Futebol Nacional
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UM MOMENTO NA HISTÓRIA

Um craque em duas frentes

postado em 14/03/2013 09:35

Numa época em que o futebol era totalmente diferente do atual, um médio-direito construiu carreira peculiar no Cruzeiro. Natural de Pedro Leopoldo (nasceu 45 dias depois da fundação do Palestra Itália), onde defendeu Industrial e Pedro Leopoldo, Adelino Gonçalves Torres começou a jogar no Barro Preto em 1943, quando servia o Exército no 12º Batalhão de Infantaria, em Belo Horizonte.

Em março de 1944, ele foi convocado para a Segunda Guerra Mundial e lutou na linha de frente em Monte Castello, Montese e Montecatini, na Itália. Ao contrário de outros jogadores, como os também mineiros Geninho e Perácio, que atuavam no futebol carioca, Adelino não fez parte da Seleção da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que em momentos mais tranquilos do conflito enfrentava seleções militares de outros países.

“Vivi dias de terror. Lá estava eu, vendo tombar companheiros varados pelas balas inimigas. Devo ter mandado para o outro mundo muito alemão, não sei precisar quanto e nem gosto de recordar esse tempo. Fui parar em um hospital, em Livorno, vítima de deslocamento de ar, depois que uma granada explodiu a poucos metros de mim. Quando dei pela coisa, estava entre paredes bancas e enfermeiras que não falavam nossa língua”, recordou, em entrevista ao Diário da Tarde, em 7 de março de 1958.

Adelino também relembrou o momento em que ficou sabendo do término do conflito: “Estava em Palma, quando nos chegou a notícia do fim da guerra. Não esqueci jamais o delírio dos pracinhas. Foram dias de bebedeiras, danças, uma farra homérica. Finalmente, poderíamos voltar ao Brasil, sãos e salvos. Nossa alegria somente tinha interrupção quando lembrávamos dos companheiros que haviam ido para Pistoia (onde eram enterrados os soldados brasileiros) para nunca mais voltar...”

RETORNO Adelino voltou a jogar pelo Cruzeiro em 23 de setembro de 1945, na vitória por 3 a 1 sobre o Villa Nova, no Barro Preto, pelo Campeonato Mineiro. A reportagem do Diário da Tarde, em 1958, mostrava outra curiosidade da carreira do jogador: ao mesmo tempo em que defendia o Cruzeiro, ele trabalhava na Fábrica de Calçados Ballesteros. “Conhece todos os segredos do ofício. Sua especialidade: palmilhagem e acabamento, tarefa que exige o máximo de perfeição”, definia o jornal. A empresa em que o atleta trabalhava desde 1950, das 7h às 16h, dava a ele liberdade para participar de treinos e viagens com o Cruzeiro e com a Seleção Mineira.

Adelino não tinha planos de parar de jogar: “Enquanto deixarem, estarei em campo, pois resistência não me falta. Sempre levei vida metódica e agora, casado, ainda mais levo vida caseira”, afirmava o médio-direito, que tinha se casado em 18 de fevereiro com Ambrosina Caldeira. Ele parou de jogar no ano seguinte, depois de 16 anos e 409 partidas pela Raposa. Também técnico interino em cinco oportunidades, morreu em 7 de dezembro de 1978, em Belo Horizonte.