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Sérgio Rodrigues revela planos para modernizar Cruzeiro e se diz pronto para rebater 'ataques' em campanha eleitoral

Candidato à presidência indicado por Perrella, advogado apresenta ideias para gerir futebol, relação com Mineirão, FMF e nega ser favorito no pleito

postado em 08/06/2017 07:30 / atualizado em 12/06/2017 15:32

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Ao desistir da candidatura à presidência do Cruzeiro, Zezé Perrella indicou para a chapa “Tríplice Coroa” o nome de Sérgio Santos Rodrigues, ex-superintendente de futebol do clube. Aos 34 anos, o advogado é, por enquanto, a terceira opção para as eleições do fim do ano. As demais são César Masci, ex-presidente do clube entre 1991 e 1994, e o empresário Márcio Rodrigues. A ‘situação’ promete anunciar um nome para o pleito em breve.

”Acho que não tem favorito. Até porque uma coisa é a figura do Zezé, a outra sou eu com o apoio dele”, destaca o candidato, que segue como advogado de Perrella, acusado de ter recebido dinheiro de propina repassado pelo grupo JBS ao senador Aécio Neves. Nas redes sociais, ele criou o slogan “Cada ataque uma proposta” e justificou: “Tenho percebido no Cruzeiro é que não tem ninguém preocupado em apresentar ideias. Agora que o Perrella desistiu, me escolheram como alvo. Hoje começaram a dizer que o Sérgio é isso, aquilo”.

Mais jovem entre os concorrentes, Sérgio Santos Rodrigues defende uma gestão moderna e pautada no diálogo. Embora tenha feito parte da administração de Gilvan de Pinho Tavares desde o início, ele alega que, como superintendente de futebol, não tinha uma ‘participação ativa’ e discorda da forma como as decisões são tomadas no Barro Preto. “Sem entrar em detalhes, mas já teve caso que eu, no cargo de superintendente de futebol, eu não gostaria de ter feito uma contratação. E ela foi feita. Aconteceu isso várias vezes”. A elevação da dívida geral do Cruzeiro em 202%, entre 2011 e 2016, é outra crítica à atual gestão.

Na visão de Sérgio Rodrigues, o surgimento de três correntes de oposição retrata a “insatisfação” do conselho com o cenário atual do Cruzeiro, fora e dentro de campo. Apesar disso, ele recusa o rótulo de opositor. “Nossa divergência é no campo de ideias”.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

No âmbito institucional, Sergio Santos Rodrigues vê necessidade de o Cruzeiro se reaproximar do presidente da Federação Mineira de Futebol, Castellar Guimarães Neto, de quem é amigo, para ter mais representatividade na entidade. “Ataque pessoal não vai levar ninguém a lugar nenhum”. Da mesma forma, prega inteligência na relação com o Atlético para que os rivais, juntos, possam pleitear por melhores acordos comerciais.

Quanto ao Mineirão, ele admite reivindicar ao governo estadual a transferência da gestão do estádio para o Cruzeiro caso o Atlético construa sua arena particular. “Se o Atlético fizer o estádio deles, o governo tem que dar o Mineirão para o Cruzeiro. Vão fazer o quê?”.

Nessa entrevista exclusiva ao Superesportes e ao Estado de Minas, Rodrigues revela ainda quem sonha ter como braço direito no futebol, se tem planos de manter Mano Menezes no cargo caso seja eleito e diz que a corrida eleitoral não pode ter reflexos no time de futebol. “Se acontecer algo de errado em campo, o problema é de quem está na gestão do clube. Atribuir isso para fonte externa, pra mim, é reconhecimento de fraqueza”.

LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA

O cenário das eleições no Cruzeiro muda muito com a desistência do Zezé Perrella?

Muda bastante, com certeza. O Perrella ainda é a referência do conselho. Foram 17 anos no comando do Cruzeiro juntamente com o Alvimar e a grande mudança que teve no conselho do Cruzeiro – inclusive mudou o número de conselheiros, eram eles que estavam lá. Então há muitas pessoas lá que gostam deles. São 280 conselheiros natos e boa parte virou nato na gestão deles. São pessoas com história. Sempre digo que o Cruzeiro tem duas eras: a do Felício Brandi, responsável por nacionalizar o clube em 1966 e internacionalizar em 1976, e a era dos Perrella, que conseguiram títulos e aumentaram a representatividade do Cruzeiro no cenário internacional. Na gestão deles, o clube disputou títulos com cariocas e paulistas de igual para igual, tendo a metade do orçamento. Diante disso, essa desistência pegou todo mundo de surpresa, inclusive a mim, mas a gente entende essas coisas. É o famoso só quem apanha sabe o que é apanhar. O apego à família dele pesou para ele tomar essa decisão.
Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


Foi uma decisão tomada com o tempo (por conta das denúncias) ou foi algo repentino?

Não. Até pelo que eu conheço do processo, pelo que vi – uma coisa é que se divulga, outra é o que existe no processo -, eu acredito que não há nada contra ele. Bem diferente do que se divulga. Então, como ele não é denunciado e acredito que não vá ser, mas pela exposição em mídia, pelo apoio da família, ele preferiu sair. Quando ele me chamou para conversar, ele já tinha decidido. Foi meio repentino. Já queria fazer o comunicado e, ao mesmo tempo, dizer que queria me apoiar. Deixar claro também que nosso grupo, que é muito unido, não deixaria de ter um candidato. Foi por isso que ele tomou essa decisão.

