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Entrevista com Dedê

Dedê: 'Vou jogar onde meu coração mandar'

postado em 26/05/2011 07:33 / atualizado em 26/05/2011 12:02

Jorge Gontijo/EM/D.A Press

Quando foi levado para o Atlético pelos pais e a avó, que ficou conhecida no Bairro Cachoeirinha, em Belo Horizonte, não pelo nome da certidão de nascimento, mas por Vovó Galo, o menino Leonardo de Deus Santos, o Dedê, jamais imaginou que iria construir uma das mais belas histórias no futebol. Se foi maravilhosa no Atlético – começou na categoria de base, com 15 anos, e ficou pouco mais de um ano como profissional, em 1997 e 1998, quando disputou 34 jogos e marcou três gols –, no Borussia Dortmund, da Alemanha, em 13 anos, ela foi fantástica. Foram 320 partidas e 12 gols. Preencheu todos os requisitos para poder dizer com orgulho: “Sou realizado. Nada me falta na vida”. Tranquilo, fazendo um churrasco com os amigos de infância, em sua bela casa ao lado da Toca da Raposa II, na Pampulha – uma de suas propriedades –, Dedê, de 33 anos, falou de suas alegrias, dos sonhos realizados e abriu um espaço que o torcedor do Atlético vai gostar: “Não fui ainda procurado pelos dirigentes, mas se chegar uma proposta vou conversar porque, quando fui embora, disse que voltaria para encerrar aqui a minha carreira e pretendo jogar até os 37 anos”. Recebeu convites do Grêmio, que garante já tê-lo contratado, e do Flamengo, além de outros clubes da Alemanha. Com prometeu que jamais enfrentará o Dortmund, está claro que não voltará ao futebol alemão. Tem outras ofertas da Europa, mas o coração balança: “É bom que as pessoas saibam que eu não dependo mais do futebol para sobreviver. Não sou rico, mas vou jogar onde o meu coração disser que vai estar feliz”. A boca não diz, mas os olhos indicam: é o Atlético.

Galeria de imagens com a trajetória de Dedê



ENCERRAMENTO DA CARREIRA
O Atlético me deu a base para que eu pudesse alcançar minha realização no futebol. A estrutura técnica foi boa. Quando fui vendido, afirmei que voltaria, mas não sei se será agora. É bom que as pessoas saibam que naquela época eu era um menino e falei com empolgação. Em duas semanas, vou decidir meu futuro. O certo é que a partir dos 37 anos já estou contratado como o representante oficial do Borussia na América do Sul e vou morar em Belo Horizonte.

CASAMENTO
Estou solteiro. Minha noiva é alemã e vai chegar na próxima semana.

AMOR DOS ALEMÃES
Para algumas pessoas, é inexplicável. Os que me conhecem sabem como sou dedicado e como me apego às coisas. Sempre tive prestígio no meu clube, o único depois do Atlético, e que, há cinco anos, enfrentou a maior crise de sua história. Chegou à beira da falência e todos os jogadores foram embora. Eu fiquei. Os alemães são positivos e frios, mas o coração é como o nosso e, quando tomei a decisão de permanecer, a ligação ficou ainda mais forte. Tanto os do Borussia quanto os torcedores dos outros clubes, todos me olham de forma diferente, com respeito acima de tudo.

AFP
AS FESTAS
Não foi só essa que vocês viram pela TV no jogo de despedida, quando conquistamos o título de campeão alemão da temporada 2010/2011 e desfilamos pelas ruas da cidade de Dortmund. Conseguimos, em 34 jogos, 23 vitórias, com seis empates e apenas cinco derrotas, além da classificação para a Copa dos Campeões. Não conquistávamos o título desde 2002. Foi um alvoroço. No time tem também o Antönio da Silva (ex-Flamengo) e Felipe Santana (ex-Figueirense). No dia do meu aniversário, 18 de abril, fizeram uma festa com 2 mil pessoas nas ruas. No vestiário, os jogadores me homenagearam. Foi quando decidi que seria minha despedida nesta temporada. Está gravado aqui no meu celular. Chorei, principalmente depois que percebi que os maiores ídolos do futebol alemão, como Beckenbauer, Matheus, Gerard Müller e outros, jamais tiveram festas como aquelas.

ORGANIZAÇÃO E ORGULHO
O alemão se orgulha pela disciplina e organização. Não abre mão desses requisitos, que foram importantes para a minha formação. O melhor exemplo foi na Copa do Mundo de 2006. Não ficaram humilhados pela perda do título, mas orgulhosos porque o mundo inteiro considerou a Copa a de melhor organização, de melhor infraestrutura oferecida aos participantes e turistas. Era isso que eles queriam: ser um modelo.

COPA NO BRASIL
Não posso dizer que teremos a mesma organização. Difícil alcançar o que os alemães fizeram, mas observei que as obras começaram. Em Belo Horizonte, por exemplo, vi muita coisa nova. Os operários estão nas ruas. Agora, é saber se tudo ficará pronto dentro do previsto.

APRENDIZADO
Adquiri muita experiência, mas futebol é o brasileiro. Nossos técnicos são melhores. Conhecem táticas, a personalidade dos jogadores, tudo. Nossos craques são incomparáveis. Agora está surgindo o Neymar. Antes, Robinho. Onde no mundo há um jogador como o Neymar? E todos que estão próximos a ele, no futebol brasileiro, ainda são melhores do que qualquer outra promessa da Alemanha ou de qualquer parte do mundo. Não dá para fazer comparação. Claro que há exceções, como o Messi , que joga muito. Mas Neymar pode superá-lo.

AFP
A BASE NO ATLÉTICO
No futebol, ela foi essencial para que eu me tornasse um vencedor, mas como pessoa foi a minha estrutura familiar. Lembro que, quando fui para a Alemanha, com três ou quatro meses queria voltar. Sentia falta de tudo, mas coloquei na cabeça que tinha de ficar lá porque iria ganhar um dinheiro para garantir a sobrevivência de toda a minha família, muito humilde. Éramos pobres. Hoje, não digo que somos ricos, mas estamos garantidos. Este terreno aqui atrás da Toca é meu. Tenho outros negócios. Fiquei fora 13 anos e volto com uma felicidade que gostaria que todas as outras pessoas pudessem estar vivendo. Sou muito feliz.

SELEÇÃO BRASILEIRA
As pessoas dizem que eu poderia ter feito história na Seleção Brasileira porque tinha recursos técnicos para disputar até uma Copa do Mundo. Olha, jamais pensei assim. Seleção não me fez falta. Copa do Mundo também não. Tive uma chance na Seleção Sub-23, em 1999, e, depois, em 2004, na Principal. O Roberto Carlos era o outro lateral. Alguns ficam ou ficaram obcecados pela Seleção. Eu não.

AMIZADES
É tudo na vida. Falo sempre com todos aqueles meus amigos do tempos da categoria de base do Atlético, como Caçapa, Bruno, Roberto, Neguete, Hernani, Edgar e Lincoln. Sou padrinho do filho do Lincoln. Ele vai ficar aqui em casa neste fim de semana. Vamos estar juntos. Também sou muito amigo do Marques e fico orgulhoso quando o torcedor diz que a melhor ala esquerda do Galo nSos últimos tempos foi formada por nós dois.

IRMÃOS
Todos já deixaram o futebol. Estiveram na Alemanha, e decidiram que vão cuidar de seus negócios.

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