Futebol Nacional
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Entrevista

Mancini fala sobre os motivos que levaram à sua demissão e analisa futuro do Náutico

postado em 08/04/2013 12:55 / atualizado em 08/04/2013 16:39

Celso Ishigami /Diario de Pernambuco

Ainda no Recife, o técnico Vágner Mancini falou com a reportagem do Superesportes sobre sua demissão do Náutico. Ao fim de sua segunda passagem por um clube da capital pernambucana, o treinador analisou seu trabalho e explicou os motivos que levaram à diretoria alvirrubra a decidir por sua demissão.

Helder Tavares/DP/DA Press
A que você atribui sua saída do Náutico?
Esta situação é sempre complicada e quase nunca há um motivo isolado. Mas na minha opinião, as derrotas nos clássicos foram determinantes. Infelizmente, ninguém atentou para o fato de nós termos enfrentado Sport e Santa Cruz sem alguns dos nossos principais jogadores. Contra o Sport, perdi Jones Carioca, Geovanni, Maranhão e Jean Rolt. Contra o Santa Cruz, perdemos jogadores também. E isso faz a diferença.

Falando em diferença, você faria alguma coisa diferente se pudesse voltar atrás?
Não. A mudança, neste caso, tem que ser mais ampla. Uma mudança na cultura do nosso futebol. Até sexta, antes do jogo contra o Santa Cruz, tínhamos um aproveitamento de mais de 75%. Então, não estou saindo por causa do aproveitamento. Na minha passagem do Sport, tudo bem. Desta vez, estou saindo por outros motivos. Por conta da pressão. Acho que o Náutico vem com uma campanha muito boa. Até pouco tempo atrás, era o melhor ataque do Brasil. Em sete dias, tudo desmoronou. Esta é a cultura do nosso futebol, e isso tem que ser modificado. Não dá pra esperar que em 60 dias alguém transforme um time numa super potência. O futebol não é assim. O ser humano não é assim. Me dediquei integralmente. Respeito a decisão e sigo a minha vida.

Nos bastidores, surgiram rumores de que você e o elenco não falavam a mesma língua.
Isso é mentira. O diálogo sempre foi muito bom. Nosso relacionamento com os atletas sempre foi o melhor possível. Se não fosse, eu falaria numa boa. Até porque este assunto é muito importante e não poderia ser deixado de lado se fosse verdade. Mas infelizmente, quando acontece algo errado dentro de campo, os despreparados tentam encontrar justificativas como esta. Isso eu não vou permitir. O meu relacionamento com o grupo era o melhor possível.


Isto justifica o fato de alguns jogadores terem saído em sua defesa após a derrota para o Ypiranga?
Creio que sim. Os atletas sabem que ficaram devendo em campo e por hombridade, admitiram. No momento em que você está enfrentando uma pressão como a que enfrentamos, todo mundo tem que admitir parte da responsabilidade. E este grupo tem esta virtude. Por isso, digo que nosso dia a dia era fantástico.

Você acredita que o desentendimento com o ex-presidente André Campos pode ter aumentado a pressão por sua saída?
Acho que não. Eu apenas respondi uma pergunta que me foi feita durante uma coletiva. Quero deixar muito claro que não tenho nada contra este ou outros ex-dirigentes. Fiz questão de esclarecer o meu ponto de vista e não acho que isso possa ter contribuído para a minha saída.

E o que aconteceu, então? Por que você acha que enfrentou tanta pressão?
Desde que cheguei aqui, havia um movimento contrário. Eu sabia que existiria. Até porque estava substituindo um treinador que teve muito sucesso no comando do time e também por vir de um trabalho ruim no Sport. Esse movimento só foi amenizado quando passamos a jogar bem. Com o passar dos jogos, conseguimos manter o bom desempenho ofensivo e corrigimos as falhas do setor defensivo. E a torcida enxergou isso. Aí, perdemos para o Sport e a pressão voltou juntamente com esse movimento de oposição. Conseguimos amenizar com a vitória sobre o Central mas ela voltou com tudo após a derrota para o Santa.

Você se sente injustiçado?
De certa forma. O Náutico perdia, e a parcela maior da culpa caía sobre mim. Não pode ser assim. Para um clube ter sucesso, é preciso que haja uma sintonia muito boa entre todos os setores. Funcinários, dirigentes, comissão técnica, elenco. Se algo saiu errado, todos têm que se unir e encontrar uma solução. No momento de dificuldade, todo mundo tem que dar a cara. Da mesma maneira como os triunfos são compartilhados.

O que você faria para mudar este cenário?
Pra mim, está muito claro que o elenco do Náutico é um elenco pequeno e quando a gente perde peças fundamentais o time acaba caindo muito de produção. Daqui pra frente, o que vai ser feito depende da filosofia do próximo comandante. Mas insisto em dizer que o Náutico, na minha opinião, era o favorito ao título, mas perdeu peças fundamentais ao longo da competição. Mas como esses jogadores vão voltar, acho que tem chances de ser campeão.