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COLUNA DO JAECI

Vamos copiar os pais do futebol?

Ao dividir a cota da TV em partes iguais, a Premier League proporciona maior equilíbrio. Os pequenos podem pelo menos almejar vaga nas copas europeias

postado em 12/02/2015 08:31 / atualizado em 12/02/2015 08:35

AFP
A Premier League, associação dos clubes que organiza o Campeonato Inglês, revelou seu novo contrato de venda dos direitos de transmissão: nada menos do que R$ 8,7 bilhões por temporada, fortuna rateada entre os 20 clubes da Primeira Divisão, em partes iguais. Na Inglaterra, ninguém quer matar os clubes chamados pequenos, que também fazem parte do espetáculo e ajudam a levar público aos estádios e dar audiência na TV.

Aí, os leitores podem me perguntar: os clubes campeões não têm vantagem financeira? Claro que sim: 50% do dinheiro da Sky e da BT, TVs que transmitem os jogos, são divididos entre os 20 participantes; 25% são repartidos de acordo com a classificação de cada um;.o campeão leva a maior fatia e o último colocado, a menor; os demais 25% são divididos de acordo com o número de partidas exibido na TV. Critério que privilegia as agremiações mais populares, como Manchester United, Arsenal, Chelsea e Liverpool.

Para que se tenha uma ideia, em 1992, ano de criação da Liga, a verba destinada aos clubes foi de 38 milhões de libras (cerca de R$ 166,3 milhões ao câmbio atual). Vejam o que um campeonato sério, de credibilidade e técnica pode render aos competidores. Hoje fala-se na cifra de 2 bilhões de libras por temporada, (cerca de R$ 8,7 bilhões), um avanço financeiro fabuloso, que explodiu mesmo na última década. Quem vê o Campeonato Inglês pela TV no Brasil vê jogos excelentes, em campos e estádios perfeitos, quase sempre lotados (foto). Não há brigas, o respeito entre torcedores é mútuo e os clubes vendem produtos em suas lojas, aumentando substancialmente o faturamento. Por questões culturais, o torcedor lá não compra produtos piratas, pois sabe que estará prejudicando seu clube.

Por que não conseguimos equilibrar nosso Campeonato Brasileiro, para muitos o melhor e mais difícil do mundo? Porque falta vontade política e os clubes estão praticamente quebrados. A TV dona dos direitos – menos por culpa própria do que pelo mercado – paga R$ 100 milhões a Corinthians e Flamengo, mas R$ 10 milhões ao América, por exemplo. Diferença abissal de R$ 90 milhões. Ou seja, o Coelho jamais será campeão, porque não terá como contratar jogadores do nível dos de rubro-negros e corintianos. Além disso, alguns clubes já tiveram antecipadas as cotas de TV de até 2017.

Na Inglaterra, ao dividir a cota da TV em partes iguais, a Premier League proporciona maior equilíbrio. Os pequenos podem até não ganhar a taça, mas almejar vaga nas copas europeias. O objetivo é manter cada um com time competitivo e belo estádio. O mesmo ocorre no basquete norte-americano. Os times da NBA recebem cotas iguais para contratações, com os menores tendo o direito de escolher antes os destaques saídos das universidades.

No Brasil, inúmeros clubes já foram extintos ou sobrevivem do nome, como os cariocas Bangu e Olaria. Os organizadores querem mais é fazer média com os grandes. Entendo bem a questão do mercado publicitário e sei que São Paulo tem a maior fatia, mas não custava nada se inspirar na Premier League, distribuir 50% da cota da TV igualmente para os 20 clubes, premiar os melhores com 25% e destinar os outros 25% aos que mais tiverem jogos exibidos – sem que a TV só queira mostrar Corinthians e Flamengo.

O futebol brasileiro precisa ser repensado em todos os aspectos. Não temos mais craques, arrecadação, público e serenidade nos belos estádios construídos para a Copa. Imitar o que dá certo é atitude inteligente. Além da TV, o futebol inglês é exemplo pelas ações contra a violência. Os hooligans eram um pesadelo para os ingleses há algumas décadas. Por meio de medidas radicais e eficientes, a polícia os conteve, mandando muitos para a cadeia, e liberou os estádios para as famílias e cidadãos do bem. Que tal começarmos agora?

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