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DA ARQUIBANCADA

Nossos novos heróis

"Ganhar um clássico com a presença das duas torcidas é infinitamente melhor do que um jogo com torcida única. Para que serve a vitória se não pudermos comemorá-la em frente aos torcedores adversários?"

postado em 03/03/2015 12:00 / atualizado em 03/03/2015 08:18

Sidney Lopes / EM DA PRESS
Nos anos 70, quando o time do Cruzeiro era recheado de jogadores com cabelo black power, éramos os donos da América, fazíamos excursões para todos os cantos do mundo. Foi por causa desse sucesso que mudei a cor do meu coração, ao pintá- lo de azul e branco. Ficava sonhando e desenhando jogadas imaginárias nos intervalos das aulas. Desenhos que hoje não fazem tanto sentido, com tantos games e suas resoluções maravilhosas e a opção de ver e rever todos os gols num clique pela internet. Eu não sabia a escalação do Cruzeiro, sabia o nome dos meus heróis que um dia sonhava conhecer. Tinha 10 anos quando entrei pela primeira vez na Toca da Raposa. A primeira pessoa que vi foi Joãozinho, nosso eterno ponta-esquerda, meu herói na conquista da Libertadores de 1976. Existem algumas imagens que ocorrem durante a infância e ficam guardadas eternamente, como tatuagens que não se apagam.

Lembrei-me desta história por causa do jogo contra o Huracán e porque acabei de ler uma matéria no jornal espanhol El País elogiando muito Lucas Silva e suas atitudes. Um menino que há pouco tempo foi crucificado por um drible que levou do Ronaldinho Gaúcho, mas depois conquistou dois títulos brasileiros jogando bem e agora está no maior time do mundo, com chances de se tornar titular. Pena ter saído tão cedo do Cruzeiro.

Mas, como não podemos mudar o que já foi feito, agora quero saber, neste novo elenco, quem será nosso próximo herói, aquele que terá seu nome cantado pela torcida e, se possível, marcar pelo menos um gol em cada partida desta semana. Uma bela atuação contra o Huracán levará o nome de qualquer jogador aos quatro cantos da América. Se isso se repetir no clássico de domingo, o carinho da torcida será dobrado. Estou vendo alguns nomes com muita vontade de ocupar esse espaço que ficou vago com a saída de meio time. Basta ver o estrago que fizemos somente com os reservas no Galo de Juiz de Fora. Falando do jogo de domingo, já passou da hora de acabar com o retrospecto recente contra o time do Bairro de Lourdes.

Adorei a ideia adotada no Gre-Nal, onde um setor do Beira-Rio foi dedicado a torcedores dos dois times. Será que dá para repetir isso aqui em BH? Ganhar um clássico com a presença das duas torcidas é infinitamente melhor do que um jogo com torcida única. Para que serve a vitória se não pudermos comemorá-la em frente aos torcedores adversários? Ver metade do estádio pulando e vibrando, enquanto a outra fica silenciosa, é algo indescritível. Podemos fazer isso de forma civilizada, sem brigas ou agressões físicas. São esses jogos que separam os craques dos operários da bola. É a hora perfeita para o surgimento de novos ídolos.

Quero presenciar mais histórias como esta do Lucas Silva. Mas que elas possam durar um pouco mais de tempo.

Lembrei-me de uma letra do Jimmy Hendrix que diz mais ou menos assim: “ Um menino dentro de um sonho deixou a mente cair da cara e ser levada pelo vento. Uma mão veio do céu, pregou um escudo em seu peito e disse: ‘Vai lá e dê o seu melhor’. Que apareçam os nossos novos heróis e eles nos tragam as alegrias que tanto esperamos.

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