Atlético
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DA ARQUIBANCADA ESPECIAL

Cornetas al paredón!!

Jogador perna-de-pau ou preguiçoso eu também detono. Isto é muito diferente de não torcer pro Galo, ou torcer contra o Galo

postado em 28/06/2016 12:00 / atualizado em 28/06/2016 08:38

BRUNO CANTINI / ATLÉTICO
Seria uma noite perfeita: Mineirão cheio, chinelada nos gambás e Fred matador; mas uma cena lamentável e que está se repetindo com muita frequência me tirou a metade da graça. Dois valentões de meia-idade partiram furiosos para cima de um rapaz que vaiou o Robinho ao ser substituído. “Corneteiro, FDP, desgraçado”. Tivesse eu alguns anos menos, muitos quilos menos e uma coluna ainda ereta, e me atracaria com aqueles dois panacas por dois dias seguidos. Sem sair de cima!

Que treta é essa, pô? O país viveu mais de uma década sob intensa patrulha ideológica onde não vestir vermelho e não ser baba-ovo do PT tornou-se sinônimo de elite, de inimigo do povo. E agora que a ditadura do partido único ruiu e nos mostrou a verdadeira face da esquerda, vou ter de aguentar isto de novo, no meio da torcida do Galo? Quem não aceita divergência e não permite que outros se manifestem que vá para a Cuba que pariu torcer pelo time dos Castro. Mas aqui, não. Aqui é Galo!

Jamais vaiei o Atlético e jamais o farei. Fico puto da vida quando vejo alguém vaiar. O Galo para mim é como a minha mãe. Por mais que me faça raiva, é sagrado. Só que o Robinho não é o Atlético, o Clayton não é o Atlético, e o Patric não é o Atlético. No máximo, “estão” no Atlético. Jogador perna-de-pau ou preguiçoso eu também detono. Isto é muito diferente de não torcer pro Galo, ou torcer contra o Galo. Todo atleticano tem direitos e deveres, civis e legais. Se ele quiser mandar o Robinho para o quinto dos infernos, depois do milésimo passe errado só no primeiro tempo, que mande, ora.

Cornetar jogador atrapalha? Claro que não ajuda. Mas nem todos se comportam como eu ou como você, leitor amigo. Multidão implica desconfortos: fumaça de cigarro, esbarrões, cheiro de pum e, sim, cornetas! E assim como não dá para sair por aí espancando neguinho que fuma ou que não usou desodorante antes de sair de casa, também não dá para querer calar corneteiro na porrada. Daqui a pouco ou teremos atleticano matando atleticano ou então apenas um bando de valentões obrigando todos a gritar apenas o que quiserem. Imaginem: “rei, rei, rei, o Hyuri é o nosso rei!”.

Mas pior ainda é ler coleguinha aqui incentivando, dia sim, dia também, esta clivagem idiota. Bobeia e logo ouviremos: “Cornetas, matem-nos todos”. Tá certo isso, não! Corneteiro vaiou? Gritamos Galo ainda mais alto. Garanto que funciona. Ouve o hino, a espinha arrepia e a raiva do brother acaba na hora. Desculpem aí o desabafo, ok? Achei que era importante. Mas de agora em diante é... “só love, só love!!”

Que saudade que eu tava docê, meu Galinho Doido! Três jogos, três vitórias, e a quarta, a quinta e a sexta se aproximando. Ih, Ih... alô, G4, logo, logo eu tô aí! E depois que entra ninguém segura. É o seguinte: tá longe do futebol que queremos e que podemos, mas a organização do time melhorou muito e a vontade também voltou; todo mundo correndo e brigando. Deu pra animar ainda mais! Vamos lotar o estádio na quinta, cantar sem parar e faturar mais três pontos. E se puderem, levem as patroas, a garotada, os vovôs e as vovós também! O Mineirão fica ainda mais lindo com as famílias atleticanas, todas juntas, gritando Galo. Inté quinta!

* Ricardo Kertzman, 49 anos, profissional liberal, pai da Sophia. Reza a lenda que, antes de lhe enviar ao mundo, Deus lhe perguntou: quer ter cabelo ou ser atleticano?