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TIRO LIVRE

Na gangorra do futebol

Quem analisa só resultado acaba pecando por fazer julgamentos míopes, rasos, bem ao estilo 'venceu está tudo ótimo, perdeu está tudo péssimo'

postado em 01/07/2016 12:00 / atualizado em 01/07/2016 08:33

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
“Técnico de futebol tem de estar sempre com a mala pronta”. Essa frase, dita pelo treinador cruzeirense Paulo Bento há 11 dias, ao comentar a pressão pós-derrota para o Grêmio, em Porto Alegre, resume bem a instabilidade da vida de quem trabalha com o esporte bretão, comandando não só o destino das equipes mas também o sonho de milhares de torcedores. Desde que desembarcou em Confins, em 15 de maio, para iniciar sua jornada na Toca, o português ainda não conseguiu uma sequência que lhe garantisse tranquilidade suficiente para retirar as roupas da mala e guardá-las no armário. Como numa montanha-russa, os altos e baixos têm sido tão constantes que, por precaução, ele deve ter mantido a bagagem quase intacta, reservando apenas uma muda de roupa para o dia a dia e a camisa social azul que sempre usa nos jogos da Raposa.

Essa irregularidade do Cruzeiro deveria ser encarada por todos – torcida, dirigentes e comentaristas – como natural. Mais do que consequência de um início de trabalho, é resultado do começo da caminhada de um treinador estrangeiro, que precisa correr contra o tempo para se adaptar a tudo e a todos no Brasil, a partir do zero. O que já seria difícil para qualquer técnico, se torna ainda mais desafiante para o gringo. E ele nunca usou isso como desculpa.

O que mais tem me agradado em Paulo Bento é o grau de realismo com que ele analisa o futebol e, sobretudo, o desempenho de sua equipe. Sem acreditar nos afagos decorrentes das vitórias, consciente de que o equilíbrio ainda está distante, e, pelo mesmo motivo, sem se abalar com as críticas nas derrotas. Não foram poucos os elogios que o português ouviu depois de cada triunfo, especialmente os 2 a 1 sobre o Palmeiras. Também não foram poucas as críticas após cada derrota, como a última, diante da Chapecoense (3 a 2). Nas duas situações, quando questionado pela imprensa, mostrou a mesma serenidade.

E precisa ser assim mesmo. Neste momento, os resultados são importantes, mas precisam ser atrelados à atuação do time. Muitas vezes, vitórias acabam por esconder erros e fragilidades que ficam evidenciados apenas nas derrotas. E aí, quem analisa só resultado acaba pecando por fazer julgamentos míopes, rasos, bem ao estilo ‘venceu está tudo ótimo, perdeu está tudo péssimo’.

Levado pela paixão, o próprio torcedor é o primeiro a propagar esse tipo de discurso. No Cruzeiro há dois exemplos recentes dessa bipolaridade. O armador uruguaio De Arrascaeta foi execrado por perder o pênalti diante do Grêmio, na derrota por 2 a 0, pela nona rodada do Campeonato Brasileiro. Na partida seguinte, goleada por 4 a 0 sobre a Ponte Preta, em Campinas, foi endeusado por conduzir com maestria o time e balançar as redes duas vezes.

O atacante William, por sua vez, já foi e voltou do inferno várias vezes nestas 12 rodadas do Nacional. Considerado um dos vilões da derrota por 1 a 0 para o São Paulo, em 5 de junho, recebeu a redenção 20 dias depois, ao marcar os gols que garantiram a vitória de virada sobre o Palmeiras. Ontem, voltou a ser crucificado nas redes sociais, pela atuação contra a Chapecoense.

O goleiro Fábio é outro que volta e meia deixa a condição de unanimidade perante a torcida. É só sofrer um gol de falta, não importa a qualidade do cobrador, que as críticas para seu posicionamento nesse tipo de jogada vêm à tona.

São apenas 11 jogos de Paulo Bento à frente do Cruzeiro, pouco mais de um mês de trabalho. Ele ainda busca a formação ideal, tendo de conviver com jogadores entrando e saindo do DM e a chegada de reforços, com peso de titulares. Tudo ainda é muito recente para veredictos. Para o bem ou para o mal.

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