Futebol Nacional
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COPA LIBERTADORES

A mística do caldeirão

Força do Atlético no Independência tem garantido partidas emocionantes e a invencibilidade do time, além de fazer valer o bordão que conquistou a torcida

postado em 30/05/2013 08:28 / atualizado em 30/05/2013 08:40

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Deixemos o puritanismo de lado. Quem cai no Horto, já sabe. Só fazendo história para sobreviver. Futebolisticamente falando, o normal é sair de lá morto. E isso nada tem a ver com apologia a violência.

O futebol tem uma linguagem própria, que não se baseia em lógicas, nem demanda explicação racional. No futebolês, quem cai no Horto sabe que do outro lado estará uma equipe que conhece bem e explora cada centímetro do campo com precisão cirúrgica. Um lateral cobrado por Marcos Rocha pode ser fatal – e isso o São Paulo sentiu na pele. Um lançamento que sai dos pés de Ronaldinho Gaúcho tem consequências letais. As cabeçadas de Réver e Leonardo Silva costumam ser fulminantes. E ainda tem Bernard, desnorteando os oponentes com sua velocidade; Tardelli acuando os adversários com toques de inteligência bélica e o incansável Jô, confrontando os zagueiros visitantes com a força de um canhão. No entorno de tudo isso, fanáticos torcedores, unidos em uma só voz para empurrar o alvinegro e acuar os rivais.

Os números, construídos por um futebol bem jogado, por si só são dignos de assustar os adversários – nem seria necessário encher as arquibancadas com o personagem do filme Pânico na partida desta noite, contra o Tijuana, pelas quartas de final da Copa Libertadores. São 27 vitórias e sete empates em 34 partidas. Aproveitamento de 86,3%, retrospecto de dar medo a qualquer mortal.

Desde 3 de maio do ano passado, quem caiu no Horto, foi abatido: o primeiro foi o Goiás, derrotado por 2 a 1. A partir dali, os mais bem-sucedidos, arrancaram empate: apenas sete partidas terminaram assim. E o Grêmio foi o único dos 28 times que encararam o Galo no Independência a sair de campo sem sofrer gol.

Ano passado, o Atlético fez 23 jogos no estádio, venceu 16 e empatou sete. Marcou 49 gols e sofreu 19. Este ano, ganhou as 11 partidas que disputou e o poder de fogo aumentou: são 40 gols a favor e 10 contra. Jô é o principal goleador alvinegro no Horto, com 15 gols. Com 10 aparecem o craque Ronaldinho Gaúcho e zagueiro artilheiro Réver.

ORIGEM
Em 15 de setembro do ano passado, o Galo tinha disputado 16 partidas na nova casa, com 12 vitórias e quatro empates. Vinha de vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo. Já mostrava que ali seria seu caldeirão. Foi nesse cenário que a expressão Caiu no Horto, foi publicada pela primeira vez, na coluna Da Arquibancada do Estado de Minas, escrita pelo representante atleticano Fred Melo Paiva. Ela foi popularizada nas ondas do rádio pelo narrador Mário Henrique, da Itatiaia, e ganhou as arquibancadas em forma de música.

O bordão logo caiu na rede – são quase 230 mil citações na internet –, ganhando página inclusive no Facebook, com mais de 8 mil curtidas. Nesse embalo, não demorou a aparecer estampado em camisas e chinelos, vendidos em lojas virtuais a R$ 40.

As páginas do EM já serviram de ponto de partida para outras expressões que se consolidaram no mundo da bola. Na década de 1980, Roberto Drummond nomeou a torcida cruzeirense como China Azul, em uma de suas colunas, devido ao crescimento do número de torcedores da Raposa. Voltando ainda mais no tempo, chegamos a 1950, quando o Galo foi batizado de “campeão do gelo” depois de vitoriosa excursão à Europa, quando derrotou equipes da Alemanha, Áustria, Luxemburgo, Bélgica e França. A expressão ganhou lugar até no hino alvinegro.

Nessa lista constam também as mascotes dos principais clubes mineiros, criadas pelo genial Mangabeira, que representou as características de Atlético, Cruzeiro e América na forma de Galo, Raposa e Coelho .


MEMÓRIA
Há cinco anos…
A última derrota do Atlético no Horto foi em 6 de abril de 2008, para o Guarani, de Divinópolis, pelo Campeonato Mineiro. Comandado por Geninho, o Galo perdeu por 3 a 2, em partida que teve 7.726 pagantes. O zagueiro Leandro Almeida abriu o placar aos 19min do primeiro tempo, com o atacante Eduardo ampliando aos 37. A reação do Bugre começou ainda na etapa inicial, com o zagueiro Micão (31) e o atacante Jajá (42). Jajá voltou a balançar as redes aos 17 da fase complementar, selando o triunfo do Guarani. Foi a última vez que o Galo foi derrotado por um time do interior de Minas. Foi também a última partida do alvinegro no estádio antes das obras de reforma.