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Mano rejeita 'time dos sonhos', indica função de reforço e revela ideias para o Cruzeiro

Com time reforçado, técnico pretende alterar conceitos em relação a 2016

25/01/2017 09:46 / atualizado em 25/01/2017 11:01
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Marcação alta, time que propõe e laterais liberados para atacar: as mudanças táticas do Cruzeiro 2017
foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press

Marcação alta, time que propõe e laterais liberados para atacar: as mudanças táticas do Cruzeiro 2017

Mano Menezes mantém os pés no chão. Os reforços contratados o empolgam. As possibilidades de iniciar o ano no Cruzeiro e brigar por títulos, também. Nomes importantes fortaleceram o elenco. Do meio para a frente, apenas quatro vagas são disputadas por diversos atletas. A “fartura”, no entanto, não tira o foco do treinador. Na Toca da Raposa II, a palavra de ordem é equilíbrio.

“Para você montar taticamente uma equipe, para ela ter a bola e os grandes jogadores jogarem, alguém tem que marcar, né? Alguém tem que tomar a bola do adversário. O Cruzeiro vai ser uma equipe equilibrada”, disse o comandante em conversa com o Superesportes. Em questão estava a possibilidade de escalar o ‘time dos sonhos’ de parte da torcida, que conta com Robinho, Arrascaeta, Thiago Neves, Rafael Sobis e Ramón Ábila.

Mudanças táticas

Mano foi além das hipóteses. O treinador pretende modificar a forma de o Cruzeiro jogar em 2017. Na temporada passada, a luta contra o rebaixamento o obrigou a tomar decisões emergenciais - e que até contrastavam com a maneira histórica de o clube atuar.

Com menos posse de bola em relação à ‘Era Paulo Bento’ e um time mais “fechado”, a equipe escapou do Z4. Para 2017, as coisas vão mudar.

“Eu penso que uma equipe como o Cruzeiro deve propor jogo. E a gente deve buscar isso. Nós fomos buscar jogadores que agregassem qualidade ao grupo”, disse.

Mas o que muda, afinal, Mano?

1. Marcação alta

Sob o comando de Paulo Bento, o Cruzeiro iniciava o momento defensivo já no campo adversário. No entanto, a marcação pressão, característica do trabalho do português, foi utilizada com menos frequência por Mano. Tudo isso para reduzir espaços e riscos. Em 2017, no entanto, as “linhas altas” devem voltar - do goleiro ao centroavante.

“O futebol moderno exige que você jogue com marcação alta. Mas não basta boa intenção para isso. Porque exige uma compactação muito grande da equipe, uma coordenação técnica maior. Se o adversário escapar da primeira linha de pressão e a segunda linha não estiver muito próxima, vai estourar na tua última linha defensiva. O goleiro é um líbero. Assim a gente enxerga no mundo todo e é assim que tem que ser”, explicou.

Foi justamente pensando na nova-velha forma de marcar que Mano Menezes avaliou positivamente a contratação de Kunty Caicedo.

“Trouxemos um zagueiro que tem boa saída de bola, que está acostumado a jogar com linha alta, que tem característica para suportar o jogo no um contra um que é a velocidade, combate forte”, analisa.

Mano concedeu entrevista ao Superesportes na festa de lançamento do Campeonato Mineiro
foto: Marcos Vieira/EM/D.A. Press

Mano concedeu entrevista ao Superesportes na festa de lançamento do Campeonato Mineiro

2. Time que propõe

O Cruzeiro de Mano Menezes em 2017 gostará mais da bola do que o de 2016. A ideia do treinador é colocar em prática uma ideia de jogo em que o mote é propor e criar chances de gol.

“A equipe deste ano vai construir melhor. E nós fomos buscar jogadores capazes de fazer isso”, diz.

Entre os reforços citados por Mano que podem ajudar na construção de jogadas estão os meio-campistas Thiago Neves e Hudson.

“Fomos buscar Hudson, que tem qualidade de marcação e força de chegada lá na frente. Fomos buscar Thiago Neves, que faz o enlace entre o meio de campo e o ataque. É um jogador com característica que a gente não tinha”, diz.

