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TIRO LIVRE

Um clássico na berlinda

Não adianta dirigentes de Atlético e Cruzeiro bradarem apenas quando seu clube é prejudicado

postado em 17/04/2015 12:00 / atualizado em 17/04/2015 08:33

EM DA PRESS
Houve um tempo em que Atlético x Cruzeiro era sinônimo de emoção. A simples marcação do duelo era a senha para que os torcedores aguardassem, ansiosamente, pelo reencontro com o maior rival. As cores alvinegras e celestes dominavam a capital mineira desde as primeiras horas do dia. O clima de apreensão pairava no ar. No interior e até em cidades de fora de Minas Gerais, o clássico era tema de todas as conversas. Longe do Brasil, torcedores se desdobravam para ter notícias do confronto, quando a internet ainda engatinhava. O Mineirão se dividia em dois e uma grande festa, com bandeiras agitadas, foguetes e fumaças, coloria o Gigante da Pampulha quando os times entravam em campo. Essa descrição pode parecer de um passado muito longínquo, mas não faz tanto tempo assim.

A rivalidade se manteve com o passar dos anos, mas as discussões pré-jogo mudaram de departamento. À medida que o mercantilismo foi ganhando terreno, os craques foram perdendo espaço. O primeiro sinal de que as coisas já não andavam muito bem foi a briga por ingressos na final da Copa do Brasil do ano passado. Um contrassenso, afinal, o momento mais glorioso do encontro entre os rivais, pela primeira vez na disputa por um título nacional, estava sendo manchado por uma queda de braço infantil e desnecessária.

Quando pensávamos que a lição havia sido aprendida – afinal, planejamento é a premissa de um futebol que se gaba de ser cada vez mais profissionalizado –, o clássico chega perto do fundo do poço. Os duelos pelas semifinais do Campeonato Mineiro ganharam contornos surreais. Trocas de acusações, jogo de empurra e um desdém desmedido com quem protagoniza o que um dia foi chamado de espetáculo.

Há uma razão para que exista o intervalo mínimo entre as partidas. Não por acaso, faz parte da regra do jogo. Preservar a saúde dos atletas não é mera gentileza, é obrigação de quem comanda o esporte. Mas, com tão fraca representatividade, os atletas acabam virando fantoches nas mãos de quem assina os cheques – e também nas de quem os recebe.

O clássico agoniza, e é preciso que quem está à frente do futebol mineiro enxergue isso. Não adianta dirigentes de Atlético e Cruzeiro bradarem apenas quando seu clube é prejudicado. Foi assim que chegamos ao caos atual. Com cada um cuidando apenas dos próprios interesses, ninguém sai ganhando. Essa consciência coletiva precisa se sobrepor à maneira ainda amadora como os cartolas têm tratado o principal duelo do estado.

Às vésperas do confronto que decidirá o finalista do Estadual, o Cruzeiro ainda briga, em instâncias jurídicas, para antecipar a partida. O Sindicado dos Atletas tenta intervir, mas também não demonstra competência para tal. Ingressos são vendidos dentro desse panorama de incerteza. E os clubes ainda conclamam a torcida a ir ao estádio apoiar o time, a aderir a programa de sócio-torcedor, etc. e tal.

Essa bagunça generalizada tem consequências, e os efeitos não são tão imediatos. Cada novo capítulo é um tiro no pé. Em vez de as resenhas pré-jogo serem sobre Lucas Pratto ou De Arrascaeta, discutimos quando a partida será disputada. Em vez de apontar os erros do outro, talvez fosse melhor cada dirigente fazer o mea culpa e discutir como melhorar o que está aí. Pois, enquanto eles se preocuparem apenas em jogar pra galera, nada será resolvido.

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