Futebol Nacional
None

Mudança

Torcida do Náutico se despede de seu estádio emocionada

No dia da despedida dos Aflitos, torcedores, com lágrimas nos olhos, resistiam dizer adeus

Os refletores dos Aflitos foram apagados pela última vez às 21h25. Mas havia os que não queriam ir embora. O estudante Gilberto de Azevedo, de 25 anos, era um deles. Sua resistência durou mais de 10 minutos. No escuro. Acabou sendo o último dos 15.013 alvirrubros a dizer adeus ao velho Caldeirão. O último momento de um dia de várias despedidas. Do derradeiro gole de cerveja no Bar do Americano ao último grito de gol do Náutico. No último lance do estádio.

Ricardo Fernandes/DP/D. A. Press
“Saí de casa para o jogo com esse sentimento de adeus, mas não queria ser o último a sair do estádio. Mas fui ficando, ficando. É um dia muito triste”, afirmou Gilberto, que lamentou o empate de 2 a 2. Resultado que não deu ao antigo caldeirão alvirrubro uma despedida perfeita. Como se o adeus a um velho amigo pudesse ser perfeito. Após a partida, o sentimento de boa parte da torcida era de revolta por conta de mais uma fraca apresentação do time. Vaias, protestos contra a diretoria, desabafos. Tudo normal pelas circustâncias. Mas a partida em questão não era apenas mais uma. Não haverá outra no domingo seguinte para se fazer as pazes. Assim, com o passar do tempo, a raiva momentânea foi dando espaço a um recém-adquirido momento de nostalgia.

Com lágrimas nos olhos, o advogado Fábio Muniz Guerra, 36 anos, conseguiu junto à reportagem do Diario o privilégio de entrar no gramado histórico. Para ele, se o passado traz boas recordações, o futuro alvirrubro é de incertezas. “Vamos para um estádio bonito, mas inóspito e insosso. O futuro do Náutico lá é incerto. O estádio dos Aflitos é a verdadeira casa alvirrubra. Aqui está a alma do nosso clube. Merecíamos um ponto final melhor para a história dos Aflitos. Mas daqui só guardo as boas lembranças”, enfatizou.

Aflição
Ricardo Fernandes/DP/D. A. Press
Lembranças que cada um queria tornar eternas a sua forma. A maioria preferiu tirar fotos antes, durante e depois da partida. Mas havia outros que queriam um pouco mais. Um profissional que trabalhava na partida aproveitou chance de estar dentro de campo e tirou um tufo da grama sagrada alvirrubra. “Vou plastificar”, disse, orgulhoso. Outros não tiveram a mesma sorte. A torcedora Leda Gomes pediu, implorou, mas não conseguiu entrar no campo para também poder levar para casa aquela que, para ela, era o diferencial dos Aflitos.

“O nosso gramado era o nosso diferencial. Ganhamos muitos jogos aqui por causa dele. Na Arena vamos perder essa arma. Não consegui levar um pouco dele para casa, mas amanhã vou tentar de novo”.

E entre tantos últimos momentos dos Aflitos, houve espaço também para alguns primeiros. O comerciante Wilson Andrade, que nos dias de jogos do Náutico assume o papel de “Papai Noel Alvirrubro”, levou o neto, Bento, de dois anos, para conhecer o Eládio de Barros Carvalho. No dia da despedida, uma estreia. “Era agora ou não era mais. Ele vai frequentar os jogos do Náutico na Arena Pernambuco. É a nova safra de torcedores do clube. Mas antes de estrear na nova casa tinha que conhecer os Aflitos. Quando ele crescer, vai me agradecer”.