3. Laterais liberados, volantes na retaguarda

Outra das ideias de Mano é dar mais liberdade aos laterais. Peças com funções mais defensivas no Cruzeiro do fim de 2016, os alas terão mais espaço para atacar. Tudo isso em função da ideia de se formar uma equipe propositiva.

“A gente foi buscar um lateral [Diogo Barbosa] que tem bom acabamento de jogada. Se você quer propor jogo, você vai chegar com os seus laterais muitas vezes no fundo. Mas não adianta chegar no fundo e não acontecer nada. A gente tem o retorno de Mayke, que eu penso que pela direita também pode fazer isso”, afirma.

Com isso, a tendência é que os volantes ganhem funções defensivas mais bem definidas no sentido de cobrir as subidas dos laterais. Um time que propõe por meio da amplitude dos alas e se defende desde o campo ofensivo.

Novas contratações?

Apesar de o presidente Gilvan de Pinho Tavares ter afirmado que o Cruzeiro havia encerrado o ciclo de contratações para a primeira parte da temporada, Mano Menezes admite a possibilidade da chegada de novos atletas.

“A gente está bem servido para iniciar a temporada. Talvez apareça mais um jogador, dois. A gente nunca está fechado para isso. Guardamos o dinheiro, economizamos. Muito próximo deste momento ano passado, o Cruzeiro já tinha contratado 12 jogadores. Até agora, contratamos quatro. Penso que é assim que se faz”, diz o treinador.

A grande expectativa, porém, é pela estreia de um jogador que já está no elenco. Bem fisicamente, Thiago Neves precisa apenas resolver problemas relacionados à documentação para jogar. O debute com a camisa azul, no entanto, não deve ocorrer neste domingo contra o Villa Nova, na estreia do Campeonato Mineiro.

“Não existe situação legal hoje para o Thiago estrear contra o Villa Nova. E é bem provável que ela não exista. Assim que tiver condição legal, ele vai estrear. Porque a condição técnica dele é muito boa. E a condição física dele nos surpreendeu”, explica Mano.

Mano quebrou a cabeça para organizar o Cruzeiro na segunda metade da temporada de 2016
foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press

Mano quebrou a cabeça para organizar o Cruzeiro na segunda metade da temporada de 2016

Mano Menezes na íntegra

Mano, há a possibilidade de escalar Robinho, Arrascaeta, Thiago Neves, Sobis e Ábila juntos desde o início?

“É um time de torcedor. Torcedor geralmente escolhe aqueles que têm trajetória mais significativa. Mas às vezes na prática as coisas não funcionam dessa forma. São todos grandes jogadores. Mas para você montar taticamente uma equipe, para ela ter a bola e esses grandes jogadores jogarem, alguém tem que marcar, né? Alguém tem que tomar a bola do adversário. E é aí que reside o problema na montagem de uma equipe. Então o Cruzeiro vai ser uma equipe equilibrada, que tem qualidade para construir jogada. A equipe deste ano vai construir melhor. E nós fomos buscar jogadores capazes de fazer isso. Mas não pode ser uma equipe em que cada momento em que o adversário tem a bola, o torcedor toma um susto na arquibancada. Isso não termina bem. E eu estou aqui para construir uma equipe que dê segurança ao torcedor do Cruzeiro. Que ele olhe para o campo e enxergue a possibilidade de conquistas, que nós precisamos retomar. Todos vão jogar. Ainda não temos uma equipe titular. Eu diria que vamos passar fevereiro construindo essa equipe titular. Até porque nós temos dez jogos num curto espaço de tempo. E nesses dez jogos nós vamos ter que usar praticamente todos os jogadores do grupo. Depois, sim, o jogo vai mostrar qual equipe do Cruzeiro se encaixa melhor e nós vamos escolher uma equipe base para o resto do ano”

O elenco recheado de bons jogadores garante desempenho satisfatório?