No ano passado, quando você ainda integrava a diretoria do Gilvan, seu nome era cogitado a formar uma chapa com o Bruno Vicintin. Desde então, o cenário mudou bastante. Você deixou a diretoria, apoiou o Zezé Perrella e agora surge como candidato de um grupo que está fora do clube. Quais as suas impressões do cenário atual das eleições? Hoje, há dois pré-candidatos, o ex-presidente César Masci e o empresário Márcio Rodrigues, e a situação ainda promete anunciar um nome para concorrer ao cargo. Você se considera favorito por ter o apoio do Perrella?


Eu não larguei a diretoria por apoio ao Perrella. O meu apoio ao Perrella sempre existiu Daí, num dado momento, quando a diretoria atual chegou à conclusão que não gostaria da volta do Perrella, pela minha coerência eu decidi sair. Falam que fui incoerente ao trair a diretoria em que eu estava. Não. Eu fui coerente em continuar apoiando o Zezé Perrella. Eu realmente tinha vontade de ser candidato, mas, desde o começo, falei que só sairia candidato se o Zezé não saísse. Falando desse momento atual, acho que não tem favorito. Até porque uma coisa é a figura do Zezé, a outra sou eu com o apoio dele. E eleição tem que ser batalhada do começo ao fim. Mas vamos apresentando as propostas e acreditando que temos as melhores ideias. Sugiro até aos demais candidatos de fazer um debate para ver o que é melhor para o Cruzeiro.

Há chance de formar alguma aliança com algum dos pré-candidatos já anunciados?

Pode existir, desde que os projetos sejam congruentes. Temos que analisar o que cada um tem, o que bate, o que é o mote da nossa candidatura? Da nossa é gestão e planejamento. Voltar a ser gerido como uma empresa de grande porte. Isso passa por auxílio externo, para implementar uma auditoria externa. Se depender de nós, em 1º de janeiro já tem uma multinacional para fazer uma auditoria no Cruzeiro e dar um raio X da situação. O Flamengo é um caso claro disso. Quando contrataram uma auditoria, eles pensaram que a dívida era de R$ 500 milhões, que estava no balanço, mas era de R$ 800 milhões de dívida. Havia R$ 300 milhões que não estavam contabilizados. Precisamos disso para mostrar à torcida o que é o Cruzeiro. E buscar bons profissionais para fazer planejamento estratégico, que hoje não temos. Isso é definir qual é a nossa visão, a nossa missão, os nossos valores e onde queremos chegar em determinado tempo. Dessa forma, a gestão passa a ser organizacional e não pessoal. Se tenho planejamento estratégico e tenho regime de controle do que vai ser feito a cada período, se eventualmente eu sair de lá em três anos, esse planejamento pode ser seguido por quem entrar. Essa é a ideia. O mundo mudou e o Cruzeiro precisa acompanhar essa dinâmica. Hoje, as grandes empresas trabalham com planejamento estratégico, são auditadas. Uma empresa da grandeza do Cruzeiro, que fatura o que o clube fatura, tem que seguir esses parâmetros. Tem-se uma ideia muito equivocada de que o clube não tem fins lucrativos e não precisa ter lucro. Está errado. Ele não precisa distribuir lucro. É importante que feche no azul e tenha uma boa gestão. Se a gente projetar a dívida do Cruzeiro dos últimos seis anos, para os próximos seis anos, ficará inviável gerir o Cruzeiro. São 200% de aumento de dívida. Não fecha a conta mesmo. Temos que entrar com uma gestão séria e obter em médio prazo um resultado eficiente. Hoje, o Flamengo tem Everton Ribeiro, Diego, Conca, Guerrero graças a um orçamento, diante do trabalho que eles fizeram. Não foi por acaso. Organizaram a casa por fora para ter um trabalho de dentro de campo de longo prazo. A nossa ideia principal é essa.

O Cruzeiro pode chegar a ter quatro candidatos na próxima eleição. Isso é raro na história do clube. Geralmente havia polarização. Essa divisão retrata o quê?

Insatisfação. Sem dúvida. Quando a gente vê o nível de gasto no último balanço publicado, principalmente com o resultado não ocorrendo...Porque infelizmente quando o resultado em campo vem, ele mascara o que está sendo feito fora. Quando ele não vem e se expõe essa realidade, aí a insatisfação vem e aflora mais. Credito o número maior de candidatos por isso, pois são mais pessoas tentando contribuir de forma mais efetiva. Por isso eu falo: pode haver sim coalizão se as pessoas começarem a entender melhor as propostas das outras. Estão soltando algumas ideias, mas quero o quanto antes finalizar o projeto e apresentar para os outros candidatos. ‘Olha, a gente engloba o que vocês pensam? Querem caminhar junto?. Pode ser que aconteça.

Ramon Lisboa/EM/D.A Press

Os últimos balanços mostram que o bicampeonato brasileiro em 2013 e 2014 gerou um endividamento do Cruzeiro. Na sua visão é possível conciliar investimentos como os de 2013 com o orçamento atual?

