"Querido Papai Noel"

A mãe se convenceu do sonho de Caio Gabriel do Santos Rodrigues, de 9, numa cartinha escrita ao Papai Noel. No ano passado, o menino confidenciou ao bom velhinho a vontade mais profunda de seu coração. “Quando li, não dei conta e resolvi ajudar. Se é o desejo dele, né!?”, sorri, carinhosa, Rosilene dos Santos Rodrigues, de 43 anos. Desde então, a faxineira não poupa recursos nem esforços para ver o filho feliz, em busca de futuro.

“Mãe, a senhora ainda vai me ver jogar no Cruzeiro”, sorri o menino. “Ele já nasceu com esse sonho”, brinca a mãe. Três vezes por semana, Caio treina na Escola de Futebol Santa Tereza. “Às 5h, ele quer ir treinar. Eu digo que lá abre às 7h. Não adianta. Ele quer chegar cedo e ficar no portão esperando”, diz Rosilene, orgulhosa de ver o filho no caminho do esporte. “Tanta gente no caminho da bagunça, da droga…”, avalia.

Há dois meses Caio leva a sério a brincadeira dos becos no Bairro Alto Vera Cruz, não quer decepcionar a família. Sabe que para vencer vai precisar se manter na linha com a mãe, o pai, Josué, e com a irmã, Gabriele, de 10. “É fácil tomar o caminho errado. As oportunidades de bagunça estão aí o tempo todo. O difícil é fazer por onde ter boa sorte”, alerta Rosilene.

Serelepe, ele escuta o recado da mãe. Reservado, balança as chuteiras surradas. Livre para ganhar o campo e mostrar o que sabe, Caio rouba a cena. Flutua, pedala, ginga. Pede a bola, resmunga e falta voar para alcançá-la na linha de fundo. Dribla de cabeça erguida, cheio de estilo, limpa a jogada e lança o moreno que chuta para fora.

O olhar de Rosilene se ilumina ao ver o filho feliz com o futebol. Um pouco de alegria à dor pela morte recente da mãe, aos 69 anos, vítima de atropelamento perto de casa, na Região Leste.