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NA TOCA

Bola, um idioma mundial

Grupo de jovens de cinco países, a maioria do Cazaquistão, transforma a Toca I em laboratório esportivo. Garotos foram selecionados em ação de intercâmbio

postado em 29/11/2015 11:00 / atualizado em 29/11/2015 13:02

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Em português se fala sonho; em russo, mechtat; em inglês, dream; e em croata, san. O dia a dia da Toca da Raposa I é a prova de que não importa o idioma quando existe uma linguagem universal: o futebol. Com a bola nos pés, garotos de várias partes do mundo tentam escrever uma nova história, no centro de treinamento do Cruzeiro. Longe da família e de amigos, eles buscam essa nova trajetória em torno do desejo comum de brilhar nos gramados.

Essa esperança motiva cerca de 50 garotos, que moram, estudam e aprendem futebol graças ao programa celeste de intercâmbio de atletas estrangeiros, que reúne hoje 46 jovens do Cazaquistão, quatro canadenses, além de jogadores de Angola, Croácia e China. Eles são escolhidos pelo clube em viagens e clínicas ao redor do mundo e passam temporadas de três meses desenvolvendo a técnica com uma equipe multidisciplinar exclusiva em Belo Horizonte.

No caso dos cazaques, existe uma parceria entre o Cruzeiro e o governo do país asiático, que arca com todos os custos dos atletas, com o objetivo de aprimorar essa modalidade esportiva no país. “A gente começou com 26 jogadores, em março, e vamos aumentando e fazendo trocas. Se o atleta não está apresentando a evolução esperada, ele cede lugar a outro. Serão três anos de intercâmbio. O futebol lá está crescendo e o governo tem interesse de evoluir o futebol local”, explicou o coordenador de negócios internacionais da Raposa, Adriano Andrade.

Segundo maior país da antiga União Soviética, com cerca de 15 milhões de habitantes, o Cazaquistão tem pouca tradição nos gramados mundiais. Desde a independência, em 1992, até 2002 (quando se filiou à Uefa), a seleção local disputou sem sucesso as Eliminatórias Asiáticas para a Copa do Mundo. Entre seus times, o maior feito é do Astana, que nesta temporada se tornou o primeiro cazaque a disputar a Liga dos Campeões – é o lanterna do Grupo B, sem nenhuma vitória em cinco jogos.

“O futebol lá não é muito bom como aqui”, reconhece o goleiro Merey Mauyz, de 15 anos, arranhando o português com o qual se familiariza em aulas diárias no CT. “Todos nós estamos aprendendo muito aqui, física e tecnicamente. Os jogadores aqui são bons”, afirma o dono da camisa 1, do espanhol Casillas e do cruzeirense Fábio, de quem guarda com carinho uma foto com autógrafo.

Se não têm exatamente tanta técnica, eles surpreenderam positivamente na entrega nos trabalhos de preparação em campo, garante o treinador Leonardo Cherede. “A gente aplica os mesmos métodos com a categoria infantil do Cruzeiro. O que diferencia é a quantidade de informação, porque eles não tiveram vivência. A diferença cultural é a concentração para treinamentos e obediência técnica. Eles são muito educados e concentrados no treino”, garante.



UMA BABEL

Os treinos na Toca I são uma verdadeira Babel. Além dos cazaques, atletas avulsos de várias partes do mundo passam pelo gramado ao longo do ano, vindos de países visitados pela equipe técnica do Cruzeiro, que seleciona aqueles considerados mais talentosos. Segundo o departamento, porém, a intenção não é captar jogadores para possível aproveitamento no time e, sim, fortalecer a presença do clube no exterior.

“O treinador daqui me viu treinar em Portugal e me trouxe”, afirma o angolano João Bagorro, de 16 anos, que sonha permanecer e jogar no Brasil ou na Europa. “Não quero voltar para Angola. O futebol lá não é muito evoluído. Aqui, aprendi a marcar e a pensar mais”, detalha o atacante.

Filho de português, o canadense Anderson Silva também tem aproveitado a oportunidade. “No Canadá, os treinos são mais ou menos, por causa do frio. Aqui, o futebol é mais habilidoso, rápido. Campo melhor. Lá tem neve, treinamos quatro vezes por semana. Aqui, é todo dia”, anima-se. “Os brasileiros são mais habilidosos, e a estrutura que temos aqui não temos em nenhum outro lugar”, afirma o lateral croata Patrick Spaleta.

Para os cazaques, que voltam para o país natal em dezembro e retornam ao Brasil em março, o primeiro teste de fato será no início do mês que vem, quando formarão uma seleção para disputar a BH Cup, torneio sub-15, contra adversários brasileiros e do exterior. “Estamos preparados. Queremos fazer bonito para os brasileiros”, garante o confiante goleiro Merey.

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