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COLUNA DO JAECI

O ouro não pode esconder nossos problemas

'Vamos comemorar o ouro, mas com a visão de que nosso futebol ainda não se resgatou e, sim, nos deu uma alegria, momentânea'

postado em 22/08/2016 12:00

AFP

Rio de Janeiro – O Brasil ganhou o ouro olímpico. Acabou a obsessão e não falta mais nenhum título ao nosso futebol. Porém, não me venham os medalhistas de ouro e, principalmente, Neymar, dizer que a imprensa é cruel e que eles deram o troco em campo. Nada disso. Até enfrentarmos a Alemanha, não havíamos jogado contra nenhuma seleção forte. África do Sul, Iraque, Dinamarca, Colômbia e Honduras. E contra os alemães, tomamos três bolas na trave. Fizemos um ótimo primeiro tempo, e nada mais. Neymar jogou bem, mas foi notado mesmo pelo gol genial. Não foi aquela partida brilhante, como fazem os grandes craques. E vale lembrar que a Alemanha privilegiou os garotos, os jovens, sem trazer os medalhões dos 7 a 1. Nós, muito mais pela obsessão, convocamos os três com idade superior aos 23 anos, entre eles o próprio Neymar. A vitória é ótima, afinal, imprensa ou não, somos todos brasileiros. Sempre digo e escrevo que quando os jogadores entram em campo com a camisa amarela, independentemente de quem sejam, sou sempre Brasil. Mas isso não me impede de ver e criticar os erros. Nossa Seleção ganhou o ouro, mas não foi brilhante em nenhum momento.

Ninguém tem de “engolir ninguém”, como brincou Neymar ao referir-se à conquista. Se é que ele brincou mesmo. Estamos aquém do que desejamos, e hoje, quando a lona do circo olímpico for desmontada, vamos encarar a realidade nua e crua de uma Seleção Brasileira ameaçada de não ir ao Mundial pela primeira vez em sua história. Estamos em sexto lugar nas Eliminatórias, e teremos dois compromissos dificílimos contra Equador, em Quito, e Colômbia, em Manaus, daqui a duas semanas. Alguns jogadores olímpicos deverão ser aproveitados, mas não Gabriel Jesus e Gabigol, engodos, que nada fizeram nos Jogos Olímpicos. Mas são marrentos. Jesus vai para o Manchester City, onde garanto que não vai conseguir jogar. A negociação envolvendo Gabigol esfriou. Os europeus perceberam que ele não é isso tudo que imaginavam.

Deste time eu destaco Marquinhos, que já jogou pela Seleção principal. Douglas Santos, lateral regular, Neymar e Rafinha. Estes podem muito bem estar no grupo de Tite. Os outros precisam de mais estrada. Quero aqui destacar a participação dos torcedores no Maracanã, que empurraram o time o tempo todo. E no momento em que os bávaros estavam melhores, houve uma vaia ensurdecedora que esfriou ainda mais os já frios e pragmáticos alemães. Era tarde-noite para que tivéssemos um pouco de alegria no coração, tão maltratado por aqueles 7 a 1. E o jogador alemão que mostrou o placar da Copa do Mundo no Maracanã e se desculpou depois não fez nada demais. Faz parte do esporte a gozação saudável. Para vingarmos aquela derrota, só mesmo o dia em que vencermos a Alemanha em sua casa por 7 a 1 numa semifinal de Copa do Mundo. Tudo que se disser diferente disso é balela.

O que queriam os jogadores da Seleção Brasileira, depois de jogarem tão mal contra África do Sul e Iraque? Queriam que a imprensa os exaltasse? As críticas no campo profissional são sempre importantes. O problema é que há a turma da bajulação, e essa só prejudica o futebol brasileiro. Quis o destino que o desconhecido Rogério Micale fosse o único técnico brasileiro a ganhar o ouro. Não o conheço e não vi um grande trabalho, mas ganhou e vai ficar na história. Nem mesmo Zagallo, para mim dos melhores técnicos com os quais já trabalhei, teve esse privilégio. Micale teve o mérito de pôr Wallace e Luan no time titular. Isso deu equilíbrio e melhorou o desempenho nos jogos seguintes. Que ele e seus atletas comemorem muito este ouro, mas que tenham a consciência de que nada foi perfeito, de que atuamos mal nos dois primeiros jogos, e que enfrentamos garotos na final. Vamos comemorar o ouro, mas com a visão de que nosso futebol ainda não se resgatou e, sim, nos deu uma alegria, momentânea. Ficamos emocionados. Eu, particularmente, chorei pela conquista. Mas quando as lágrimas secaram, vi a triste realidade em que estamos. O Campeonato Brasileiro, com jogos sofríveis, é o maior reflexo do que digo. Mas que uma luz no fim do túnel surgiu, ah, isso surgiu.

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