 24/06/2016 09:08

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
A vida é assim: em um estalo muda tudo. Imagine, então, quantas guinadas podem ocorrer num intervalo de 48 dias – ainda mais em se tratando de futebol. É tempo suficiente para transformar heróis em vilões e vice-versa. Para partidas e chegadas. Términos e recomeços. Para Atlético e América, esses 48 dias são a fronteira entre os times que eles eram, os que gostariam de ser (ou imaginavam que seriam) e aqueles em que, de fato, se transformaram. Uma mutação profunda, do estilo aos nomes e expectativas.

Voltemos àquela tarde de outono no Mineirão. O apito final do árbitro Wilton Pereira Sampaio foi a senha para a festa americana. A reviravolta no Estadual, saindo de um estado de grande descrédito (quando correu o risco de ficar fora do mata-mata) para a conquista do título, era considerada pelos dirigentes do Coelho o presságio de uma grande temporada. O alviverde não só voltava a erguer a taça depois de jejum de 15 anos como mantinha sua invencibilidade sobre o Galo: em quatro clássicos neste ano, três empates e uma vitória.

Bryan ainda era o dono da camisa 6 americana. O técnico Givanildo Oliveira saía do Gigante da Pampulha festejado pelo nó tático no colega atleticano, Diego Aguirre. Uma semana depois, com 606 dias à frente do Coelho, estreava na Série A como o mais longevo entre os treinadores da Primeira Divisão. A torcida esbanjava otimismo: em enquete feita pelo site Superesportes, perguntando ao torcedor qual a perspectiva para a temporada, a opção vencedora (38% dos votos) era “Manter-se na Série A, entre 11º e 16º”. Em segundo lugar (19%), “Brigar pela Copa do Brasil e se manter na Série A”. Achou entusiasmo demais? Pois na terceira colocação (17%) estava “Terminar entre os 10 primeiros da Série A”. Ameaça de rebaixamento, apenas como quarta opção (11%).

O Coelho até chegou a corresponder à expectativa, mas apenas parcialmente: despachou o Bahia na Copa do Brasil, inclusive com vitória na Fonte Nova, porém, o retorno à elite não reservou boas notícias: sem vitória nas cinco primeiras rodadas (dois empates e três derrotas), Givanildo acabou demitido. A diretoria tirou um dos treinadores de maior identidade com o clube e apostou em uma inovação ousada e, ao mesmo tempo, arriscada: o português Sérgio Vieira, de apenas 33 anos. Na prática, ainda não surtiu efeito, pois o América permanece na zona de rebaixamento. Pior: na lanterna do Brasileiro.

A trajetória do Atlético é semelhante. Naquele 8 de maio, Aguirre mandou a campo mais uma escalação polêmica. Com o Galo às vésperas de jogo eliminatório da Copa Libertadores, contra o São Paulo, ele decidiu poupar alguns titulares. Ainda improvisou o lateral Marcos Rocha no meio-campo. O empate por 1 a 1 custou o título ao alvinegro, mas ainda não o cargo ao uruguaio. Todo o foco (e a esperança) se voltou então para o torneio continental. E o treinador fracassou novamente, com a eliminação para o São Paulo. Aguirre durou apenas até a estreia no Brasileiro, saindo cinco dias depois da vitória sobre o Santos, no Independência.

No lugar do uruguaio e seu estilo mais defensivista, veio Marcelo Oliveira, adepto de futebol mais vertical e aberto. Cria da casa, o novo treinador demorou a engrenar – a primeira vitória somente saiu depois de sete jogos, e daí ele logo emendou dois triunfos seguidos. Dizer que o Galo já está organizado e atuando harmonicamente é exagero, mas Marcelo conseguiu o alicerce de que precisava para ter tranquilidade para tocar seu trabalho. As vitórias garantiram o impulso de que ele e, principalmente, os jogadores precisavam para reconquistar a confiança no taco.

Em meio à transição Aguirre-Marcelo, a diretoria atleticana ainda trouxe Fred para o ataque. Titular desde o primeiro minuto, o centroavante precisou se adaptar aos novos companheiros jogando. Nem um treinozinho de aquecimento, nada!

Por tudo isso, não é exagero dizer que do último encontro, pela finalíssima do Mineiro, em 8 de maio, ficaram basicamente as lembranças. No domingo, quando voltarem a ficar frente a frente, América e Atlético escreverão, literalmente, uma nova história.

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