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Sócio do San Lorenzo, papa vira garoto-propaganda do clube de Buenos Aires

Time argentino voltou a ganhar repercussão internacional com a eleição do Papa

postado em 15/03/2013 09:24 / atualizado em 15/03/2013 09:35

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Das últimas 15 atualizações que o San Lorenzo fez em seu Twitter oficial, até a noite de quinta-feira, dez faziam referência a um dos mais ilustres torcedores do clube argentino. Jorge Mario Bergoglio virou uma espécie de garoto-propaganda do time católico de Almagro desde que se tornou o papa Francisco.

“Saiba que para nós não é mais um papa ou o ‘primeiro papa argentino’, latino-americano ou jesuíta; é o ‘Papa do San Lorenzo’ ou, em linguagem bem futebolística, o primeiro ‘Papa Corvo (apelido dos torcedores do time azul-grená)’”, escreve a diretoria do San Lorenzo, em carta que será endereçada ao Vaticano.

A empolgação do San Lorenzo em ter um papa entre seus fiéis é justificada. Tradicional em seu país, o clube não obteve grandes êxitos recentemente: conquistou o Campeonato Argentino pela última vez em 2007 e a Copa Sul-americana, um de seus poucos títulos internacionais, em 2002. Fora de campo, ainda luta para recuperar o terreno de seu antigo e histórico estádio, o Gasómetro, que se situava no bairro portenho de Boedo, foi tomado pela ditadura militar e acabou transformado em um supermercado.

Com as preces de Jorge Mario Bergoglio, o San Lorenzo tem fé em dias melhores. O clube ao menos já voltou a ganhar as manchetes internacionais, conforme alardeou em seu site oficial: “O fanatismo de Francisco pelo San Lorenzo dá a volta ao mundo. Meios de comunicação de México, Espanha, Portugal, Colômbia, Brasil, Peru e Chile repercutiram a notícia”.

A devoção do San Lorenzo por Bergoglio, no entanto, é antiga. Em 2008, o jesuíta celebrou a missa do centenário do clube, posou para fotos com camisas, flâmulas e bandeiras e tornou-se o sócio 88.235 do seu time de coração. Curiosamente, os últimos quatro números da carteirinha do papa foram sorteados nesta semana na loteria argentina Quiniela Nacional.

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Anos antes da coincidência no jogo de azar, Bergoglio já dizia trazer sorte ao San Lorenzo. O novo papa declarou que “não perdia nenhuma partida da campanha de 1946”. Foi um dos melhores anos da história do “Ciclone”, como ficou conhecido o clube portenho. Após a conquista do título argentino daquela temporada, o time fez excursão à Europa e venceu o Atlético Aviación (atual Atlético de Madri), perdeu para o Real Madrid e acumulou oito jogos sem derrotas em sequência, com duas goleadas sobre a seleção da Espanha e uma em cima de Portugal.

O novo papa e sua família não vibraram apenas com os feitos do San Lorenzo no futebol. O pai de Bergoglio foi jogador de basquete do clube, motivo pelo qual Francisco se acostumou a frequentar as instalações em Boedo desde criança. Em maio de 2011, ele tocou no assunto e ainda destacou as raízes católicas de seu time em missa celebrada na Capela Padre Lorenzo Massa: “Nunca tirem a imagem de Maria Auxiliadora (era dia da santa) do clube porque é sua mãe, já que o San Lorenzo nasceu no Oratório Santo Antônio sob proteção da Virgem. Sinto uma alegria enorme por estar aqui, vendo o estádio do San Lorenzo através dos vidros da capela”.

Antes de Bergoglio virar o papa Francisco, outro sacerdote havia sido imprescindível para a história do San Lorenzo, que recebeu o nome em homenagem ao padre Lorenzo Bartolomé Martín Massa. No livro “Memórias do Velho Gasómetro”, o escritor argentino Enrique Escande conta um pouco sobre quem inspirou o time de Almagro: “Massa, despojado das rigidezes que caracterizavam os sacerdotes da época, dedicou horas e horas ao clube, colocou dinheiro, organizou os primeiros papéis, apoiou dezenas de projetos e sempre esteve disposto a opinar quando as ideias ficavam travadas por discussões. Canalizou então sua paixão – os padres também as têm – pelo San Lorenzo de Almagro”.

Na mesma obra, Escande ainda relata que o padre Lorenzo Massa comprou o primeiro uniforme azul-grená do San Lorenzo, intercedeu pelos garotos do time quando eles quebraram janelas com boladas e conseguiu o arrendamento do terreno do antigo Gasómetro. Foi o sacerdote quem trouxe os meninos que fundaram o San Lorenzo para jogar futebol dentro de sua igreja, quando se assustou ao ver um deles (Juan Abbondanza) quase ser atropelado por um bonde.

É certo que o papa Francisco não terá a mesma voluntariedade do padre Lorenzo para ajudar o San Lorenzo. De qualquer forma, já conseguiu motivar os jogadores da equipe com o seu fanatismo. “Sinto um orgulho enorme porque não é algo que acontece todos os dias. Na verdade, não posso nem acreditar. Está correndo nas minhas veias uma sensação muito difícil de descrever, mas linda”, externou o meio-campista Angel Correa, mais um devoto do novo garoto-propaganda do clube.

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