No período da montagem do time bicampeão se permitia a participação de terceiros no futebol. Hoje não tem mais. Aquilo ajudava muito, pois você conseguia fomentar dinheiro com empresário e o dinheiro ia voltar depois porque o clube era a vitrine. Isso não existe. Aumentaram outras fontes de receita, como TV. Patrocínio, por sua vez, diminuiu.

Mas os empresários continuam atuando no futebol. Isso não acabou.

Na verdade, os empresários têm clube de futebol. Aí pode atuar. Fulano está registrado no clube uruguaio. Mas não tem mais o empresário, que é cruzeirense, atleticano, dá X milhões e colocou aqui para ter percentual do jogador. Como até na época do Zezé tinha o grupo EMS, que ajuda a contratar jogadores. Isso não tem mais. O problema é que a venda de bilheteria também caiu demais. Em 2014, tínhamos R$ 85 milhões/ano de bilheteria somado ao sócio do futebol. Hoje, está na casa de R$ 40 milhões. Patrocínio, hoje, é inferior ao que o Zezé fechou em 2011. Logo, para fazer investimento daquele vulto não dá mais. Por isso insisto na gestão. Para contratar, você tem que saber de onde vem o dinheiro. Se não aumentou a minha receita, se estou incorporando R$ 300 mil de salário de um novo atleta, eu tenho que tirar R$ 300 mil de outro atleta também. Isso tem que ser mais pensado.


Você estava na diretoria nesse período de evolução da dívida. A gestão foi equivocada?

Participei da gestão desde 2009, mas não tive participação ativa...’eu estou bancando e trazendo esse atleta’. O sistema é presidencial. Tanto que muita gente fala que em 2013 e 2014 o título foi do Alexandre Mattos (então diretor de futebol). Não, aquele título foi do Gilvan (presidente). Falo isso. Não é porque saí da gestão que vou falar ‘ah, vou falar mal’. Vou falar sempre a realidade. No sistema de gestão presidencial tem que ser assim. A não ser que o presidente deixe claro desde o começo que as coisas serão compartilhadas. Se eu tiver a oportunidade de presidir o Cruzeiro, quero que seja assim, quero que as decisões sejam compartilhadas. Na hora de fazer uma contratação, pesa a opinião de todo mundo: técnico, diretor de futebol, departamento de análise de desempenho. Certamente não será a minha opinião que vai prevalecer se eu for presidente. Se o técnico quer, não vou deixar de contratar porque eu não gosto do jogador.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


Hoje, as decisões no Cruzeiro estão centralizadas no Gilvan?

Sem dúvida nenhuma que você tem a palavra final do presidente. Os outros membros participam, mas não são tão determinantes. Participam sim. A gente sabe que o técnico pode ter pedido um jogador...Sem entrar em detalhes, mas já teve caso que eu, no cargo de superintendente de futebol, eu não gostaria de ter feito uma contratação. E ela foi feita. Não quero criar polêmica, mas aconteceu isso várias vezes. Como acho, tenho certeza, que com o Thiago Scuro, que saiu daqui, teve o mesmo problema. ‘Olha, não é um atleta que tecnicamente, eu, diretor, aprovo. Mas a contratação foi feita. Isso é uma coisa que eu não faria como presidente. Agora, equívoco de gestão...não sei se devo usar a palavra equívoco, só acho que a forma poderia ser mais...Cito uma frase do Steve Jobs: “As ideias têm que prevalecer por serem as melhores, não pela hierarquia do cargo”. Eu tenho muito isso. As decisões podem ser mais colegiadas, pode haver mais interação e ter o planejamento. Quando eu assumir o Cruzeiro, quero saber onde vou chegar. Se não estabelecer meta, qualquer caminho é caminho. Um caminho perdido. Preciso ter meta: ir para a Libertadores, ser campeão nacional, ser tri da Libertadores até o centenário. E trilhar caminho para isso.

Por exemplo, o desmanche de 2015 foi natural. Assim como tivemos em 2015, o Corinthians teve o desmanche em 2016. É difícil competir com esse assédio hoje. Não acho que o Gilvan teve culpa nisso. Você não consegue fazer o atleta jogar bola quando ele ganha R$ 200 mil e recebe proposta de R$ 1,5 milhão. Vou obrigar ele a cumprir contrato. Não tem cabimento. O planejamento passa por isso. Quando monto time muito bom, estou no segundo ano muito bom, e aí eu sei que é natural o desmanche, eu tenho que me preparar com antecedência para perder esse atleta, para vendê-lo e ter o seu substituto. Hoje, nós temos um dos melhores laterais esquerdos do Brasil: Diogo Barbosa. Brinco que, seu eu tivesse oportunidade, já contrataria outro, porque o Diogo Barbosa não vai ficar muito tempo com o futebol que ele está jogando. Planejamento é se antecipar ao problema, não achar que ele vai ser eterno aqui.

Beto Novaes/EM/D.A Press


O Cruzeiro não revela um grande jogador há muito tempo. O que pode ser feito para melhorar isso?

