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TIRO LIVRE

O tal bilhete azul

O retrospecto mostra que o treinador não tem o hábito de tomar a iniciativa de sair dos clubes. Muito antes pelo contrário - nos últimos 10 anos, foi "saído" de sete das nove equipes que comandou

postado em 28/08/2015 12:00 / atualizado em 28/08/2015 17:22

RODRIGO CLEMENTE / EM DA PRESS
Que o clima está pesado pelos lados do Cruzeiro, não há como negar. Time perdido em campo, segurança reforçada na sede administrativa, reunião do presidente com jogadores e comissão técnica, promessa de mais um protesto da torcida amanhã, na Toca da Raposa II. De antemão, é bom avisar a esses torcedores que vão ao CT celeste para não esperarem que o técnico Vanderlei Luxemburgo atenda aos pedidos de adeus e peça o boné. O retrospecto mostra que o treinador não tem o hábito de tomar a iniciativa de sair dos clubes. Muito antes pelo contrário – nos últimos 10 anos, ele foi “saído” de sete das nove equipes que treinou.

Essa linha do tempo começa em 2005, com a despedida do Real Madrid, onde ele chegou para comandar um grupo galático, mas não conseguiu os resultados esperados por Florentino Pérez e foi demitido um ano depois. De volta ao Brasil, Luxa buscou arrego no Santos, onde havia sido campeão brasileiro em 2004. Passou duas temporadas (2006 e 2007), conquistou um título paulista e, a 18 dias do encerramento do vínculo, anunciou que não renovaria, alegando não ter tido a aprovação da diretoria para a implementação de seu projeto para os dois anos seguintes.

Ele acabou indo parar no Palmeiras, onde ficou de 2008 até meados de 2009. Em junho, anunciou, via Twitter, que havia sido demitido por “discordar das atitudes de Keirrison”. Luxemburgo não gostou de não ter sido comunicado pelo jogador de que faltaria a um treino por causa das negociações com o Barcelona. Ainda avisou que, caso a transação não fosse concretizada, Keirrison não mais atuaria sob seu comando. A diretoria considerou a atitude quebra de hierarquia.

O desemprego durou pouco, já que ele retornou à Vila Belmiro. No Peixe, no entanto, desagradou a parte da torcida e à crítica esportiva ao deixar Neymar no banco, optando por escalar Felipe Azevedo. Na época, Luxa afirmou que temia queimar o processo de amadurecimento da joia santista, a quem chamava de Filé de Borboleta. Deixou o clube no fim da temporada por motivos políticos – havia apoiado a candidatura de Marcelo Teixeira e afirmado que não trabalharia com a oposição, encabeçada por Luís Álvaro, que acabou vencendo a eleição e também descartou a possibilidade de manter o técnico.

Em 9 dezembro de 2009, o treinador foi apresentado no Atlético, fechando contrato de dois anos. Ganhou o Mineiro de 2010, e só. Foi demitido em setembro, logo após uma goleada por 5 a 1 para o Fluminense, deixando o Galo na zona de rebaixamento do Brasileiro. Um mês depois, apareceu no Flamengo, também assinando vínculo por duas temporadas, com a missão de livrar o rubro-negro da queda para a Série B. Alcançou a meta e, como prêmio, teve o grupo reforçado para 2011, terminando o Brasileiro em quarto lugar e garantindo uma vaga na pré-Libertadores. A lua de mel durou até fevereiro de 2012, quando foi demitido por desentendimento com Michel Levy, vice-presidente de finanças (por ficar ao lado dos jogadores que cobravam salários atrasados), e Ronaldinho Gaúcho – por desaprovar a declaração do craque de que não entraria em campo porque havia sete meses que parte de seu salário não era paga.

Novamente, Luxa mostrou ser um nome forte no mercado e não demorou para encontrar uma morada. Ficou um ano e quatro meses no Grêmio, demitido por causa de desgastes na relação com a diretoria, segundo o então presidente Fábio Koff, que também alegou “economia interna”. Em julho de 2013, assumiu o Fluminense, em passagem que terminou de forma conturbada, com os dirigentes assegurando que Luxemburgo estava prestigiado, mesmo com muita revolta da torcida e até invasão da sede. Na ocasião, ele disse que salvar o tricolor do rebaixamento seria a conquista mais importante de sua carreira e que só sairia se fosse mandado embora. Dito e feito – e Luxa afirmando ter sido surpreendido.

Em julho do ano passado, ele acertou o retorno ao Flamengo, outra vez com a missão de tirar o rubro-negro da “zona da confusão”. De novo, conseguiu, levando a equipe ao 10° lugar. Após a terceira rodada do Brasileiro deste ano, no entanto, com o time conquistando apenas um ponto, foi dispensado. Detalhe: a multa rescisória do treinador, que tinha contrato até dezembro, girava em torno de R$ 400 mil.

Depois de apenas 18 jogos e sem muita expectativa de melhora da Raposa, a torcida do Cruzeiro pede que Gilvan de Pinho Tavares (foto) dê o bilhete azul para Luxa. A cor, nesse caso, não poderia ser mais apropriada.

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