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TRAGÉDIA

Mineiro Demerson volta ao vestiário da Chape e conta como está vivendo: "É uma grande dor"

Jogador mineiro volta ao vestiário da Chapecoense, agora um contraste ao ambiente de efervescência que dividiu com os companheiros de time antes da tragédia

postado em 02/12/2016 08:32 / atualizado em 02/12/2016 13:29

Rodrigo Fonseca/EM/D.A Press


Rodrigo Fonseca
Enviado especial a Chapecó

Sentado no vestiário da Chapecoense, o mineiro Demerson não tem mais as companhias de Gil e Ananias, vizinhos de armário. Está sozinho. Não há mais time. O desastre aéreo com a delegação do clube poupou o zagueiro, nascido em Belo Horizonte e cuja família mora em Contagem, na Região Metropolitana da capital. Demerson não foi relacionado para a viagem. Agora, volta ao local onde fez amigos, onde construiu uma história.

O rosto marcado pelas noites sem sono desde a notícia trágica e os olhos marejados só veem no vestiário cadeiras vazias e um oratório, onde faziam as preces antes dos jogos, e agora ponto de prece pelos amigos que se foram e pelas famílias que ficaram.

Voltar ao local onde o grupo se uniu – os nomes dos colegas estão gravados nos equipamentos – não foi fácil. Mas as barreiras da tragédia precisam ser superadas. Nesse mesmo vestiário, a Chapecoense fez uma grande festa pela classificação à final da Copa Sul-Americana, um duelo que ficou para a história sem ter acontecido. “Eu vejo vazio. Foi um lugar onde que a gente comemorou tanto, se aproximou uns dos outros. É uma grande dor.”

A ansiedade pela decisão da Sul-Americana era grande. Mesmo Demerson, cortado da viagem, já que vinha se recuperando de contusão, jamais deixou de apoiar o time. No começo da madrugada de segunda-feira, enviou mensagem ao atacante Bruno Rangel. Não houve resposta.

“Antes de receber a notícia, havia mandado mensagem para o Bruno, perguntando como ele estava, como tinha sido a viagem, mas não obtive resposta. Posteriormente, fui dormir porque tinha treino na manhã seguinte. De repente, às três da manhã, o telefone começou a tocar e veio o susto, a notícia que ninguém esperava, que o avião com meus companheiros e amigos havia caído. As lágrimas vieram, faltou chão.”

Demerson perdeu amigos. Mães e pais perderam os filhos. Esposas ficaram sem maridos. Filhos não verão mais os pais. “Foram pais de família excepcionais, seres humanos exemplares. Nos resta orar, dar apoio aos familiares para que eles possam tentar, se é que é possível, diminuir a dor”, diz. “Neste momento, temos que refletir sobre nossa vida, sobre o que fazemos, valorizar cada momento com nossos filhos. Ontem quando eu fui deitar, tive a oportunidade de abraçar e beijar meu filho. Os meus amigos que morreram não terão mais essa oportunidade. O que nos resta é orar e dar força aos familiares.”

FUTURO


Ainda abalado, ele revela o orgulho de ter trabalhado com os colegas. “Foi um prazer e, realmente, me sinto lisonjeado de ter feito parte desse grupo”, diz o zagueiro de 30 anos, cujo contrato com a Chapecoense termina no dia 15. O marido da Morgana e pai da Thalya, Lorena e Gael ainda não pensa no futuro. “Não quero planejar nada agora. Quero primeiro me despedir dos meus companheiros.”