Primeiro, a gente tem que entender para que serve a base. E é para isso, para revelar jogador, não para ganhar título. Muita gente se equivoca. O São Paulo não é time vencedor na base, mas vendeu cinco e seis da base e ganhou quase R$ 200 milhões recentemente. Acho que, talvez, o que pode ter se perdido um pouco foi isso. Fui crítico em relação a contratações para a base. Quando você passa a ter muita contratação para a base, isso demonstra um defeito na formação de atletas desde o sub14, sub15. quando eu contrato jogador quase no profissional, tem algo errado no processo antes. Se a gente pega hoje os grandes atletas do Cruzeiro vindos da base, casos do Rafael, Elber, Alisson, Lucas Silva, todos são atletas campeões no Cruzeiro em 2007, 2008. Acho que a gente tem categorias inferiores muito boas, sub14, sub15, que esses atletas podem estourar. Tivemos Bruno Viana vendido agora. Mas acho que precisamos valorizar mais comissão técnica, o profissional da base. Acabamos passando por troca de técnico muito grande no sub17, uma categoria primordial, é a hora que firma o primeiro contrato, com 16 anos, e isso pode prejudicar. Sobretudo valorizar o profissional da base. Isso é problema geral no Brasil. Acho que é preciso estipular teto de salário. No Atlético-PR, clube super revelador, você tem teto na base. Palmeiras tem. ‘ah, mas o atleta é fora do comum’. Então que ele vá ao profissional. Se não for fora do comum, não pode ganhar salário alto na base, não pode ter discrepância. Viajo muito conhecendo estrutura de base e podemos propor coisas diferentes. O PSV, da Holanda, por exemplo, tem um sistema muito interessante de pegar casas em volta (do CT) e fizeram como se fosse famílias intercambistas. Em vez de morar no centro de treinamento, eles moram nas casas para ter ambiente familiar. E o clube paga a família. Acho esse modelo sensacional e poderia ser testado, principalmente no Brasil, onde tem muito jogador carente. Se ele estiver no contexto familiar, pode ser interessante. Se colocar no papel, o custo pode ser menor do que manter o atleta na Toca I. Tem algumas medidas que podemos tomar para reforçar a parte educacional, em que o Cruzeiro já é referência. E sobretudo não esquecer que eles são crianças. Você vai no La Masia, do Barcelona, e tem centro de video-game, o dia da pipoca para assistir aos jogos, se o Barcelona chega nas oitavas de final todos os meninos do sub20 ganham ingressos para ver o jogo do clube. Então tem uma interação interessante e essa visão de que eles são atletas, assediados, mas são meninos. Não pode ter a filosofia militar de atleta profissional, tem que ter direito ao lazer, crescer e se tornar um grande atleta. Temos que investir no lado humano, no lado de formação, e incentivar a valorização dos profissonais.



O Dorival Júnior declarou que o lado político do Santos, que também terá eleições este ano, atrapalhou a sua permanência pelo excesso de fofocas, troca de farpas. No caso do Cruzeiro, que pode ter quatro chapas, isso pode atrapalhar? Você até postou no Twitter um slogan: ‘cada ataque, uma proposta’. Isso pode respingar no campo?

Eu discordo. Acho que o papel da diretoria que está no clube é blindar o campo disso. Se acontecer algo de errado em campo, o problema é de quem está na gestão do clube. Atribuir isso para fonte externa, pra mim, é reconhecimento de fraqueza. Por que? Porque eu não tenho acesso ao atleta. Eu não ligo para o Mano e falo: ‘olha, você vai ser mandado embora’. Pelo contrário. Tive até o cuidado, quando saí do Cruzeiro, de não ligar e mandar mensagem para nenhum atleta. Para evitar qualquer tipo de colocação dessa. A parte política é extra clube. Temos que saber é quem está promovendo esse tipo de política (de farpas, acusações). Quando saí do Cruzeiro, falei com o presidente: ‘Com todo respeito, o senhor tem que olhar quem está ‘levantando’ a política no clube. São as pessoas que estão aqui dentro que estão fazendo movimentos políticos. É muito fácil, quem tem o microfone (diretoria atual) falar que o fulano lá fora está atrapalhando. E o que está sendo feito lá dentro? Saiu um manifesto do pessoal da diretoria. Isso é política. O clube foi vaiado no domingo (derrota para a Chape) e o pessoal está fazendo política. Então, quem está fazendo política não é quem está de fora, não. É isso que a torcida precisa entender.

Mas o Perrella esperou o time perder o Mineiro para ir ao Twitter soltar um vídeo e criticar a diretoria. Isso também foi política.


Então, se sou eu na atual gestão, eu transformo o vídeo em motivação. Chego para os atletas e falo: ‘olha, tem gente que está querendo entrar aqui e está tentando prejudicar a gente lá fora. Nós não vamos aceitar isso’. Eu transformo isso em algo motivacional. Aí é que faz a diferença o grande líder. A liderança tem que blindar. Pra mim, o papel da diretoria é blindar quem está lá dentro. Jogador foi vaiado? Ai é que a diretoria tem que ir para o microfone e blindar o grupo.



Você considera o Gilvan omisso, alheio ao que acontece no Cruzeiro?


É característica dele. Cada presidente tem um perfil. O Kalil, do Atlético, era falante demais. O Perrella não era tão falante, mas era presente em outras questões. O Zezé já ia à Toca todos os dias, o Gilvan já gosta de ir. E Gilvan não gosta de microfone. É perfil. Não acho que ele seja melhor ou pior por isso. Mas se não for o presidente, que seja outro a fazer. O principal papel da diretoria, pra mim, é blindar o grupo. Se existiu briga política, é daqui pra fora, não vamos deixar entrar. Por isso eu discordo de quem atribui o resultado ruim à política. O resultado ruim em campo se deve a gestão ruim.

