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ENTREVISTA EXCLUSIVA

Victor completa cinco anos de Galo e celebra: "Essa tuitada do Kalil mudou minha vida'

No dia 29 de junho de 2012, o então presidente do clube anunciava a chegada daquele que se tornaria um santo atleticano. Goleiro relembra trajetória

postado em 29/06/2017 06:00 / atualizado em 29/06/2017 10:04

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

O dia 29 de junho de 2012 ficará marcado como aquele em que o torcedor do Atlético bombou o Twitter depois de uma postagem eufórica do então presidente Alexandre Kalil. “Torcida mais chata do Brasil, se o problema era goleiro não é mais. Victor é do #Galo”. Com a contratação do camisa 1 ao Grêmio, há exatos cinco anos, o clube alvinegro pôs fim a um histórico ruim de jogadores da posição. Mas a chegada de Victor foi mais do que isso. Esse paulista de Santo Anastácio (SP), que desembarcou em Confins de forma discreta, não só se transformou em ídolo como foi santificado pela torcida. “Essa tuitada do Kalil mudou minha vida”, afirma o goleiro, um dos heróis da inédita conquista da Copa Libertadores de 2013, sobretudo depois de defender pênalti cobrado por Riascos nos acréscimos, contra o Tijuana, pelas quartas de final. Em entrevista para o Superesportes/ Estado de Minas, Victor, aos 34 anos, diz esbanjar energia para levantar outros troféus, de preferência o do Campeonato Brasileiro, e relembra momentos épicos com a camisa do Galo ao longo de meia década em Belo Horizonte.



A tuitada do Kalil

"Impossível não lembrar. Foi numa sexta-feira. Eu tinha treinado no Grêmio para enfrentar o Atlético no domingo. Na saída do Olímpico, eu estava no telefone com meu empresário falando da negociação. Meia hora depois, veio a tuitada que mudou totalmente a minha trajetória no futebol."

Situação na época

"Eu não tinha planejado sair do Grêmio, tinha mais três anos de contrato, havia recém-construído minha casa em Porto Alegre. Mas, no futebol, as coisas acontecem de forma muito dinâmica. A vinda para o Atlético foi um grande desafio, e vim movido por esse desafio, de construir uma história vencedora. Claro que vim também movido por um bom contrato. Aliar um contrato que dê segurança a um clube que tem uma estrutura maravilhosa, como a do Atlético, com os jogadores que o Atlético tinha, sem dúvida foi um grande salto na minha carreira, que me possibilitou ganhar grandes títulos que eu não tinha com o Grêmio."



Cinco anos de Atlético

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
"Tive a felicidade de jogar no maior time da história do Atlético, ou em um dos maiores, em termos de conquistas, qualidade técnica. Isso me possibilitou fazer um grande trabalho e ser um dos protagonistas da principal conquista da história do clube, ou das principais conquistas. São cinco anos intensos, de muitas alegrias, muitas glórias, títulos. Muito feliz de fazer parte da história desse grande clube, ser imortalizado na memória do torcedor, ser sempre lembrado por grandes feitos. É sempre motivo de grande orgulho."

Momentos de instabilidade

"Os momentos ruim foram muito pontuais, são pouquíssimos nesses cinco anos. Se você pegar, em cada ano em que estou aqui tive pelo menos uma conquista importante. Viver momentos de instabilidade é normal em qualquer clube, mas eu prefiro focar naquilo que aconteceu de bom, e não foi pouco."

Pênalti contra o Tijuana

REUTERS/Washington Alves
"A partir do momento em que o juiz apita um pênalti aos 46 minutos do segundo tempo, é inevitável que passem coisas ruins pela cabeça, um sentimento de incredulidade. Logo depois que a coisa acontece, você não tem noção do que aquilo representa, até hoje é difícil dimensionar a importância daquela defesa. Eu dividiria minha carreira como antes e depois do pênalti, sem dúvida é o lance mais marcante. Todos que gostam de futebol que vêm falar comigo comentam sobre ele. Marcou a história do futebol, porque foi um lance pouco provável, uma defesa que não é trabalhada no dia a dia. Foi um improviso, até mesmo um instinto de desespero, você levanta a perna e a bola explode em seu pé. Tem muita representatividade para o futebol pela forma como ocorreu e por ter classificado o time para a semifinal da Libertadores."

