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TIRO LIVRE

De volta a janeiro

Em outras palavras, o ano estará começando novamente para a equipe azul, em maio

postado em 29/04/2016 12:00 / atualizado em 29/04/2016 11:58

EM DA PRESS
Façamos um exercício de imaginação. Você trabalhando em seu escritório durante 14 dias sem chefe. Ou, quem é estudante, indo às aulas por duas semanas sem professor. A princípio, a sensação deve ser de liberdade, até um certo alívio. Ninguém para apontar diretrizes, ditar o ritmo, determinar o que está certo ou errado. Depois, vem um desconforto, justamente pela ausência de alguém para indicar o rumo a seguir. Por fim, a ansiedade gerada por toda essa incerteza. É mais ou menos assim que devem estar se sentindo os jogadores do Cruzeiro. Hoje, completam-se cinco dias da demissão do técnico Deivid (foto) e, pelo discurso da diretoria celeste, mais nove podem ser acrescentados a essa conta até a confirmação do novo comandante.

O incômodo que esse intervalo provoca nos atletas cruzeirenses já está claro, não é preciso nem ler nas entrelinhas das entrevistas que concedem. A imagem de cada um deles na Toca da Raposa II retrata bem esse cenário. E tal apreensão nada tem a ver com o assistente técnico Geraldo Delamore, que tem dirigido as atividades. Até ele deve estar ansioso pelo desfecho.

A indefinição sobre quem vem – e quando vem – pode até ser estratégica para os cartolas, que dão sinal evidente de que vão aguardar o fim dos estaduais, em 8 de maio, para bater o martelo. Mas essa aparente tranquilidade do clube em definir o novo nome pode acabar sendo traiçoeira.

Por mais que as circunstâncias sejam favoráveis, pois o próximo jogo será apenas na quinta-feira e contra um adversário de menor expressão, o Campinense, o Cruzeiro está fazendo uma pausa perigosa. O Campeonato Brasileiro está batendo à porta e o clube não tem um comandante definido, um estilo de jogo definido e nem um grupo definido. Obviamente, quem chegar vai pedir contratações – ou alguém duvida disso? Tudo será reformatado na Toca. E recomeços pedem tempo para adaptação. Em outras palavras, o ano estará começando novamente para a equipe azul, em pleno mês de maio.

Nada disso surpreende quem acompanha os bastidores celestes desde a escolha de Deivid, em dezembro. Na ocasião, já circulava a tese de que o auxiliar fora efetivado por questões mais econômicas do que meramente técnicas. Seu trabalho, de fato, agradava à cúpula cruzeirense e a opção caseira ia ao encontro de uma receita mais exígua do início de temporada e um calendário sem grandes desafios: fora da Copa Libertadores, o Cruzeiro tinha o Campeonato Mineiro e a Primeira Liga pela frente.

Implicitamente, o trabalho de Deivid já vinha com prazo de validade. Com a permanência do ex-atacante pelo menos até abril, o clube ganhava tempo para observar o mercado e montar caixa para uma aposta mais cara, de um treinador de renome, o que não foi possível fazer logo após a saída de Mano Menezes. Se Deivid emplacasse, seria a cereja do bolo – a descoberta do bom e barato. Essa possibilidade era encarada de forma mais descrente, porém existia. A tacada certeira, no entanto, não veio. E o destino seguiu o enredo mais provável.

Eis que os cinco primeiros meses de 2016 transcorreram com o Cruzeiro vivendo de altos e baixos, contratações que (ainda) não engrenaram e um time que (ainda) não convencia. Nova história terá de ser escrita agora, com todo o pacote atrelado a qualquer recomeço. Não só o futuro, como o presente é incerto para os lados da Toca. Quem estará no banco azul em 14 de maio, na estreia do time contra o Coritiba, no Couto Pereira, ainda é uma grande interrogação. Mas são perguntas que estavam prontas há muito tempo. Faltava apenas o bilhete azul para Deivid para que fossem desencadeadas. Aguardemos o ponto final.

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