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press


E por que você criou o slogan ‘Cada ataque, uma proposta’?


A gente criou isso porque o que tenho percebido no Cruzeiro é que não tem ninguém preocupado em apresentar ideias. Quando o Perrella se lançou candidato, só batiam no Perrella. ‘Ele não presta’. Não lembram os títulos que ele conquistou, a estrutura que ele deixou, os jogadores que ele formou. Esqueceram disso simplesmente para poder atacar o Perrella. Agora que o Perrella desistiu, me escolheram como alvo. Hoje começaram a dizer que o Sérgio é isso, aquilo.

Isso vem de torcedor?


Sempre apócrifo. É o famoso a gente sabe quem, mas não pode falar. Então, isso não vai levar o Cruzeiro a lugar nenhum. Na hora que vier cada ataque, vamos apresentar uma proposta boa para o clube. Hoje, com os ataques, já apresentei uma proposta nova. Tal qual tem no Inter, no Flamengo, é implementar o portal da transparência no Cruzeiro. Seria uma atitude muito bacana. Não é revelar salário de jogador, mas é revelar custos de contratos de prestação de serviço do clube, quem a gente contratou, por qual preço, quem ganhou comissão. O torcedor tem direito de saber isso porque é ele que fomenta isso. Estou torcendo para me atacarem todos os dias, porque todo dia é uma proposta nova. Porque as pessoas que atacam, em vez de atacar de forma apócrifa, deveriam aparecer e debater, até porque a maioria das coisas apócrifas é mentirosa.

Você parece manter uma relação de respeito com o Gilvan. Mas volta e meia indica que alguém de dentro do clube te ataca Com quem você rompeu no Cruzeiro? Com o Bruno Vicintin?

Não, não sei se é lá de dentro. Acho que é movimento político, mas não posso dizer nomes. Naturalmente eu respeito todos que estão lá, e se falasse qualquer coisa eu estaria indo contra a minha argumentação. Não quero falar mal de ninguém. Existem divergências de ideias, mas são pessoas que têm histórias que eu valorizo. Existem os que são amigos, até porque 99% da diretoria do Gilvan é do Zezé. Tem de novo o Tinga e o Bruno. Então, tenho relacionamento respeitoso com todos eles. Mas falar que tenho rancor, não gosto, tenho crítica, isso não vou fazer. Nossa divergência é no campo de ideias. Não sou oposição, inclusive. Oposição é o Atlético. Tenho apenas quem diverge de ideia comigo.

Henrique Pimentel/Divulgacao -

Da chapa anterior, encabeçada pelo Zezé Perrella, alguns empresários mudaram de lado. No manifesto da ‘situação’, divulgado na terça-feira, aparece o nome do Pedro Lourenço (da rede Supermercados BH), por exemplo. Você acha que carrega muita gente das alianças que o Perrella tinha?

Acho que sim, até porque, da notícia que eu tenho, vários nomes colocados ali (no manifesto da situação) não estiveram na reunião. Vários não são empresários. Vários ali nem sequer são conselheiros. Então, quando se publica um negócio assim, de que houve uma reunião, tira uma foto...então, não levo isso em consideração, o que está colocado ali. Valorizo o efetivo. Mas aqueles que estavam com o Zezé tendem a caminhar com a gente. Como a minha candidatura foi repentina, não tive oportunidade de falar com todos. Mas o Zezé e o Alvimar têm ligado...acredito que eles continuem com a gente porque já conhecem nossas ideias para o Cruzeiro.

As opiniões sobre a mudança do estatuto já foram amplamente debatidas, inclusive você se mostrou contrário neste ano de eleição. Na sua opinião, haverá assembleia para se mudar o estatuto? Ou o movimento pela mudança perdeu força?


Acho que não faz mais sentido discutir isso. Até uma das coisas que a gente estava falando de política: achei um contrassenso a gente perder o Mineiro, ser eliminado na Sul-Americana pelo oitavo lugar paraguaio (Nacional) e estar discutindo estatuto. Deveríamos estar discutindo gestão do time para ver como a gente vai melhorar. Acho que isso perdeu a força, na minha opinião. Mas, se voltar a colocar o tema na pauta, o conselho é soberano. Não creio que vão fazer isso faltando quatro meses para a eleição. É contrassenso, não seria bom para o Cruzeiro se isso acontecesse.

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Sobre futebol, qual é a sua opinião sobre o Mano e sobre o elenco? O Mano é o seu treinador para o Cruzeiro, caso eleito, independentemente dos resultados este ano? E sobre o elenco, vê potencial para ser campeão?

Minha opinião sobre o Mano: adoro o Mano, um cara inteligentíssimo, preparado, de caráter, tive uma convivência fantástica com ele e tomara que ele leia a entrevista porque eu nem liguei para ele quando saí, porque não queria ser mal interpretado. E acho que é técnico de longo prazo. O pessoal esquece, mas se não me engano o Tite rebaixou o Atlético (fez parte da campanha). E hoje é o melhor técnico do Brasil. Mas com trabalho de longo prazo, se isso for possibilitado, acho o Mano muito bom para ser preparado. Mas aí você pergunta se ele será o meu técnico. Não sei, porque se perder dois, três, quatro jogos e for mandado embora, não sei se tem clima para ele voltar. É bom técnico, não tem três no Brasil como ele.

