Futebol Internacional
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FASE NA EUROPA

Wellington quase londrino

Emprestado pelo Cruzeiro ao West Ham, da Inglaterra, atacante Wellington Paulista joga pela equipe B e espera chance no time principal

postado em 16/03/2013 08:48 / atualizado em 16/03/2013 11:54

Daniel Camargos/EM/D.A Press
Para fazer sucesso com a camisa do West Ham em um dos campeonatos nacionais mais importantes do mundo, a Premier League, o atacante Wellington Paulista, emprestado pelo Cruzeiro, está disposto a deixar de ser centroavante e passar a atuar mais pelos lados do campo, aprender inglês, suportar o frio e até a saudade do Brasil. Depois de dois meses na capital inglesa, disputou seis partidas com a equipe B do clube, marcou três gols, mas ainda não teve uma chance de ficar nem mesmo no banco de reservas do time principal. Sua expectativa era ser relacionado para a partida de amanhã, contra o Manchester United, em casa, no Estádio Boleyn Ground, em Londres, mas ele novamente ficará só na torcida.

Desde que chegou à capital inglesa, o jogador mora em um espaçoso flat, na área empresarial na Região Leste de Londres – Canary Wharf, considerado o centro financeiro e empresarial da cidade. Da varanda do 37º andar, observa-se um horizonte de arranha-céus e prédios envidraçados. Ele ainda não arrisca as primeiras expressões em inglês e recebe uma professora particular em casa duas vezes por semana. Para se virar, vai mesmo de espanhol, idioma que aprendeu durante a temporada que jogou no Alavés, da Espanha, e, principalmente, conta com a ajuda de um “tradutor”, o atacante português Ricardo Vaz Tê, seu melhor amigo.

“Gosto de trombar e aqui o juiz não apita falta em todo lance”, explica. Para Wellington, muitas vezes o zagueiro brasileiro cai por malandragem para evitar o contato físico e ainda cavar uma falta. O estilo trombador com que ele espera agradar aos ingleses foi motivo de inúmeras críticas entre a torcida cruzeirense. As disputas de bola e as constantes faltas cometidas por ele nos zagueiros desperdiçavam os ataques, provocando vaias das arquibancadas. O atacante entende que deixou de ser unanimidade quando o Cruzeiro brigou para não ser rebaixado no Campeonato Brasileiro de 2011.

“Havíamos chegado à final da Libertadores de 2009, e no ano seguinte fomos vice-campeões brasileiros. A torcida não aceitou aquela situação e todos os jogadores que quase caíram ficaram marcados”, avalia.

NO CLÁSSICO Nem a goleada redentora por 6 a 1 sobre o principal rival, Atlético, na última rodada, serviu para reduzir a desconfiança. Naquela partida, aliás, Wellington foi um dos principais jogadores, marcando um gol e participando diretamente da jogada de outros. Parte da torcida celeste ainda mantinha a confiança em seu futebol, principalmente por ele sempre marcar contra o principal rival. E ele faz questão de retribuir: “Hoje eu não jogaria no Galo”.

Wellington vive em Londres com a esposa e desde a chegada, no início de janeiro, ainda não voltou ao Brasil. Deixou no país a filha, de 4 anos, de outro casamento. Desta vez, o jogador quer ter uma experiência internacional mais bem-sucedida que a primeira, em 2007, quando disputou uma temporada pelo Alavés, jogando a Segunda Divisão do Campeonato Espanhol. “O presidente era meio maluco. Brigávamos para subir para a Primeira Divisão, mas ele demitiu o técnico, começou a dar os treinamentos e no final não pagou ninguém”, lembra Wellington.


CARREIRA
2000 – 2004
Juventus-SP

2005
Paraná

2006
Santos

2007
Alavés

2008
Botafogo

2009, 2010, 2011
Cruzeiro

2012
Cruzeiro e Palmeiras

2013
West Ham


UM CLUBE POR ESQUINA
Londres é uma cidade que respira futebol e a torcida se divide em quase uma dezena de times, muitas vezes bem próximos. Arsenal, Chelsea, Fulham, Queens Park Rangers, Tottenham e Crystal Palace são os principais, com West Ham e Millwall, estes dois rivais da Região Leste. O time de Weelington Paulista serviu de ponte para os argentinos Tévez (Manchester City) e Mascherano (Barcelona) entrarem no mercado europeu. Também é conhecido por ser o clube do coração do baixista do Iron Maiden, Steve Harris, que sempre faz referência ao time nos shows e usa uma munhequeira com o nome do clube nos shows. Harris, inclusive, chegou a jogar nas categorias de base do Ham.

