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COPA LIBERTADORES

Futebol no sangue

Esporte é uma das paixões do povo boliviano. Preferência na capital é dividida entre o Strongest, adversário do Atlético na quarta, e o Bolívar. Comércio nas ruas é uma babel

postado em 12/03/2013 08:10 / atualizado em 12/03/2013 08:45

Roger Dias/EM/D.A Press
La Paz – No frio de menos de 10°C, clima típico dos arredores da Cordilheira dos Andes, já é possível perceber o movimento dos cidadãos bolivianos antes mesmo das 7h na capital, La Paz. Os diversos engraxates se apertam pelas calçadas, sobretudo da Avenida Santa Cruz, uma das principais da cidade, e os vendedores ambulantes vão arrumando suas tendas, já que mais um dia cheio de trabalho começará. O futebol, como no Brasil, é uma das paixões dessa gente.

Em La Paz, os torcedores dividem suas preferências entre o Strongest, adversário do Atlético amanhã, pela Copa Libertadores, e o arquirrival, Bolívar. Com a dificuldade de trabalho formal, o comércio nas ruas tornou-se a principal fonte de renda das camadas mais pobres. Ali se vende de tudo: sapatos, pilhas, cds, rádios e até comida preparada, como sanduíches ou salgados. Mesmo com ganho próximo do salário mínimo de cerca de 850 bolivianos (em torno de R$ 350 reais), a maior parte ainda faz esforço e consegue ir aos jogos do seu time – os ingressos para a Libertadores valem de 70 a 200 bolivianos (R$ 20 a R$ 65), contra 20 (R$ 6,50) nos duelos locais. Por isso, abandona até passeios pelos pontos turísticos da cidade, como El Lago de Copacabana, o Vale de la Luna e a Igreja de São Francisco.

Dono de uma barraca de artigos eletrônicos, Félix Chogue, de 70 anos, torce pelo Strongest e costuma a assistir às partidas do Campeonato Boliviano. Seu maior sonho é ver a equipe se destacando internacionalmente. “Faltam jogadores de qualidade, e outros ainda são imaturos. Lembro do tempo em que o Ramiro Castillo e o Galindo faziam a diferença. Hoje, as coisas não são tão boas. Temos de esperar o time melhorar para sonhar com títulos de expressão”. Apesar do pessimismo de Félix, o Strongest é tricampeão boliviano, embora faça campanha sem destaque na atual edição (ocupa o nono lugar).

O casal Edwin Landaeta e Maria Esther Cavijo, ambos de 50 anos, está junto há 30. A paixão pelo futebol os move. Proprietários de uma loja de artigos esportivos, eles se tornaram arquirrivais nesse tempo: enquanto Edwin torce para o Bolívar, Maria Esther considera-se fanática pelo Tigre. Se o marido ficará em casa, torcendo por vitória do Atlético, ela estará no Estádio Hernando Siles para apoiar os jogadores. “Não perco um jogo sequer, porque tenho uma carteira do clube.” Ela está otimista, mesmo reconhecendo a força do Galo. “Ronaldinho é muito bom jogador, um astro do futebol mundial, mas temos o Solys e o Bejorano para detê-lo”.

Depois de muito trabalho, Maria Esther conquistou a independência financeira. Sua loja vende pelo menos 15 camisas de clubes diariamente, com faturamento de 7 mil bolivianos ao mês. A comerciante foi ao Brasil no fim ano passado e esteve em Campo Grande (MS), São Paulo e a também paulista Bauru em visitas a fábricas de material esportivo. Hoje, a filha Malena Fonseca, de 30, também fanática pelo Tigre, a ajuda nos negócios.

CONTROLE

Setores estratégicos da economia são praticamente controlados pelo governo do presidente Evo Morales, como as empresas de extração de minério de ferro e de petróleo. Enquanto La Paz reúne as estatais, como a YPFB, outra cidade forte, Santa Cruz de la Sierra, concentra multinacionais como a Coca-cola e a própria Petrobras.

“É uma economia ainda em ascensão, já que ainda é um pouco fechada. Por isso, a maioria atua no setor terciário, como o comércio e a prestação de serviços”, afirma o brasileiro Luís Carlos Costa, carioca e torcedor do Vasco, que vai à Bolívia a cada três meses para dar consultoria à multinacional Price Waterhouse.

Diferentemente do que ocorre no Brasil, o futebol ainda não se consolidou na Bolívia como negócio. A maioria dos clubes está endividada e não tem como pagar altos salários aos jogadores. A folha mensal de Strongest, Bolívar, Oriente Petrolero, San José e Real Potosí não passa de R$ 500 mil. Cada atleta recebe, em média, o equivalente a R$ 5 mil. Para ajudar nas despesas, vários abrem sua própria empresa – o caso do atacante Ramallo, dono de uma loja de sapatos em Cochabamba.

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