Futebol Nacional
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Boa ação

Vários torcedores foram ao Hemope doar sangue para Lucas Lyra

Pessoas dos três clubes do Recife se uniram para ajudar o garoto que foi baleado no último sábado, nos Aflitos

postado em 19/02/2013 08:04 / atualizado em 19/02/2013 08:09

Celso Ishigami /Diario de Pernambuco

RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS
Mais do que a interseção entre os rivais, o vermelho, desta vez, foi a cor que vestiu a esperança. Alvirrubros, rubro-negros e tricolores deram-se às mãos em nome de Lucas de Freitas Lyra, vítima mais recente da violência que tomou conta do futebol pernambucano. Com um projétil alojado no cérebro, em coma induzido, ele não pôde acompanhar a comoção que levou centenas de doadores ao Hemope. Muitos vestidos com as camisas de seus times, numa prova de que os torcedores de bem estão dispostos a dar sangue em nome da paz.

A campanha de doação, amplamente divulgada na imprensa e nas redes sociais, resultou num intenso movimento no hemocentro. Mais de 600 voluntários enfrentaram uma longa fila de espera sem qualquer sinal de arrependimento. O sentimento, na verdade, era de um dever cívico, como destaca o tricolor Bruno Miguel. “Não conheço Lucas, mas o que aconteceu com ele mexeu comigo. Poderia ter acontecido com qualquer um, por isso, resolvi fazer a minha parte”, destacou.

RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS)

Situação semelhante à do rubro-negro Márcio Linderman, que como Bruno, também acredita que o fim das organizadas pode ser a única solução para o fim da violência que assombra o futebol. “A gente fica muito sensibilizado. Frequento estádios de futebol há muito tempo, mas hoje em dia, penso duas vezes antes de sair de casa”, justificou.

A mobilização emocionou também alguns funcionários do centro, que se desdobraram para atender a todos da melhor maneira possível. “Normalmente, não temos tanto movimento assim. Seria bom se não precisássemos de uma tragédia como essa para que as pessoas viessem doar sangue. Mas o que mais impressiona é a atitude desses doadores. A maioria deles sequer conhece o torcedor que foi baleado, mas mesmo assim, todos estão bastante empenhados em ajudar”, testemunhou Mariana Gonçalves, uma das responsáveis pela triagem dos voluntários.

RICARDO FERNANDES/DP/D.A PRESS)

Lágrimas
De plantão no estacionamento do Hospital da Restauração, a irmã de Lucas, Mirella Lyra, não conteve as lágrimas quando soube do que acontecia há poucos metros de onde estava. “Futebol era para ser isso aí. Infelizmente, a solidariedade parece estar perdendo a guerra com a rivalidade”, refletiu. “Espero que meu irmão seja um marco histórico de uma mudança profunda nesta triste realidade que vivemos. O que vimos no Hemope renova nossas esperanças”, destacou.

Também ali perto, amigos e parentes reuniram-se na capela de Santa Teresinha, no Derby, e após uma missa, seguiram em procissão para iniciar uma vigília em frente ao hospital. Tia de Lucas, Maria Aparecida Brito fez uma súplica emocionada. “Estamos nos preparando para receber uma Copa do Mundo, mas além das obras de infraestrutura, é importante que cada um de nós faça uma reflexão. A violência, muitas vezes, começa dentro de cada um de nós, assim como a solução para ela”, ressaltou. “O futebol deveria ser feito de momentos de alegria e tristeza. Mas nunca, de uma tristeza como essa”, completou.