O Alex, ídolo do clube, declarou a um site que a filosofia do Cruzeiro é diferente do estilo de jogo do Mano. Você concorda? O Mano está alinhado com o seu projeto de trabalho, com aquilo que você espera ver dentro de campo na sua eventual gestão?


Vejo o Mano como um técnico capaz de fazer o que o Muricy fez no São Paulo, um técnico que, com um longo tempo de trabalho, pode dar resultados positivos. Ferguson, quando chegou ao Manchester United, ficou três anos sem ganhar título, investiu em infraestrutura para ganhar título. Foi ganhar o primeiro título no quarto ano. E virou o que virou depois. Infelizmente aqui a gente tem esses imediatismos. Isso pode ocorrer, de o time não responder tanto, e quererem mandar o Mano embora.

E já respondendo a outra pergunta, acho sim que o Cruzeiro tem elenco para ser campeão, para chegar na Libertadores, e se isso acontecer ele vira referência para continuar como técnico (em 2018). Eu gosto dele, acho que sim técnico com capacidade para ficar quatro, seis anos no Cruzeiro. Ele faz gestão de elenco boa, os atletas gostam dele, tem caráter muito bom. Quanto ao elenco, acho muito bom. Só acho que é um elenco muito caro, acima da média. Até creio que, se presidente for, boa parte do elenco estará comigo pelos contratos que a gente vê. É elenco que eu gostaria de trabalhar, mas devem ser feitos alguns ajustes para, dentro do planejamento de gestão, esse custo ser adequado ao faturamento do Cruzeiro.

O Atlético tem optado, desde 2012, por fazer apostas em jogadores com muito nome, casos de Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Fred, Elias. O Cruzeiro, por outro lado, não arriscou tanto e tem sido questionado na Fifa por alguns não pagamentos. Na sua visão, por que o Atlético consegue fazer esses investimentos, mesmo tendo dívida geral maior?

Se colocarmos na caneta, os gastos dos dois clubes devem ser muito parecidos. Até um estudo recente mostrou que o Atlético é um clube prestes a quebrar, mas que se salva sempre. Porque o Atlético consegue fazer rolamento bancário de dívida e que pelo que se diz no mercado, eu não posso dizer, mas há empresários que ajudam a bancar isso de alguma forma. Então isso é uma coisa muito positiva e que o Cruzeiro não tem. Mas a questão de quem você vai contratar, é uma opção. Vamos pensar friamente. Quem diria que, em 2012, o Ronaldinho seria uma grande contratação. Vinha de uma péssima fase no Flamengo, veio e jogou bem. O Fred vinha de algumas lesões no Fluminense. De todos esses, só o Robinho veio...E ainda assim estava na China.

Você gosta desse perfil de contratação?


Depende. É bom ter o atleta que representa um clube, que a criança quer tirar uma foto com ele, sem dúvida, mas isso tem que encaixar dentro do perfil do time. Sou contra o presidente boleirão, beirada de campo, o presidente que dá palpite. Presidente tem que fazer gestão. Quem vai contratar ou não vai, acho que o técnico, o diretor de futebol, eles têm que dar os direcionamentos juntamente com análise de desempenho, dar as opções, e falar com o presidente só para ver se isso se encaixa dentro do orçamento. E o técnico tem essa noção. Certa vez sentei com um técnico do Cruzeiro, o Vanderlei Luxemburgo, e ele disse: ‘lateral-direito, entre tal e tal, recomendaria aquele porque tem cidadania italiana e é mais fácil de vender para o mercado europeu’. Tenho Robinho, fulano ou ciclano. O gasto é o mesmo. ‘Ah, pelo perfil do nosso time, se eu precisar de um cara mais velho, então o Robinho encaixa. Ah, não, preciso de jogador mais novo’. Tem que saber do técnico se vai encaixar. Acho ruim quando o presidente toma as decisões com base nele e não pensa na parte técnica. Se presidente do Cruzeiro for, não trazer por achar que é bom. Vou ouvir o técnico, diretor de futebol.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Sobre contratações como Ábila, Arrascaeta, que não foram pagas ainda aos clubes de origem. Por que isso ocorre com frequência hoje no Cruzeiro?

Fico chateado porque o Cruzeiro sempre teve fama de bom pagador. E quando você vê o nome do Cruzeiro exposto como devedor, é muito ruim. Principalmente porque quando isso estourar, vai estourar no ano que vem (para o novo presidente). Esse processo na Fifa demora um pouco. Espero que tenha uma solução o quanto antes, porque você pode acabar assumindo um clube com dívidas muito grandes, sem contar com aquilo no orçamento, e pode prejudicar o trabalho.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Qual a sua opinião sobre a política do sócio-torcedor. O clube teve o auge, com número grande de sócios, depois uma queda. Você gosta da gestão atual do programa?