TRAJETÓRIA COMEÇOU NA MOOCA

Nascido no tradicional bairro paulistano da Mooca e criado nas divisões de base do Juventus, o jogador, de 29 anos, já passou pelo Paraná Clube, voltou ao Juventus e foi para o Santos até ir para a Espanha. Quando retornou, em 2008, disputou uma temporada no Botafogo. Lá fez sucesso, ao lado de Jorge Henrique, atualmente no Corinthians. Porém, o time perdeu a final do Campeonato Carioca para o Flamengo, no jogo que ficou conhecido como o do “chôrôrô”, pois jogadores do alvinegro e o técnico Cuca se revoltaram com erros de arbitragem e foram às lágrimas publicamente. Wellington foi o artilheiro daquele torneio, marcando 14 gols.

Em 2009, chegou ao Cruzeiro. Disputou 160 partidas com a camisa da Raposa e marcou 78 gols. Ficou seis meses emprestado ao Palmeiras, mas, sem chances de atuar, votou ao Cruzeiro até o empréstimo ao West Ham. As cores da camisa da equipe do Leste londrino, aliás, remetem a dois clubes queridos de sua carreira: o Juventus, equipe que o revelou para o futebol, e o Cruzeiro.

Para conseguir uma vaga no time titular Wellington terá que mudar de posição, atuando mais pelo lado direito do campo, tendo que voltar para recompor a defesa e ajudar a marcar o adversário. Isso porque a principal estrela é o inglês Andy Carroll, de 1,91m, que está emprestado pelo Liverpool, e atua na mesma posição que o brasileiro. Carroll, inclusive, já vestiu a camisa da Seleção Inglesa e seus direitos custaram 35 milhões de libras (R$ 102 milhões) quando foi vendido do Newcastle ao time da cidade dos Beatles como uma grande contratação. Foi um fracasso, virou motivo de piada e acabou emprestado ao Ham.

Outro que também tem o talento questionado na Inglaterra e que disputa uma posição no ataque do clube é o marroquinho Chamakh, emprestado pelo Arsenal. Um dos principais jogadores do time é Joe Cole, que foi revelado no clube mas fez sucesso jogando pelo Chelsea.

Mesmo sem entrar em campo pela principal equipe, Wellington chamou atenção da mídia inglesa, principalmente dos tabloides sensacionalisas. Quando a equipe aproveitou uma semana de folga para treinar em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e fugir do frio inglês, Wellington preferiu ficar e treinar com o quadro B em Londres. “Estava mal fisicamente. Cheguei aqui sem ter feito a pré-temporada e precisava treinar a parte física. O treinador adorou minha ideia e me deu os parabéns”, conta o jogador. É claro que, para decodificar o que o treinador inglês Sam Allardyce falava, contou com mais uma vez com a ajuda do “tradutor” português Ricardo Vaz Tê.

NAMORO COMEÇOU HÁ TRÊS ANOS


As investidas do clube londrino para contratar o jogador começaram há três anos, quando Wellington conseguiu um passaporte europeu. Isso porque seus avós nasceram na Itália. “Sempre disse que não iria por empréstimo, só se comprassem meu passe”, lembra o jogador. Porém, acabou cedendo e aceitou o empréstimo por seis meses, com possibilidade de renovação e compra dos direitos para mais três temporadas.

Em Londres, Paulista já aproveitou para visitar as principais atrações turísticas da cidade. Cita o Palácio de Buckingham, o Museu de Cera Madame Tussauds e a região de Picadilly Circus. Ainda desconhecido dos ingleses, até se assustou quando um brasileiro e cruzeirense o reconheceu em uma loja no Centro da cidade e lhe pediu um autógrafo. Em Belo Horizonte, porém, o assédio não é só dos torcedores do time azul. “Vários atleticanos que encontro pedem para eu ir para o Galo. Dizem que tenho características e jeito de jogador deles”, afirma.

Wellington ainda não se entrosou com os outros jogadores brasileiros que atuam em times londrinos. Quando jogou contra a equipe B do Tottenham, encontrou o volante Sandro, que estava machucado e assistiu à partida. Nem com os brasileiros do Chelsea, David Luiz, Oscar e Ramires, ele fez contato. “Tem foto do Ramires para tudo quanto é lado em Londres. Na estação do metrô aqui perto tem uma”, destaca Wellington, que foi companheiro do volante da Seleção Brasileira no Cruzeiro, e juntos chegaram à final da Libertadores, em 2009, perdida para os argentinos do Estudiantes.

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