Futebol Nacional
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CAMPEONATO MINEIRO

Num autêntico alçapão

Dimensões acanhadas, campo colado no alambrado e pressão da torcida fazem do Castor Cifuentes o caldeirão do Villa Nova, que sábado recebe o Cruzeiro. Ambos estão invictos

postado em 28/03/2013 08:07

RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS
Não é por acaso que o Estádio Castor Cifuentes, um dos mais antigos do futebol mineiro, inaugurado em 1930, foi batizado Alçapão do Bonfim com todas as honras. No sábado, quando o Villa Nova receber o Cruzeiro, às 18h30, pela oitava rodada do Campeonato Mineiro, estarão em jogo a tradição, a rivalidade, a invencibilidade das duas equipes e o possível passaporte para as semifinais. Além disso, a disputa num campo acanhado, com segurança questionável, e em que a pressão volta e meia passa dos limites. Tudo para transformar o duelo num espetáculo marcante, como ocorreu em 1997. O Villa venceu o primeiro jogo das finais do Campeonato Mineiro, em Nova Lima, por 2 a 1 e perdeu no Mineirão por 1 a 0, gol de Marcelo Ramos, resultado que deu o título mineiro aos celestes e o recorde estadual de público: 132.834 pessoas.

Há em Nova Lima um clima de euforia pelo fato de o Villa Nova estar invicto, crescendo na competição e sonhando alto. O velho campo do Leão do Bonfim recebeu uma maquiagem e algumas obras que deixam os villa-novenses orgulhosos pelo gramado, a arquibancada e os banheiros pintados e ainda dois acessos para ambulâncias, exigências da FMF para a liberação. Nas primeiras rodadas houve interdição, com sinal verde somente nas duas últimas, a de empate por 1 a 1 com a Caldense e da vitória por 3 a 1 sobre o Boa. A área de imprensa também foi reformulada, agora com zona mista, onde serão ouvidos jogadores e técnicos.

As dimensões reduzidas do espaço para torcedores, a proximidade das quatro linhas e falhas no alambrado, porém, ainda colocam em xeque a integridade de quem joga e de quem assiste ao duelo. Nesse cenário histórico de grandes partidas, mas também de grandes confrontos, a Polícia Militar colocará 300 homens no entorno e no estádio. Blitz barrará o acesso à cidade de torcedores que não tenham ingressos. Nas imediações do Castor Cifuentes, o trânsito não será permitido a partir das 15h.

O Villa chegou a pedir a transferência da partida para o Mineirão, onde projetava uma arrecadação líquida de pelo menos a R$ 300 mil, enquanto o teto que poderá alcançar em casa será R$ 200 mil se todos os ingressos forem vendidos.

O município, de 85 mil habitantes, no passado era dominado pelo vermelho e branco do Leão, mas hoje tem a predominância do azul ou do preto e branco. A precariedade do estadinho já rendeu muitas críticas ao clube, como nos episódios de 1985, quando o árbitro Maurílio José Santiago confirmou um gol do visitante América, em que o atacante Ilton estava impedido. O maqueiro Pedro Lúcio Barbosa invadiu o gramado e quebrou a maca nas costas do juiz. O jogo foi suspenso aos 28mim do segundo tempo, com vitória do Coelho por 1 a 0. A punição: interdição por três anos.

Em 1997, coube a uma torcida visitante, a do Fluminense, dar um espetáculo de selvageria. Na vitória do Villa por 2 a 0, pela Série C, vários torcedores entraram em campo, ameaçaram os jogadores do tricolor carioca e, ao fim, promoveram uma quebradeira do lado de fora nos bares da vizinhança. O assunto teve repercussão nacional.

Pelo Campeonato Mineiro de 2007, exatamente contra o Cruzeiro, houve uma batalha na arquibancada envolvendo excessos de torcedores e da Polícia Militar. No Alçapão, a temperatura facilmente vira febre, como recorda o torcedor do Leão, Adair Lucas de Almeida, de 62 anos: “O Villa foi sempre valente. Faz parte de nossa história, com conquistas memoráveis, como os títulos da Segunda Divisão, em 1971, e da Copa Centro–Sul, em 1968, mas há os exageros por parte dos adversários, que não aceitamos”.

BAIXO INVESTIMENTO
O time atual não tem estrelas, mas um conjunto que se impõe. O jogador Tchô, revelado pelo Atlético, é um dos destaques do time, como o volante Cléber Monteiro, ex-Cruzeiro. Mas o Villa Nova não tem como deixar de ser um clube que engatinha em sua estrutura, como os de fora da capital. Faltam-lhe profissionais para o departamento de marketing, jurídico, administrativo. Sua história centenária, de 16 títulos, é que o faz grande. A ponto de, com um investimento mensal de R$ 200 mil, custo de um jogador médio das grandes equipes do futebol brasileiro, ser capaz de ameaçar os grandes times. É o terceiro do Estadual, com 15 pontos, na zona de classificação que leva às semifinais.

Com os ingressos em mãos, os garotos cruzeirenses Bruno Eduardo e Bruno Eládio, ambos de Raposos, e o atleticano Cristiano Paula, de Nova Lima, avaliam o adversário com respeito. Eles projetam um jogo disputado no sábado. Ainda que destaquem a qualidade do Cruzeiro, Cristiano, acostumado com o Alçapão do Bonfim, avisa: “Esse Villa está com cara de que vai chegar. Vai ser muito bom para Nova Lima. Queremos ser vistos de outra forma pelos outros torcedores. Chega de nos criticar pelas condições de nosso estádio e pela violência”.


MEMÓRIA
Pancadaria em 2007

Em 4 de fevereiro de 2007, Cruzeiro e Villa Nova empataram por 2 a 2 no Estádio Castor Cifuentes, pela terceira rodada do Mineiro, num jogo em que houve tumulto entre torcedores e policiais. Os problemas começaram com a demora na abertura dos portões, por causa do atraso na chegada do policiamento. Houve grandes filas e empurra-empurra, e muitas pessoas entraram sem ingresso (os pagantes foram 6.356). A PM tentou aumentar o espaço para a torcida celeste com o jogo em andamento. Villa-novenses resistiram e houve o primeiro tumulto. Um policial lançou uma bomba de gás lacrimogêneo na torcida do Leão, e o efeito chegou ao campo, obrigando o árbitro a interromper a partida por quase 10 minutos. No início do segundo tempo, a briga foi entre torcedores do Cruzeiro e a PM. Militares ficaram acuados e, a cavalo, dois deles entraram no espaço atrás de um dos gols, pressionando os populares. Alguns reagiram. Uma mulher desmaiou, agredida por um policial. Outros invadiram o setor sob a arquibancada e puseram fogo em colchões. O Castor Cifuentes foi interditado pela Promotoria de Justiça de Nova Lima, que exigiu obras como saídas de emergência, construção de rampas e escadas e colocação de corrimãos.


FIQUE LIGADO
A venda antecipada dos ingressos para Villa Nova x Cruzeiro começou nessa quarta-feira. A torcida celeste terá 1,2 mil bilhetes da carga total de 5.160, podendo comprá-los até amanhã entre as 9h e as 17h no Ginásio do Barro Preto. No sábado, até as 11h. Para os villa-novenses, no Ginásio Poliesportivo do Villa Nova, na loja Villa dos Esportes, no Bar do Aguinaldo (no Bairro Retiro) e no Bar do Geraldo (na Rua Nova). O valor é R$ 50, com meia–entrada para estudantes, crianças de 7 a 12 anos e idodos. Não haverá comercialização no dia do jogo.

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