O sócio acompanha o time e tem também a crise econômica. O grande desafio hoje é proporcionar aos sócios experiências fora do time estar bom ou não, de forma que se o time não estiver bem, ele continua sendo beneficiado. Percentualmente, são poucos os sócios que contribuem para ajudar o time. Então tenho que pensar em outros tipos de experiências, criar categorias com preços acessíveis. No Benfica, o clube com maior projeto de sócio-torcedor do mundo, tem categoria lá de três euros. Possibilitar esse tipo de situação e adequar à realidade do mercado. Quando você faz promoções demais no preço do ingresso, eu perco sócio-torcedor. Ele vai chegar e falar: ‘por que eu vou pagar todo mês se está tendo promoção todo jogo e vai ficar mais barato pra mim’. Acho melhor adequar o preço do sócio e ter o torcedor fiel comigo. Mas não sou eu, como presidente, que vou definir isso. Tem que sentar com diretor de marketing, diretor financeiro, que vai fazer as planilhas. Tem que buscar saídas para montar programa mais sólido que não vai depender do desempenho do time. Não quero parecer impopular, mas as promoções podem ser ruins no planejamento de longo prazo. Não pode agradar o agora, para encher o estádio amanhã, e estar prejudicando planejamento do ano que vem, porque ninguém vai renovar o sócio. Simplesmente foi o que aconteceu. A gente não tem que tomar medida popular, tem que tomar a medida certa e explicar ao torcedor porque tomou aquela medida. Se eu estiver à frente do clube, e a torcida pedir promoção, você tem que negar e mostrar porque está negando. É uma negativa fundamentada.

Você sempre foi a favor do acordo com o Mineirão nos moldes atuais? Qual a sua política de  estádio? Estádio próprio ou Mineirão?

Até diante da profissionalização que a gente quer implementar, tudo passa por um estudo de viabilidade econômica. Se alguém chegar amanhã e falar que tem pretensão de montar um estádio dentro da Toca 1, que é possível...se você pegar o Santiago Bernabéu tem 45mil m2 de área, a Toca II tem 90mil m2. cabe um estádio ali. Mas tem que ter estudo de viabilidade. Não posso dizer que vou fazer se não consigo fazer nem o futebol. Se tenho investidor, um parceiro, que eu não vá perder a propriedade...tem que ser viável. É demagogia grande dizer que vai fazer estádio, até porque se o Atlético fizer o estádio deles, o governo tem que dar o Mineirão para o Cruzeiro. Vão fazer o quê?

Leandro Couri/EM/D.A Press


Acha que o governo pode dar essa contrapartida ao Cruzeiro, que seria o único clube a jogar lá?


Não vejo outra alternativa. Se o Atlético tiver o estádio dele...o Mineirão tem que ficar com o Cruzeiro. Temos que pensar numa alternativa viável e boa. O contrato tem que ser mexido. Mas se amanhã aparece um empresário muito rico, está com dinheiro, faz estudo e ver que vale a pena fazer estádio na Toca 1, com entretenimento, restaurante, local turístico, que vai dar lucro, por que não?

Você acha o contrato atual do Cruzeiro com o Mineirão ruim?

Não o conheço profundamente, mas me parece que o valor do aluguel é um pouco caro sim. Sei que existem dificuldades. Sou muito adepto dos esportes americanos e, pra mim, esporte hoje é entretenimento. Tenho que dar experiência para o torcedor. Não se vende mais uma partida. Vendo desde a hora que ele chega, onde ele para, o que ele come, tem cachorro quente, dez tipos de chopes. Sei que hoje existe essa dificuldade, sei que o Cruzeiro quer fazer ações que não são permitidas. Essa é uma coisa que precisa mudar. Se o Cruzeiro vai jogar no Mineirão, poderiam entregar o estádio um dia antes e você devolve no dia seguinte. O que você vai fazer lá é problema seu e a responsabilidade é sua também. A torcida vai entrar com a bandeira que ela quiser, há muito problema com isso também. Nesse aspecto acho ruim o contrato atual. Se for meu, posso pintar o Mineirão de azul, isso é coisa que falta hoje, proporcionar que a torcida faça o que ela queira e o que a gente quer também. ‘Acha interessante o contrato do Mineirão?’ Eu tentaria rever algumas coisas, mas não acho que seja ruim. Tem aquela coisa histórica, todo mundo gosta de estar no Mineirão. Vejo a Minas Arena muito apta à conversa, tenho particularmente boa relação muito boa lá e acho possível uma conversa sim.

AFP


Na condição de presidente, você começa a vislumbrar nomes para integrarem a sua equipe. Hoje, o clube tem departamentos de base e de futebol montados, com nomes de confiança do Gilvan. Você mexeria em muita coisa, manteria muita gente?

O Cruzeiro tem muita gente qualificada, assim como tem muitos cargos de confiança. Mas se eu citar um, quem eu não citar vai pensar: ‘Ih, estou fora’ (risos).

Você é, por exemplo, a favor da volta do Alexandre Mattos para o cargo de diretor de futebol? O Zezé chegou a convidar o Dirceu Lopes para trabalhar na base.

Boa parte da estrutura sim, você mantém, mas há cargos que são muito de confiança. E tem algumas coisas que precisam ser explicadas. Gosto do Dirceu Lopes, ele me ligou, se solidarizou, apoiou a minha chapa, mas o Zezé não chamou ele para ser diretor técnico da base, pois chegaram a divulgar isso. Tenho a mentalidade de ter ex-ídolos dentro do Cruzeiro, como a gente já tem o Raul, por exemplo, o Célio Lúcio, o Careca...o Dirceu entra nesse contexto e isso é coisa que eu tenho vontade de fomentar mais.

