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COLUNA DO JAECI

Três meses jogados no lixo

No fim, classificam-se quatro, entre eles, Galo e Raposa, e no final, em dois jogos, os dois grandes de Minas decidem

postado em 01/02/2015 11:00 / atualizado em 01/02/2015 11:25

Luciano Santos/Jornal Mantiqueira


A bola rola no Campeonato Mineiro e demais estaduais do país até o dia 3 de maio. Serão três meses de jogos inexpressivos, que, salvo uma temporada ou outra, a gente já sabe o que vai acontecer. Aqui, Galo e Raposa deverão fazer a final, e valerá apenas a rivalidade, pois os torcedores atuais sabem que ganhar um Estadual nada significa em termos financeiros ou competitivos. É uma competição que não dá condições a um técnico de avaliar em que patamar está sua equipe.

Já para América e equipes do interior, tem um valor especial, pois pode significar o único título da temporada. Porém, tem gente que dá status aos estaduais semelhante ao de uma Copa do Brasil. Gente que leva o produto aos lares dos telespectadores e precisa maquiar a competição para vendê-la. Cada um no seu papel. O meu é o de não enganar ninguém. Os estaduais são competições retrógradas e ultrapassadas, que tinham peso espetacular nas décadas passadas, principalmente nas de 1970 para trás, quando um Atlético x Uberlândia levava 90 mil torcedores ao Mineirão, ou quando Cruzeiro x Villa Nova enchia o Gigante da Pampulha, com 130 mil presentes. Velhos e bons tempos.

Os grandes clubes, esses com orçamento na casa dos R$ 200 milhões anuais, vão jogar contra Caldense, Tupi, Democrata e por aí afora para um público de 2 ou 3 mil pessoas, quando atuarem na casa do adversário, ou para 7 ou 8 mil pagantes, quando jogarem em BH. No fim, classificam-se quatro, entre eles, Galo e Raposa, e no final, em dois jogos, os dois grandes de Minas decidem a taça, que vale apenas pela rivalidade. Ambos vão colocar times reservas, quando necessário, pois, de forma inteligente e natural, vão priorizar a Libertadores, competição que dá uma taça maravilhosa, dinheiro e a chance de ganhar o mundo, no Mundial Interclubes. Viram a diferença?

Aqui eles vão a estádios sem condições, com iluminação deficiente, vestiários inacabados e gramados terríveis, prontos para contundir alguém. Essa é a mais pura realidade. Quatro meses jogados no lixo, exceto, como já disse, para as equipes do interior e para o Coelho. Quando chegar maio, a Libertadores estará pegando fogo, o Brasileirão começa, e aí sim o futebol brasileiro engrena. Já disse que sou a favor de um Brasileirão nos moldes dos campeonatos europeus, onde os clubes jogam de agosto e maio. Disputam as copas nacionais e a Champions League. Lá não existe essa de estaduais. Não há necessidade. Sou a favor, e já disse isso ao presidente da CBF, de que a entidade cuide apenas da Seleção, e que os clubes criem suas próprias ligas, gerindo-se. Mas a incompetência dos presidentes de clubes não permite isso, se bem que agora os jovens começam a ganhar espaço, e talvez, a médio prazo, pensem no assunto.

Por enquanto, são dependentes da CBF e da Globo, pois, sem elas, dificilmente sobreviveriam. Há clubes devendo cotas à TV, até 2017, o que é vergonhoso. Vimos, recentemente, jogadores entrando na Justiça, contra o Santos, por mais de três meses de atrasos nos salários, uma condição desumana. E ainda tem gente vendendo uma realidade que não existe. Os clubes brasileiros, salvo raras exceções, como o Cruzeiro, estão de pires nas mãos, devendo até as cuecas.

Temos o melhor campeonato nacional do mundo, do qual falamos que é também o mais difícil, mas não sabemos usá-lo de forma positiva, haja vista o público e a renda. Nossa média é de pouco mais de 15 mil pagantes por partida, enquanto na Alemanha e na Inglaterra essa média está próxima de 60 mil pagantes por jogo. Vejam que diferença abissal. O refinanciamento das dívidas dos clubes seria o grande divisor de águas daqui para a frente, mas o veto presidencial acabou com o sonho dos clubes. Ninguém quer dar calote ou coisa parecida. Quer apenas pagar o que deve de uma maneira que não comprometa patrimônio. Por isso o Brasil vive na contramão da história. Nosso futebol ainda é a maior paixão dos brasileiros. Era uma forma de lazer barata, mas transformou-se em cara, com as novas arenas. Tem gente que vende ingresso a R$ 1 mil em caso de decisão. Isso é desumano com a população de baixa renda, e o que vemos nos campos hoje são camarotes, lotados de bebidas e bufês, com gente que de futebol não entende nada. Outro dia um amigo me contou que a esposa de um deles perguntou por que o árbitro não tocava na bola. Por isso o futebol brasileiro está no lugarzinho em que jamais deveria estar: na lama.

Ou os dirigentes repensam o futebol de forma séria, como empresa, ou vamos continuar a dar murro em ponta de faca, matando nosso único e verdadeiro lazer, que um dia levou dezenas de milhares de torcedores ao Mineirão (foto), ao Maracanã e ao Morumbi.

VALDIR BARBOSA
O presidente cruzeirense Gilvan de Pinho Tavares optou por deixar Valdir Barbosa, com 20 anos de clube, praticamente como o novo diretor de futebol. Mais do que merecido para um cara competente e muitas vezes campeão pelo clube. E a ideia deles é montar o Cruzeiro mais competitivo dos últimos tempos, para ganhar o tri da Libertadores.

MALUF
O Galo não fica atrás. A primeira providência do presidente, Daniel Nepomuceno, antes de assumir, foi manter toda a diretoria passada, incluindo Eduardo Maluf, um craque na arte de contratar. Por isso o Atlético tem vivido dias de glórias.

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