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TIRO LIVRE

De minuto a minuto

O Cruzeiro não se encolheu. Mesmo sem uma atuação de gala, encarou os argentinos, ignorando qualquer tipo de pressão externa

postado em 22/05/2015 12:00 / atualizado em 22/05/2015 08:30

AFP
O correr dos ponteiros do relógio de um torcedor não costuma seguir padrões previamente estabelecidos. Quando seu time está em campo, lutando para avançar no torneio mais cobiçado do continente, um minuto não significa, necessariamente, 60 segundos. A lógica é simples: se a sua equipe está perdendo, precisando reagir, o cronômetro avança numa velocidade desesperadora. Já no caso contrário, com seu time ganhando, cada minuto demora horas para passar. Ontem à noite, o cruzeirense talvez tenha vivido os 13 minutos mais longos de sua vida.

O empate por 0 a 0 com o River Plate, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires, já estava de bom tamanho. Nem tanto pela produtividade dos jogadores, já que, com desempenho levemente superior, a Raposa merecia mesmo melhor sorte. Mas atuar na capital argentina é desafiador para qualquer um, especialmente depois do clima de selvageria no superclássico entre o Millonarios e o Boca Juniors – o primeiro duelo, pelas oitavas de final, foi somente pancadaria em campo; o segundo, durou apenas 45 minutos, por causa do comportamento deplorável de torcedores xeneizes, que atiraram gás de pimenta nos atletas do arquirrival, no túnel de acesso ao gramado da Bombonera.

Por toda a expectativa gerada pelo duelo de ontem, considerado o mais equilibrado das quartas de final por reunir dois times de tradição equivalente no cenário sul-americano, esperava-se que o Cruzeiro encontrasse muito mais dificuldades no Monumental. Pois o River não bateu tanto quanto era previsto (o que é um bom sinal), nem tampouco exigiu grandes defesas do goleiro Fábio, que saiu duas vezes nos pés de Teo Gutiérrez, e só. A fragilidade demonstrada pelos donos da casa não chega a ser grande surpresa, e a prova está na campanha da equipe nesta edição da Libertadores: apenas duas vitórias em sete partidas, se considerarmos os confrontos que tiveram bola rolando por pelo menos 90 minutos.

O fato é que o Cruzeiro não se encolheu. Mesmo sem uma atuação de gala, encarou os argentinos, ignorando qualquer tipo de pressão externa e confirmando seu bom retrospecto no duelo. Por um capricho do futebol, o gol celeste não saiu antes, aos 18min da etapa final, quando Vangione tirou, em cima da linha – literalmente –, bola chutada por Willian (foto). O torcedor teve de esperar mais 18 minutos para soltar o grito, e o fez com gosto, quando, aos 36, a bola procurou Marquinhos, que estava livre na área e nem precisou de muito trabalho para balançar a rede.

A partir daí, os cruzeirenses dividiram as atenções do jogo com o relógio: olho no campo, olho nos ponteiros. Desviando com o pensamento as finalizações dos argentinos (missão nem tão difícil assim, diante da imprecisão deles) e torcendo para o árbitro apitar logo o fim da partida. Coração acelerado cada vez que o River passava pelo meio do campo. A linha tênue que oscilava entre a glória de uma vitória fora de casa e a tensão pelo risco de um revertério no apagar das luzes.

O Cruzeiro não apenas resistiu. Não foi só uma prova de sobrevivência. Mais do que isso, a Raposa mostrou valentia e colheu os frutos. Foi a única equipe visitante a não perder o jogo de ida nas quartas de final. Com isso, leva para casa a vantagem do empate, na quarta-feira, para voltar a ser semifinalista da Libertadores, sabor que não sente desde 2009, quando avançou à decisão. Por mais 90 minutos, o cruzeirense estará de olho no relógio, torcendo para que eles sejam, mais uma vez, aliados.

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