Cruzeiro
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TIRO LIVRE

Mente sã, corpo são

Quem conseguir lidar melhor com o estresse e a pressão inerentes ao fim da temporada levará vantagem sobre os demais

postado em 31/10/2014 12:00 / atualizado em 31/10/2014 12:41

Kelen Cristina /Superesportes

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Nesta reta final de competições no Brasil, a cabeça dos jogadores pode ter participação mais importante no êxito das equipes do que imagina nossa vã filosofia – e não será apenas para marcar gols. O lado emocional é candidato a ditar o ritmo num momento em que as pernas e o fôlego já estão entrando em modo de reserva de energia, com os desfalques por lesões se tornando tão ameaçadores quanto os adversários. Esse desgaste é público, notório e, convenhamos, esperado. Desde a divulgação do calendário, cabe ao clube se planejar para conseguir cumprir a temporada da melhor maneira, do início ao fim. E se o objetivo é chegar a dezembro comemorando títulos, é essencial ter um grupo preparado para enfrentar toda essa maratona. É o propalado projeto, tão decantado no futebol.

Na prática, no entanto, não funciona bem assim. Até porque o treinador que inicia o ano nem sempre é o que termina. E geralmente tudo o que foi planejado em janeiro já cai por terra antes mesmo da Páscoa. Com a chegada de novos treinadores, jogadores são contratados e dispensados, a preparação física nunca é homogênea e conseguir extrair algo de bom dos atletas quando a bateria está acabando é desafio duplo.

É por essas e outras que o Cruzeiro deixa seus concorrentes no chinelo. O grupo que está aí é o mesmo desde 2013 – nesta temporada, foram feitas contratações pontuais, que não alteraram tanto a espinha dorsal do time. O treinador também é o mesmo. Por isso, metade do caminho foi percorrido de antemão. Não quer dizer que Marcelo Oliveira esteja livre dos problemas, pelo contrário. Futebol é esporte de contato e qualquer atividade, desde um simples treino, representa risco. O exemplo está em Willian, que fraturou a costela num choque com o santista Rildo, no confronto pela Copa do Brasil, e vai desfalcar a equipe justamente no momento decisivo. Mas aí entramos na seara do imponderável, e até para isso o clube precisa estar precavido, com número de jogadores (qualificados, sobretudo) suficiente para que o trabalho não seja comprometido.

Como o aspecto físico já entra naturalmente na conta, o diferencial pode ser, então, o lado emocional. Quem conseguir lidar melhor com o estresse e a pressão inerentes ao fim da temporada levará vantagem sobre os demais. Quem está na briga por títulos é tão cobrado quanto quem está na parte de baixo da classificação, lutando para não ser rebaixado. Psicologicamente, a maioria está no mesmo barco. Por isso, a autoconfiança, a determinação e a motivação acabam servindo como um gás extra para impulsionar as equipes.

Daí a acertada decisão do Cruzeiro de dar folga aos jogadores no meio de uma semana intercalada por partidas importantíssimas para selar seu destino na temporada. Os atletas ganharam merecido descanso depois do jogo contra o Santos, e só se reapresentam nesta tarde, na preparação para encarar o Botafogo, no domingo. São pouco mais de 24 horas para cuidar do corpo e da alma. Como diz o ditado, mente sã, corpo são.

Os mais críticos podem questionar o fato de a sequência de trabalho estar sendo quebrada. Mas quer saber? O que os jogadores tinham de apreender já apreenderam até aqui. Dificilmente algum técnico, a esta altura do campeonato (literalmente), vai tirar algum coelho da cartola, surpreender com alguma jogada inusitada ou um jogador diferente.

É hora de a cabeça compensar o peso das pernas. De os jogadores assimilarem a importância que as partidas finais terão não só para a torcida ou para o clube, mas também para suas carreiras. Em momentos assim que os desequilíbrios emocionais fazem muita gente jogar a toalha antecipadamente, ou deixar escapar entre os dedos o que parecia garantido. Na mesma proporção, um ambiente harmonioso, com o grupo mentalmente fortalecido para os confrontos decisivos, se torna combustível determinante para o sucesso nas quatro linhas.

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