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Com Gilvan, contratação de técnico nunca seguiu linha de trabalho e gerou rupturas na filosofia

Presidente contratou treinadores de perfis variados desde 2012, o que, muitas vezes, prejudicou a evolução de um estilo de jogo; clube, agora, busca novo técnico

postado em 03/05/2016 13:40 / atualizado em 04/05/2016 09:13

Rodrigo Clemente/EM/D.A. Press
O Cruzeiro está no mercado em busca de um treinador para substituir Devid, demitido há uma semana. Sob o comando do atual presidente Gilvan de Pinho Tavares, a contratação de um comandante nunca seguiu uma linha de trabalho. Cada mudança, uma ruptura na filosofia de jogo, o que, muitas vezes, prejudicou a evolução da equipe. No posto máximo da Raposa desde 2012, Gilvan já trabalhou com seis treinadores: Vagner Mancini, Celso Roth, Marcelo Oliveira, Vanderlei Luxemburgo, Mano Menezes e Deivid.

Quando assumiu, Gilvan herdou o técnico Vagner Mancini da direção Zezé Perrella. Logo no começo de 2012, as eliminações para América e Atlético-PR no Campeonato Mineiro e na Copa do Brasil, respectivamente, culminaram na demissão de Mancini. Para repor a saída, o presidente contratou Celso Roth.

Mancini e Roth podem ser considerados de ‘escolas’ opostas de futebol. O primeiro pregava um futebol mais ofensivo. Apesar das dificuldades que enfrentou, ele, por exemplo, dirigiu o Cruzeiro na goleada por 6 a 1 contra o Atlético, na Arena do Jacaré, no Brasileiro de 2011. Por sua vez, Roth sempre foi conhecido por ser um treinador 'linha dura' e que privilegia a defesa em detrimento da força ofensiva. No dia a dia, era autoritário, diferentemente de Mancini.

Um fato curioso é que antes de acertar com Roth, o presidente procurou Adilson Batista. Ele preferiu cumprir contrato com o Atlético-GO, equipe que tinha acabado de assumir, e nunca mais foi procurado pela diretoria estrelada.

Sem os resultados esperados, Roth não teve o vínculo prorrogado. Na temporada’2013, Gilvan optou por apostar em Marcelo Oliveira, que estava em ascensão na carreira. Era um novo rompimento na linha do trabalho do Cruzeiro. Mas, desta vez, o resultado foi positivo. Marcelo e Roth pensam futebol de forma distinta. Integrante da nova safra de treinadores, Marcelo é adepto de times leves e ofensivos. Ele montou o Cruzeiro à imagem e semelhança da história do próprio clube. Equipe agressiva e que gostava da bola. Com a Raposa, o técnico foi bicampeão brasileiro, estabelecendo novos recordes.

Rodrigo Clemente/EM/D.A. Press
Marcelo deixou o Cruzeiro após maus resultados na Copa Libertadores de 2015. Pesou também o desgastado relacionamento com Gilvan.

Para substituir Marcelo, Gilvan se voltou para o passado. Em junho de 2015, contratou Vanderlei Luxemburgo, que já dava mostras de estar superado. Os últimos trabalhos dele não empolgavam. Foi contestado em Flamengo, Fluminense e Grêmio. Na apresentação do treinador, o presidente relembrou o longínquo ano de 2003, quando Luxa foi o comandante da Tríplice Coroa. “O nome de Luxemburgo foi consenso na diretoria. Já teve uma passagem brilhante pelo Cruzeiro e é um treinador extremamente vitorioso no futebol brasileiro. Ninguém melhor do que ele para colocar o time nos trilhos”, disse Gilvan.

Luxemburgo não era o mesmo. Mudou até no discurso. Diante de cada derrota do Cruzeiro – conseguiu apenas seis vitórias em 19 jogos -, para quem poderia esperar indignação de alguém tão habituado a levantar troféus, dava mostras de aceitação. Era o oposto de Marcelo até nos treinamentos. Muitos deles eram dirigidos pelo auxiliar Deivid, que, de fato, conhecia mais o time que Luxa. Em agosto de 2015, Luxemburgo não resistiu ao trabalho inconsistente.

Rodrigo Clemente/EM/D.A. Press
Mano Menezes foi o escolhido para sucedê-lo. Treinador moderno e especialista tático, Mano ajeitou o Cruzeiro sem precisar sequer de um reforço. Reorganizou a equipe com um novo esquema: o time passou a jogar com três volantes, e, se antes brigava contra o rebaixamento, passou a lutar por uma vaga na Copa Libertadores. O sonhado posto no torneio internacional não veio. Mas o torcedor vislumbrava 2016 de títulos.

A temporada, contudo, começou de forma inesperada. Deivid assumiu o comando do Cruzeiro após Mano Menezes aceitar proposta milionária do futebol chinês. Com características distintas de seu antecessor, Deivid propôs um novo Cruzeiro. Ele desprezou completamente o legado de Mano, iniciando a temporada com um time com quatro atacantes, como ele mesmo disse, antes da estreia celeste na temporada contra o Criciúma, pela Primeira Liga. O time foi escalado com Arrascaeta, Marcos Vinícius, Alisson e Willian. Deivid não conseguiu encontrar um norte e caiu.

Vale ressaltar que outros clubes do Brasil também não apresentam continuidade na filosofia de futebol.

Mudanças na direção de futebol

As mudanças na direção de futebol também não seguem lógica alguma. Gilvan herdou Dimas Fonseca de Zezé Perrella. A rejeição da torcida era tanta ao antigo braço direito de Zezé que o próprio Dimas se desligou do clube após a queda do time na Copa do Brasil para o Atlético-PR, em 2012.

O substituto foi um jovem com perfil arrojado e cruzeirense de arquibancada. Alexandre Mattos é considerado um dos acertos da administração Gilvan. Ambicioso, ele foi um dos líderes da ascensão do time bicampeão brasileiro.

No fim de 2014, Mattos resolve sair. Conhecido por ser apegado às suas ideias, Gilvan não concordava com algumas mudanças propostas pelo diretor. O novo nome para a diretoria de futebol foi uma indicação de Luxemburgo, então técnico celeste. Experiente, Isaísas Tinoco começou no futebol na década de 1970. Antes de assumir, contudo, estava esquecido na base do Vasco da Gama. Seus últimos trabalhos de relevância foram na década de 1990. No Cruzeiro, ele não foi feliz. Certa vez afirmou: “Dizem que a torcida do Cruzeiro não é a maior de Minas”.

Com a saída de Tinoco, Valdir Barbosa e Benecy Queiróz, fuincionários de longa data do clube, dividiram a função, e a dupla também não foi bem. O primeiro acabou deixando a Toca e se tranferindo para o Coritiba, onde ainda está, enquanto o segundo se envolveu em uma polêmica, depois de dizer que havia subornado um árbitro, e acabou suspenso. O atual diretor de futebol do Cruzeiro é jovem, acadêmico e bem relacionado. Thiago Scuro, de 33 anos, foi diretor executivo do Red Bull Brasil e é formado em Ciência do Esporte na Universidade Estadual de Londrina. Seu trabalho, contudo, já vem enfrentando certa resistência da torcida.



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