Futebol Nacional
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UM MOMENTO NA HISTÓRIA

Uma noite com gatunos e ébrios

postado em 01/08/2013 08:41

Arquivo EM
Não é raro no futebol ouvir a expressão que tal situação é caso de polícia. Mas foi literalmente isso o que ocorreu com o Cruzeiro na primeira vez que o time jogou na Bahia, em julho de 1946. “Cracks presos junto com ladrões. Dormiram no xadrez com o uniforme de futebol” foram manchetes do Estado de Minas de 2 de agosto daquele ano, que noticiava o retorno da delegação celeste a Belo Horizonte.

Os problemas ocorreram na segunda das três partidas em Salvador, contra o Vitória, em 24 de julho – o Cruzeiro foi goleado por 5 a 2. Tudo começou quando o diretor de árbitros da Federação Baiana, Carlos Alberto Godinho, não permitiu que o mineiro Willer Costa, que acompanhava a delegação celeste, apitasse o jogo, como era costume na época. Ele mesmo havia se escalado para o amistoso.

O Estado de Minas até reproduziu texto do jornal carioca Diário da Noite sobre o episódio, com a alegação de se tratar “de um noticiário insuspeito, de um jornal neutro”. “Os mineiros tiveram que entrar em campo quase obrigados, uma vez que a polícia os ameaçava de prisão, se se recusassem a entrar em campo”, relatava o jornal.

A confusão começou aos 3min do segundo tempo, quando Ismael foi expulso por ter desrespeitado o árbitro. Pouco depois, Carlos Godinho marcou pênalti contra o Cruzeiro. Bibi se revoltou e tentou agredi-lo. Foi expulso e preso. O técnico Francisco Trindade protestou e acabou detido também. Depois do jogo, Caierinha tentou agredir o árbitro e foi outro preso.

NA PRISÃO Segundo o Diário da Noite, na Delegacia de Costumes, os jogadores e o técnico cruzeirenses “foram maltratados pelos policiais e recolhidos a um xadrez comum, onde havia gatunos e ébrios; não tiveram permissão para mudar de roupa, passando toda a noite de calções e camisas de futebol. Na manhã do dia seguinte foram obrigados a fazer faxina”.

O presidente do clube, Mário Grosso, em entrevista ao EM, garantiu que não houve agressão ao árbitro. Bibi teria apenas protestado contra a marcação do segundo pênalti contra o Cruzeiro, o treinador invadira o campo para mandar a equipe sair, e Caieirinha cumprimentado ironicamente o árbitro após a partida. Os jogadores foram liberados da prisão às 10h do dia seguinte (Bibi se recusou a fazer a faxina, ordenada pelo carcereiro). O clube ameaçou não disputar o terceiro amistoso, contra o Bahia, mas acabou cedendo – empate por 2 a 2, no dia 28. A delegação retornou a Belo Horizonte na quinta-feira, dia 1º, e, no domingo, empatou também por 2 a 2 com o Atlético, no Barro Preto, pelo Campeonato Mineiro.