Futebol Nacional
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CAMPEONATO MINEIRO

Missão é levantar a cabeça

Jogadores do Cruzeiro juntam os cacos e garantem que a guerra ainda não acabou

postado em 14/05/2013 08:38 / atualizado em 14/05/2013 08:41

Paulo Filgueiras/EM/D.A Press
A goleada para o Atlético, no primeiro jogo da final do Campeonato Mineiro, ainda dói na alma cruzeirense. Mas é preciso juntar os cacos e buscar forças para continuar lutando pelo título. Como perdeu por 3 a 0, o time precisa vencer por três gols de diferença para ficar com a taça, tarefa nada fácil, mas não impossível.

A inspiração para a equipe celeste se superar está na própria história. A última vez que conseguiu virar situação tão adversa foi na decisão da Supercopa de 1991, na qual perdeu por 2 a 0 para o River Plate, em Buenos Aires, gols de Rivarola e Higuaín, e venceu por 3 a 0 no Mineirão, gols do volante Ademir e do atacante Mário Tilico, que fez dois.

Aquele título marcou uma nova era no clube do Barro Preto, que deixou para trás uma década de vacas magras e conquistou no mínimo um título por ano até 2004, se tornando uma das equipes mais vencedoras do Brasil. Na oportunidade o Cruzeiro, dirigido por Ênio Andrade, jogou com Paulo César; Nonato, Paulão, Adílson e Célio Gaúcho; Ademir, Boiadeiro e Luís Fernando; Mário Tilico, Charles e Marquinhos. Já o River Plate, do técnico Daniel Passarella, atuou com Comizzo; Gordillo, Higuaín, Rivarola e Enrique; Hernán Dias, Astrada, Zapata e Borelli; Medina Bello e Ramón Diaz. “O que mais me marcou naquela decisão foi o Ênio Andrade, que acreditou o tempo inteiro. Durante toda a semana, ele conversou com cada um dos jogadores, falou em marcar época, fazer história, mostrou que tínhamos que acreditar, só nós poderíamos mudar a situação”, lembrou Charles. “Os jogadores atuais também têm uma tarefa difícil. O time do Atlético é o melhor da América. Se o Cruzeiro conseguir inverter o resultado, será histórico. No futebol tudo é possível.”

Já Mário Tilico ressaltou a “ajuda” vinda das arquibancadas. “Foram 70 mil torcedores nos apoiando do início ao fim, isso intimidou o time do River e nos deu moral. A cada bola dividida, a cada lance de perigo, nossa torcida se inflamava mais”, disse. “O River era um grande time, como é o Atlético hoje, mas acreditamos em nós mesmos e entramos para a história do clube.” Já o armador Marco Antônio Boiadeiro, como torcedor celeste, mandou um recado aos atletas. “Você pode perder o campeonato, mas não pode perder o clássico. Tem que lutar até o fim. O Atlético é um grande time e vai jogar esperando o contra-ataque, mas o Cruzeiro tem que ser firme e brigar até o fim, dar a vida nos 90 minutos.”

Naquela ocasião, foi importante o apoio dos 67.279 torcedores que pagaram ingressos para lotar o gigante da Pampulha. Agora, eles poderão novamente ajudar a Raposa a manter os 100% de aproveitamento no novo Mineirão – desde a reinauguração, em 3 de fevereiro, soma sete vitórias em sete jogos no estádio, sendo seis como mandante.

Entre os jogadores, o discurso é de que nada está perdido, ainda que reconheçam que a situação ficou bastante complicada. “Infelizmente a nossa invencibilidade (de 15 jogos) caiu, mas o campeonato ainda será decidido em mais 90 minutos”, ponderou o volante Nílton, que aposta no bom retrospecto no estádio para buscar o resultado que interessa ao Cruzeiro. “Temos que levantar a cabeça e ir para o Mineirão. Vamos tentar apresentar aquele futebol que vinha surpreendendo os adversários.”

Falando sobre a derrota de domingo, o jogador admite que o adversário foi superior. “Nossa equipe começou bem na marcação, anulando algumas jogadas deles. Mas infelizmente nós acabamos tendo uma falta de atenção e eles tiveram a felicidade em alguns chutes, construindo o placar”, declarou o volante, que perdeu a bola no lance que originou o segundo atleticano.

ADVERSÁRIO FORTE

A defesa celeste, aliás, deverá merecer atenção especial do técnico Marcelo Oliveira nos treinos desta semana. Afinal, vai encarar novamente o ataque alvinegro, que só não marcou gol em uma das 22 partidas que disputou, diante do São Paulo, no Morumbi, quando já estava classificado com a melhor campanha da fase de grupos da Copa Libertadores.

Por outro lado, também se espera mais do ataque azul, que vinha muito bem e pegará uma equipe que só não sofreu gol em cinco oportunidades. Se conseguirem o resultado que lhes dará o título, os cruzeirenses serão os primeiros a fazer três ou mais gols nos atleticanos nesta temporada.

Os jogadores do Cruzeiro ganharam folga ontem e voltam aos treinos na manhã de hoje, quando começam a se prepara para o segundo jogo. Uma mudança já está certa na equipe: com Bruno Rodrigo suspenso por ter sido expulso no domingo, Marcelo Oliveira deve confirmar Paulão como companheiro de zaga de Leo.

Uma dúvida é quanto à lateral esquerda. Éverton não esteve bem no primeiro jogo, permitindo ao Atlético criar o lance do primeiro gol, e acabou substituído por Egídio, que poderá ganhar a vaga e começar jogando na próxima partida. (com Gilmar Laignier)

MEMÓRIA

Lembrança de 67


O Campeonato Mineiro de 1967 foi emocionante, com Atlético e Cruzeiro terminando a primeira fase empatados, com 35 pontos, 15 vitórias, cinco empates e duas derrotas em 22 jogos. Foi necessário uma melhor de três para definir o campeão, e o Cruzeiro venceu os dois jogos (3 a 1 e 3 a 0), conquistando o título nas rodadas seguintes. O clássico da fase de classificação foi espetacular. O Atlético vencia por 3 a 0, sua torcida já comemorava a vantagem que o aproximava da taça (os triunfos valiam 2 pontos), quando o Cruzeiro reagiu – gols de Natal (2) e Piazza (pênalti). Foi uma tarde com tanta chuva que o ex-goleiro Raul diz que o futebol estava mais para ser jogado com pé de pato. Lacy, no primeiro tempo, deu um show. Fez dois gols. O outro foi marcado por Ronaldo. O Cruzeiro disputou o segundo tempo com 10 jogadores devido à expulsão de Procópio. Seu maior ídolo, Tostão, se machucou no começo e foi substituído por Zé Carlos. A partir dali, Natal passou a ser chamado de “Diabo Louro”.