Parceria com Chiquinho

"Além da relação profissional, posso dizer que ele é quase um pai para mim. Estamos juntos desde 2008, trabalhamos por quatro anos e meio no Grêmio, na Seleção e agora fechando cinco anos de Atlético. Tudo o que conquistei, o crescimento do meu trabalho, devo muito à competência dele. É um cara extremamente exigente, me cobra demais, não me deixa acomodar. Quando o ser humano entra em uma zona de conforto, é um momento perigoso, e ele não me deixa entrar nela."

Relação com goleiros mais jovens

Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
"Somos quatro grandes goleiros. É gratificante ser uma referência para os outros, mas a responsabilidade tende a ser maior. Procuro sempre manter meu nível de trabalho, boa conduta e profissionalismo, e é isso que tento passar para eles. Para se chegar ao nível de excelência no futebol, é preciso disciplina, ética, saber respeitar os adversários e companheiros. Na parte técnica, cada um tem sua particularidade e forma de se comportar em campo. Mesmo sendo mais o velho, sei que tenho de aprender com os outros. Todos sempre podem passar algo de produtivo. Temos uma relação de respeito e amizade e mantemos o ambiente saudável. Meu crescimento se deve a esse respeito e a esse ambiente, principalmente pelo nível técnico dos goleiros que temos. Se deixar meu nível cair, temos ótimos profissionais que podem ameaçar minha permanência como titular."

Manifestações de carinho

"Na semifinal da Copa do Brasil, contra o Inter, no ano passado, quando tomei aquele gol numa bola recuada pelo Erazo, imediatamente depois do lance o torcedor gritou meu nome. E após o jogo, continuou me incentivando. Isso me marcou. Recentemente, quando meu pai faleceu, eles fizeram uma faixa e fizeram um minuto de silêncio. Foi a única vez que eu vi quando o minuto de silêncio realmente foi de silêncio, o que também foi algo que marcou. Fora tatuagem, pessoas colocando meu nome nos filhos, beijando meu pé esquerdo, abraçando. São tantas manifestações de gratificação que às vezes não conseguimos retribuir a todos. Não consigo atender a todos e até peço desculpas por não conseguir agradá-los. Mas agradeço pelo carinho e isso é o combustível que nos move."

Vida de ídolo

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
"Não me vejo na condição de grande ídolo. Sou uma pessoa muito simples, reservada e essa idolatria até me assusta, sobretudo quando vamos a lugares com mais gente. Mas isso demonstra a admiração que as pessoas têm pelo meu trabalho. É uma grande responsabilidade. Por toda a sua história, as pessoas acham que você nunca vai errar. Isso gera cobrança maior e natural. As críticas são bem-vindas quando contribuem para o crescimento profissional."

Pressão pelo título brasileiro

"Eu me cobro tanto quanto a torcida por essa conquista. É um título que não tenho. Tenho três vices, dois pelo Atlético e um pelo Grêmio. Então, é um objetivo de carreira, não só objetivo do clube."

Relação com cruzeirenses

"Nunca tive maiores problemas em relação aos torcedores rivais, até porque o respeito também. Nunca criei polêmica com eles e acho o respeito é mútuo. Já recebi elogios de rivais dizendo que gostam muito do meu trabalho. Isso demonstra respeito e admiração ao que faço dentro de campo."

Retorno à Seleção

"A Seleção não fecha a porta para ninguém. Tudo vai depender do trabalho que você faz no clube. Hoje o Brasil tem inúmeros goleiros com condições de chegar à Seleção. E não me vejo fora. Aos 34 anos, me vejo em totais condições de voltar à Seleção, só que depende de escolhas, do meu desempenho, daquilo que o Atlético conseguir render. Mas não é algo que tire meu sono. Tinha um sonho de disputar uma Copa do Mundo e o realizei, infelizmente o desfecho não foi o esperado. Hoje meu principal objetivo é buscar conquistas pelo Atlético."

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