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Por que brasileiros decidem jogar futebol em Malta?

Ilha no Mediterrâneo, Malta é o quinto país que mais importa atletas brasileiros

postado em 29/03/2017 14:13

Mark Zammit Cordina/Times of Malta
Baixo custo de vida, sol agradável durante todo o ano, segurança financeira e vitrine para as principais ligas europeias: todas essas vantagens são características de Malta, o quinto país que mais importa jogadores profissionais de futebol do Brasil.

Os times do arquipélago ao sul da Itália tiraram 20 atletas do futebol nacional no ano passado, segundo dados divulgados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O país fica atrás apenas de Portugal (164), Japão (46), Coreia do Sul (31) e México (22).

Um dos 20 jogadores que trocaram o Brasil por Malta no ano passado é o meia-atacante Leandro Motta, do Hamrun Spartans, equipe de uma cidade de 9 mil habitantes, que manda seus jogos num estádio para 2 mil pessoas.

O carioca, apesar de gostar de Malta, acredita que a passagem pela liga maltesa deve se encerrar em breve. “Pretendo sair ao fim da temporada. Se ficar por aqui, que seja em um dos times grandes”, projeta Leandro, que atuou ao lado de Christian Maldini, filho de Paolo Maldini, ex-zagueiro e ídolo do Milan e da seleção italiana.

Quarteto

Os clubes com mais estrutura — e que, consequentemente, pagam melhores salários — são Balzan, Sliema Wanderes, Hibernians e Valleta. O último, que leva o nome da capital do país, esteve em quatro edições da Liga dos Campeões nesta década, mas nunca conseguiu chegar à fase de grupos.

Somados, os quatro clubes têm 14 brasileiros. Na última temporada, defendendo o Valletta, o gaúcho Rafael Ledesma levantou a taça da Premier League, a primeira divisão nacional. Revelado no Juventude e campeão carioca de 2004 pelo Flamengo, Rafael defendeu quatro clubes no país. “É um lugar bem tranquilo. O nível do futebol não chega nem perto dos principais clubes da Europa, os jogadores não são nem profissionais”, conta o atacante, ao lembrar que treinava ao lado de corretores de seguro, militares e gerentes de estoque. Hoje, ele “evoluiu”: defende o Jegalva, vice-campeão da Letônia.

Nos últimos anos, Malta tem demonstrado oscilações no cenário do futebol. Em 2009, o país ocupava a 50ª posição (de 53 times) no ranking do coeficiente da Uefa que define as vagas para as competições continentais de clubes. Em 2014, chegou à 47ª colocação (entre 54) da lista e, atualmente, está na 51ª, à frente apenas de três seleções: San Marino, Andorra e Gibraltar.

Alguns brasileiros já se destacaram bastante no futebol maltês. O atacante Camilo Sanvezzo, revelado pelo Corinthians-AL e atualmente no Querétaro, do México, marcou 24 gols em 22 partidas na temporada 2009-10, sagrando-se artilheiro da competição quando defendia o Qormi. Em 2013/14, mais artilharia verde-amarela: Jhonnattan (Birkirkara) e Edison (Hibernians), com 21 gols cada, dividiram o posto de goleador da liga.
 
Refúgio de um ex-Candangão 
 
O meia-atacante Jô Baiano defendeu o Gzira United na última temporada do Campeonato Maltês. O jogador, revelado no Campinense-PB, jogou o Campeonato Brasiliense de 2012 pelo Bandeirante. Ele é amigo de Edmilson Marçal, presidente do clube na época e que agora dirige o Taguatinga, lanterna do Candangão.

Na visão de Jô, o futebol em Malta é levado mais a sério que no Brasil, apesar do semiamadorismo. “São mais profissionais. É melhor em termos de pagamento, responsabilidades com os atletas. Lá, eu tinha muita segurança para trabalhar bem”, disse o atleta, hoje sem clube.

Mas nem só de jogadores desconhecidos e semiprofissionais vive a liga de Malta. Em 2015, o atacante italiano Fabrizio Miccoli, com passagens por Juventus e seleção italiana, defendeu o Birkirkara. Num país com a média salarial na casa dos 2,5 mil euros para atletas estrangeiros, o ex-jogador recebia mais de 30 mil euros, valor pago por patrocinadores. Pelo clube maltês, foram apenas 10 jogos, com nove gols.
 
O maior resultado da história dos clubes de Malta data de 1965, quando o Sliema Wanderers venceu o Panathinaikos, então campeão grego, por 1 x 0, pela Copa dos Campeões da Europa. A seleção maltesa comemora até hoje a vitória por 2 x 1 sobre a Hungria, em 2006, primeira vitória da equipe nas Eliminatórias da Eurocopa. 

*Estagiário sob supervisão de Braitner Moreira