Futebol Nacional
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Fome e sede no cardápio

postado em 04/02/2013 08:42 / atualizado em 04/02/2013 08:45

Alice Nunes Braga, 21 anos, cruzeirense, saiu cedo de casa atendendo ao clamor da organização do clássico. Mas, como milhares de torcedores, custou a entrar no Mineirão. Tudo por causa do congestionamento na Avenida Carlos Luz, por volta das 13h, da entrada do Bairro Ouro Preto até o acesso ao Gigante da Pampulha. O estacionamento do estádio só foi liberado às 14h, mesmo horário programado para a abertura dos portões, o que aumentou a confusão. “Um absurdo! A gente tenta chegar cedo para evitar esse tipo de problema, mas a própria organização não se entende. Quero só ver na Copa!”, desabafou a torcedora.

A demora na liberação do estacionamento (por uma questão de bom senso, o horário programado poderia ter sido revisto e antecipado, em função do tumulto) foi apenas um dos problemas enfrentados por atleticanos e cruzeirenses no primeiro jogo no Mineirão depois da reforma para a Copa das Confederações’2013 e o Mundial’2104.

Somente dois bares funcionaram – um no setor de cada torcida. “Não há um bar sequer aberto no bloco 339, não temos como tomar água nem comer absolutamente nada. Eles alegam que não há ficha para trabalhar. Como assim? O banheiro está com a parte elétrica inacabada e vazando água nas lâmpadas, correndo risco de um curto-circuito. O porta-papel não funciona. Sinceramente, prefiro o velho Mineirão, onde a gente comia, bebia, comprava ingresso e conseguia entrar. Hoje a gente paga caro e não tem o serviço”, afirmou o atleticano Fábio Rogério Alves, de 31 anos, natural de Ouro Preto.

A informação era de que os bares não abriram porque não conseguiram documentação na Secretaria da Fazenda para emissão de cupom fiscal. De acordo com o atendente de um dos bares do setor 339, que não quis se identificar, também faltava mercadoria, água e gelo. Para complicar a vida do torcedor, no intervalo já não havia papel higiênico nos banheiros e em vários deles faltou água.

REVISTA Antes de passar pelas catracas de acesso ao estádio, os torcedores eram submetidos à vistoria de praxe. O serviço, no entanto, não era feito pela Polícia Militar como anteriormente, mas por seguranças contratados. Segundo o tenente-coronel Alberto Luiz, a medida adotada pela organização do evento e a Minas Arena, administradora do Mineirão, respeitou o padrão Fifa. “Em Copas do Mundo, o trabalho da PM fica reduzido ao entorno do estádio. Estamos aqui dentro de teimosos que somos.”

Muitos dos orientadores responsáveis por conduzir as pessoas a seus lugares estavam mal informados e indicavam um colega para tentar resolver as dúvidas. Teve torcedor que foi direcionado para portão diferente de onde estava situada a cadeira adquirida. Quanto aos lugares marcados, houve quem usasse o jeitinho brasileiro para ocupar um assento diferente do que havia comprado. Foi o caso de Frederico Rodrigues, de 33 anos. Como não conseguiu cadeira perto do irmão Felipe Miranda, de 10, ele ocupou uma mais próxima e aguardou a chegada do dono: “Se chegar o dono da cadeira, eu converso. É o jeito”.

Deficientes físicos também encontraram dificuldades. Não havia rampas para cadeirantes em todos os acessos e muitos voltaram para casa, mesmo tendo ingresso na mão. Restos de material de construção foram vistos em várias partes do estádio. E, como no Independência, muita gente teve problemas para usar os telefones, já que as ligações não eram completadas. Por fim, o elevador destinado a autoridades e imprensa estragou, superlotando a escada.

Silêncio oficial
Por meio da assessoria de imprensa, a Minas Arena informou que não se pronunciaria ontem. Acrescentou que os problemas serão relacionados e avaliados e que as perguntas seriam respondidas por demanda posteriormente. E que o presidente da empresa, Ricardo Barra, só falará em coletiva, se for necessário. (LS)

 

ANÁLISE DA NOTÍCIA

Sem água e sem comida

Kelen Cristina
A confusão no trânsito era esperada, por ser um duelo de grande público. As dúvidas no acesso às cadeiras também estavam dentro da expectativa. Tudo no Mineirão era novidade para o torcedor. Por isso, certa dose de desacerto seria compreensível. Mas alguns problemas na reabertura do Gigante da Pampulha foram inaceitáveis. E a questão dos bares é uma delas. Não há justificativa plausível para a falha. A alegada falta de documentação para funcionamento indica, no mínimo, desorganização. Cobraram que os torcedores chegassem cedo e a maioria assim o fez. Mas quem seguiu a orientação acabou punido, sem comida e sem água. Não se pode cobrar ingresso de país de Primeiro Mundo se a prestação de serviço é tão amadora. As autoridades não podem ficar passivas diante de tamanho desrespeito ao torcedor. 

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