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SÃO PAULO

Leco dispara contra oposição, relata "tapinhas" em invasão ao CT e promete ir à luta

Presidente do São Paulo minimizou violência da torcida, que agrediu jogadores

postado em 27/08/2016 19:06 / atualizado em 27/08/2016 19:27

Igor Amorim - saopaulofc.net

O presidente do Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, convocou a imprensa na tarde deste sábado para se pronunciar e responder as questões dos jornalistas após o protesto violento que alguns torcedores promoveram no Centro de Treinamento do clube, na Barra Funda, pela manhã. Com o semblante fechado, Leco foi firme em todas suas respostas. Na maior parte do tempo, se dirigiu com repulsa a pessoas ligadas a oposição política do São Paulo, confirmou as agressões a Wesley, Carlinhos e Michel Bastos, mas minimizou dizendo que foram apenas "tapinhas".

"Os idealizadores não querem o bem do São Paulo. Apostam no quanto pior melhor. Não vão triunfar. Quem pagou ônibus para a torcida vir ao CT? Quem incitou atos contra jogadores e funcionários?", esbravejou Leco, jogando toda a responsabilidade pelos atos de violência sobre seus opositores, mas sempre com o cuidado de não citar nomes.

"Isso é tudo o que eles querem. Tem gente que torce contra, deseja revés e insucesso. Não querem o bem do São Paulo, infelizmente. Direi isso a vida toda. Vai para o jogo democrático e ganha quem tiver mais razão e força. Por enquanto, somos nós", disse, exaltado, alegando até uma espécie de perseguição contra sua atual condição.

"É o clube que se prejudica. Daqui a pouco vou embora. Tenho a glória, nas poucas conquistas da minha vida, de estar aqui, mas amo como todos amam. Não precisam me atingir. Estão atingindo o São Paulo", reforçou.

Apesar de exaltar a gravidade do ocorrido, o mandatário tentou enaltecer a postura e as atitudes do clube diante do que denominou como "caos". Segundo Leco, o protesto poderia ter acabado de forma pior e garantiu que não irá ceder a pressão de reatar com as torcidas organizadas depois do último rompimento.

"Mantemos nossa posição. Quando tomamos a iniciativa de romper, éramos cientes do que aconteceria", avisou, antes de tentar minimizar os reflexos das agressões aos atletas. "Os jogadores não fizeram queixas pessoais, porque as agressões foram empurrões, tapinhas e chutinhos, mais para demonstrar inconformismo", explicou.

Quando perguntado sobre quais serão os passos a serem dados pelo clube a partir disso para que os atos de vandalismo não fiquem impunes, até porque bolas, camisas e outros objetos foram roubados e furtados de dentro do CT, Leco mais uma vez se utilizou de palavras fortes.

"Já tomamos providências, envolvemos a polícia, o Ministério Público, a Federação Paulista de Futebol. Abrimos um Boletim de Ocorrência imediatamente e apresentamos uma representação na polícia para que haja um instrumento de identificação e abordagem plena. Temos imagens de tudo e de todos", avisou, já cobrando as autoridades para alguma ação prática. "A responsabilidade é do Estado, das autoridades, do Ministério Público, de um juiz que venha a julgar".

Confira a entrevista coletiva de Leco na íntegra:

Pronunciamento do presidente Leco


"O que assistimos hoje foi deplorável. Deplorável sob vários aspectos. As dependências do nosso CT foram invadidas, jogadores foram intimidados em seu ambiente de trabalho, alguns foram agredidos fisicamente e objetos pessoais e do clube foram furtados. O São Paulo foi vítima de vandalismo, atos criminosos, que serão apurados com todo vigor. As providências para isso já foram tomadas. Primeiro quero prestar minha solidariedade ao elenco, à comissão técnica e aos profissionais que aqui trabalham. As cobranças são legítimas e necessárias, mas o que aconteceu aqui foi outra coisa, que não vamos aceitar. Segundo, quero dizer aos autores e idealizadores deste ato, que não me intimidam mesmo. Muito pelo contrário. Uma coisa é a insatisfação da torcida pela situação no campeonato ou por uma derrota que todos sabem ser inaceitável (Juventude). Outra é uma ação política arquitetada para abarcar a administração do clube. Os idealizadores não querem o bem do São Paulo. Apostam no quanto pior melhor. Não vão triunfar. Quem pagou ônibus para a torcida vir ao CT? Quem incitou atos contra jogadores e funcionários? Vocês da imprensa devem investigar. Como presidente, quero reiterar que sei da insatisfação da imensa nação são-paulina com o desempenho do campeonato neste momento. É minha também. Mas sei também que nossa nação não apoia e nem tolera atos de vandalismo como os de hoje. Não tenho dúvida de que havia torcedor bem intencionado, gente com vontade genuína de expor seu amor pelo São Paulo. Esses eu respeito e converso. Os gestores da baderna, porém, não tolero. São figuras menores, que tentam usar a torcida organizada como massa de manobra. Vamos responder dentro de campo, com uma gestão responsável e correta, de forma transparente e dentro da lei. Assim se posiciona o São Paulo diante desse quadro lamentável".

Entrar ou não entrar em campo

"Completamente fora de cogitação não entrar em campo. Vamos, sim. Embora tenha estado com os jogadores, foi individualmente. Estava em Cotia mais cedo, na inauguração do busto para Juvenal Juvêncio, uma festa linda. Quando cheguei a coisa já tinha acontecido e falei espontaneamente com alguns. Quem teve conversa mais íntima foi o Ricardo Gomes e ele acha que o episódio será superado no campo".

Possível envolvimento da oposição do clube

"O cunho político é nítido porque, lamentavalmente, encontramos manifestações de figuras da oposição por criticar a administração e tentar desestabilizar. Referências de apoio, de que foi certo, foi bom, o que é algo impensável e inacreditável que o São Paulo tenha pessoas em seu seio que aplaudam isso".

Decisões do clube após tomar ciência do protesto

"Em nenhum momento passou pela cabeça cancelar ou mudar o treinamento. Seriam estratégias que não seriam as melhores para nossa estrutura. E quem quer fazer o mal, faz em qualquer lugar. Ficamos aqui fazendo nosso trabalho, mas infelizmente houve excessos. Tenho que ressaltar, e faço olhando os outros lados dos fatos, que não aconteceu nada mais grave. Estivemos perto de algo mais grave, como confronto da polícia com a torcida ou uma agressão mais severa a atletas ou funcionários. Não houve tanta violência, mas mais agressividade".

Medidas que o clube vai adotar agora

"Já tomamos providências, envolvemos a polícia, o Ministério Público, a Federação Paulista de Futebol. Abrimos um Boletim de Ocorrência imediatamente e apresentamos uma representação na polícia para que haja um instrumento de identificação e abordagem plena. Temos imagens de tudo e de todos. E as forças policiais e autoridades terão, naturalmente, esses elementos a mais para verificar o que aconteceu e a razão".

Rompimento com as torcidas organizadas

"Mantemos nossa posição. Quando tomamos a iniciativa de romper, éramos cientes do que aconteceria".

Reflexo em campo

"Cada um tem uma particularidade diante dos acontecimentos. Esperamos que, dentro de um contexto maior, eles se sintam perfeitamente confortáveis e seguros no São Paulo pelo profissional que são. Admitimos críticas e ponderações, desde que sejam respeitosas e jamais atinjam as raias da violência. Ricardo pediu que eu ficasse tranquilo e está sossegado, até treinando agora para descontrair um pouco a tensão. E que resulte amanhã em uma boa performance. Precisamos disso".