“O Cruzeiro, hoje, está mais qualificado do que ano passado. Mas a equipe precisa provar na prática, dentro do campo. A experiência nos ensinou que muitas vezes no papel você constrói um bom time, mas as coisas não funcionam necessariamente assim dentro do campo. Mas as primeiras amostragens de treinamento e jogos-treino mostram que a gente tem mais alternativas no grupo e que o Cruzeiro pode se tornar uma equipe melhor que no ano passado”

Mano, o que muda do seu Cruzeiro de 2016 para o de 2017?

“Quando eu cheguei e assumi o trabalho que o Paulo Bento vinha dirigindo, o Cruzeiro tinha uma intenção - e era uma boa intenção. Era marcar alto no campo do adversário, jogar mais propondo o jogo do futebol. Mas, na prática, não vinha acontecendo. O que eu disse quando cheguei? Que nós iríamos reduzir um pouco a posse de bola do Cruzeiro, para que a equipe desse menos oportunidades aos adversários. E foi isso que a gente fez. O Cruzeiro passou a criar um pouquinho menos, mas correr menos riscos. Porque jogava numa parte da tabela em que o risco era assustador. E não podia continuar assim. Mas eu penso que uma equipe como o Cruzeiro deve propor jogo. E a gente deve buscar isso. Nós fomos buscar jogadores que agregassem qualidade ao grupo. Trouxemos um zagueiro que tem boa saída de bola, que está acostumado a jogar com linha alta, que não tem medo de jogar no um contra um, que tem característica para suportar o jogo no um contra um que é a velocidade, combate forte. Porque na América Latina todas as grandes seleções estão jogando assim. A gente foi buscar um lateral que tem bom acabamento de jogada. Se você quer propor jogo, você vai chegar com os seus laterais muitas vezes no fundo. Mas não adianta chegar no fundo e não acontecer nada. Porque você vai tomar contra-ataque. A gente tem o retorno de Mayke, que eu penso que pela direita também pode fazer isso. Fomos buscar Hudson, que tem qualidade de marcação e força de chegada lá na frente. Fomos buscar Thiago Neves, que faz o enlace entre o meio de campo e o ataque. É um jogador com característica que a gente não tinha. Pois os que tínhamos ou jogam um pouquinho mais para trás ou um pouquinho mais para frente. Precisávamos de um jogador que se encaixe no meio desses dois setores, para qualquer lado, não precisa jogar centralizado. Precisa saber fazer o enlace entre o meio de campo e o ataque. A gente está bem servido para iniciar a temporada. Talvez apareça mais um jogador, dois. A gente nunca está fechado para isso. Guardamos o dinheiro, economizamos. Muito próximo deste momento ano passado, o Cruzeiro já tinha contratado 12 jogadores. Até agora, contratamos quatro. Penso que é assim que se faz. Daqui a pouco vai aparecer uma oportunidade, então o Cruzeiro tem condição de concorrer no mercado para aproveitar essa oportunidade”

Cruzeiro deve jogar com marcação alta, então?

“O futebol moderno exige que você jogue com marcação alta. Mas não basta boa intenção para isso. Quando o time joga com marcação alta, ele corre mais riscos. Porque exige uma compactação muito grande da equipe, uma coordenação técnica maior. Se o adversário escapar da primeira linha de pressão e a segunda linha não estiver muito próxima, vai estourar na tua última linha defensiva. Se a linha estiver alta, o goleiro é um líbero. Assim a gente enxerga no mundo todo e é assim que tem que ser. Porque escapa de vez em quando uma bola longa, e o adversário tem essa qualidade para fazer. É mérito deles. O Cruzeiro tem que estar preparado para resolver o problema. E de vez em quando o problema vai existir”

Thiago Neves estreia contra o Villa Nova?

“Não existe situação legal hoje para o Thiago estrear contra o Villa Nova. E é bem provável que ela não exista. Eu, como não gosto de criar expectativa para o torcedor, diria que é bom o torcedor não criar essa situação para a estreia contra o Villa Nova, pois é bem difícil que ela aconteça. O Thiago foi uma grande contratação. É um jogador que vem para acrescentar muito. E, assim que tiver condição legal, ele vai estrear. Porque a condição técnica dele é muito boa. E a condição física dele nos surpreendeu, já vinha treinando e se preparando provavelmente para voltar ao futebol brasileiro”
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