Mas dizer nomes...Eu posso falar um nome que eu aceitaria no Cruzeiro em qualquer cargo que é o Leonardo. Uma pessoa que eu, Sérgio, gosto muito. Converso às vezes, estive com ele em Milão, acho que caberia de técnico, CEO, pode ocupar qualquer cargo. Adoro o Leonardo. Estive com ele uma vez, acho que é fenomenal e se encaixa em qualquer cargo. Nomes que eu gostaria, de um projeto da grandeza do Cruzeiro, onde a gente quer chegar, um nome da envergadura dele poderia vir em qualquer cargo. Ainda brinco: se eu ganhar essa eleição, no dia seguinte pego um avião e falo com o Leonardo: ‘o que você quer para estar no Cruzeiro, estar junto com a gente, porque lugar para você a gente acha’. A visão do negócio que ele tem é muito boa. É uma pessoa que eu gosto. Mas dizer: vai trazer? Não sei. Da outra vez que estive com ele, ele disse que não voltava para o Brasil. Então depende. Quem sabe ele topa?

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press


Qual é a sua relação hoje com o Daniel Nepomuceno e como seria a sua relação com o rival Atlético?

O Daniel eu conheço há muito tempo, nossos pais foram colegas (desembargadores), e eu o conheço desde criança. Já tive oportunidade, quando ele era vice do Atlético ainda e eu superintendente do Cruzeiro, de brincar com ele: ‘Imagina o dia em que a gente for presidente junto, o pessoal vai ver a gente almoçando e vai achar engraçado.’ Mas sou amigo dele, e tenho certeza que a gente pode crescer muito junto. Se ligo para ele, ele me atende. Ano passado, na época do acidente da Chapecoense, trocamos telefonema para fretar um avião juntos. Temos relação excelente. E ele tem uma visão de negócio muito parecida com a minha. Visão de crescimento, de agregar. O contrato da Caixa só foi fechado porque Atlético e Cruzeiro se juntaram. A gente tem experiências positivas de que os clubes, juntos, podem crescer mais. Podemos criar, por exemplo, um ponto comercial num local estratégico que venda as duas marcas. Vai gerar competição de quem vende mais. E os dois vão ganhar com isso. Existem projetos que podem ser tocados juntos. Se eu vier a ser eleito, vou sentar com o Daniel e isso vai acontecer.

E como é a sua relação com o presidente da Federação Mineira, Castellar Neto? Acha que, no comando do Cruzeiro, você poderia dar mais representatividade ao clube na entidade?

Acho que a relação não pode ser de embate. Tenho uma relação boa com o Castellar, o Paulo Braacks foi meu colega no curso de gestão do futebol, o Castellar é o representante da Conmebol na Fifa, ele goza de muito respeito. Ano passado, quando eu pedi duas reuniões na CBF, eu pedi e o Castellar me acompanhou. Sei do histórico dele frente ao Atlético, mas respeito e acho que podemos ter boa relação. Somos amigos. O Castellar é uma pessoa com quem eu almoço. Inclusive, teve um hoje (nas redes sociais) que disse que eu era o candidato do Castellar no Cruzeiro. Mas tenho relação excelente e acho que precisamos ter. Como eu falo para ele, acho que ele tem que ter um grande cruzeirense na diretoria dele, acho que tem que ter. Acho que ele está aberto para isso. Acho que, se eu for eleito, é uma das coisas pelas quais a gente deve conversar, batalhar ou ter um candidato nosso e falar que precisamos ter uma forma de ter representatividade dentro da FMF, ter diálogo.

Numa eventual gestão, como você reagiria ao se sentir prejudicado pela Federação?


São coisas diferentes. Tudo tem que ser resolvido da melhor forma possível. Certamente o meu tom não seria pegar o microfone e começar a xingar ele. Pode ser a medida popular, mas não é a medida certa. Tem que pensar em resolver o problema e briga não resolve o problema. Só acho que o embate direto não leva a lugar nenhum. Pode acontecer? Pode. Se precisar, vai acontecer. Desde que ele seja inevitável. Acho que a boa política e a função do presidente do Cruzeiro é política. Um dos papéis do presidente é saber se relacionar com a Federação, com a CBF, com o adversário, com o Ministério do Esporte, com o prefeito, com o governador. É a mesma coisa.

Leandro Couri/EM/D.A Press

Como viu o atrito recente entre a direção do Cruzeiro e a Federação?

É uma relação de perde-perde, na qual ninguém ganha. Ali foi perde-perde. Um xingou, o outro xingou, os dois (Castellar e Vicintin) foram expostos na mídia de forma boba. Estamos no futebol, então vamos lavar roupa suja em casa. Aconteceu um negócio desse? Diz para a torcida que não vai aceitar e o Cruzeiro vai tomar as providências. No outro dia vou na Federação, assento, vejo quais são as providências, vejo se elas serão tomadas. Depois, em entrevista coletiva, digo que cobrei etc. Não ganho nada quando eu xingo e às vezes faço ataque pessoal. Volto ao que disse da minha campanha: ataque pessoal não vai levar ninguém a lugar nenhum. Tem que ter ideia, tem que ter diálogo, construir e chegar numa solução. Acredito nisso e faria gestão pautada no diálogo, tanto com a Federação como com o Atlético.

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