Consequências das agressões a jogadores

"Acredito que não. Infelizmente, esse fenômeno não é incomum e nem exclusivo do São Paulo. Tivemos episódios recentes com times até de São Paulo. Não é um fator. Os jogadores não fizeram queixas pessoais, porque as agressões foram empurrões, tapinhas e chutinhos, mais para demonstrar inconformismo. Uns foram mais visados que outros. O São Paulo tomou uma iniciativa de caráter geral, com as agressões documentadas, mas não realçadas como tema central. O fato todo é grave".

Punições que podem acontecer

"Não tenho autoridade e conhecimento para responder isso, mas no mínimo uma punição que iniba comportamentos como esse. Que nunca chegue às raias de ameaças, vandalismo e etc. Quando digo tapinhas e empurrões, é porque foram mesmo. Graças a Deus não foi nada grave. E só não houve porque não teve reação maior, senão estaríamos lamentando uma tragédia. A responsabilidade é do Estado, das autoridades, do Ministério Público, de um juiz que venha a julgar. A única coisa que digo é que não ficamos inertes".

Ação de Lugano e Maicon em conversarem com a torcida

"Positivo. Há 12 anos, como diretor de futebol, eu tive de receber líderes de torcidas e considero que o resultado foi bom. E é sempre melhor enfrentar e conversar, se for possível em questão de respeito. O que temos de considerar nisso tudo é que lideranças emergem e são reconhecidas por todos, são necessárias para dar uma palavra e mostrar que atos de irracionalidade e agressões não cabem nessa hora. Sabe o que aconteceu depois? Teve gente que tentou tirar selfie. Depois, roubaram 14 bolas nossas. Vários entraram na invasão e ficaram jogando bola no outro campo. Todos estavam movidos por uma organização de protesto contra o estado do São Paulo, mas cada um tinha um objetivo específico de como agiria. De gritar conta mim, contra o Michel, de jogar bola, pegar o boné do Pintado? Aquele momento atemoriza as pessoas, você não sabe como se comportar, mas sei que o São Paulo teve grandeza e tranquilidade para reduzir o fato. Fomos magníficos. Amanhã, se Deus quiser, se nós ganharmos, os ânimos estarão mais calmos. Depois, nossa comunidade, em grande parte, condenará tudo".

Relação entre situação e oposição

"Não posso responder por ela. Enquanto presidente, tento cuidar do clube, de ter uma equipe que atenda os requisitos de todos. Mas há pessoas inconformadas de não ter cargos. É uma oposição injusta, construída por desvios não verdadeiros do que estamos fazendo, que se aproveita de um momento difícil que vivemos. Uma oposição construtiva e respeitosa pode ser importante".

Conversa com jogadores agredidos

"Pretendo, sem dúvida. Para transmitir nosso apoio, a segurança de que eles poderão trabalhar e exercer a profissão com tranquilidade. Não existe uma receita específica, mas uma conduta, um procedimento que o São Paulo tem para tranquilizar o grupo de trabalho. As piores experiências não foram nossas, foram de outros clubes, e mesmo assim as coisas se controlam".

Como controlar a guerra política

"Não sei, mas isso é tudo o que eles querem. Tem gente que torce contra, deseja revés e insucesso. Não querem o bem do São Paulo, infelizmente. Direi isso a vida toda. Vai para o jogo democrático e ganha quem tiver mais razão e força. Por enquanto, somos nós".

Mais sobre a política do clube

"Há uma orquestração política de algumas pessoas, não necessariamente de dentro, mas que ficam o tempo todo municiando e até financiando, querendo perturbar a administração do São Paulo. E quando eles fazem isso e imaginam que estão me afetando, sinceramente não me sinto assim. É o clube que se prejudica. Daqui a pouco vou embora. Tenho a glória, nas poucas conquistas da minha vida, de estar aqui, mas amo como todos amam. Não precisam me atingir. Estão atingindo o São Paulo. E o São Paulo fala mais alto em mim do que eu mesmo".

 

 

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