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ENTREVISTA/BEBETO DE FREITAS

BH quer 'repatriar' futebol de base. E promete buscar empresas por apoio a projetos

Secretário municipal de Esportes e Lazer garante que aposta nas parcerias

postado em 15/01/2017 12:00 / atualizado em 15/01/2017 12:35

Marcos Vieira/EM/D.A Press

Esportista veterano, mas gestor público de primeira viagem, Bebeto de Freitas admite que terá de fazer muito 'dever de casa' para se familiarizar com o ritmo da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. Afirma que prefere o 'boa sorte' ao 'parabéns' e ri do próprio desconhecimento inicial. “Numa reunião, ficavam falando Smel, Smel. Parei e perguntei: 'desculpem, mas o que é Smel'?. Era minha secretaria...” Ele integra o grupo de escudeiros fiéis do prefeito Alexandre Kalil (PHS), já tendo atuado como diretor do Atlético, mas sustenta que dará ao clube o mesmo tratamento de Cruzeiro, América e dos especializados. O vitorioso ex-jogador de vôlei e ex-treinador da Seleção Brasileira projeta uma gestão “social”, diz que manterá projetos em vigor e aposta na eficiência: “Não vamos inventar nada. Vamos melhorar o que temos”. Uma das missões serão as parcerias com o setor privado. “Não teremos nenhuma vergonha de sair batendo à porta de quem puder ajudar”. Entre seus desafios, antecipa, está o de trazer de volta a Belo Horizonte as partidas do futebol de base.

Em duas semanas de governo já foi possível estabelecer quais as prioridades?
Antes mesmo dessas duas semanas eu já sabia. Quando o prefeito me fez o convite, a conversa foi mais ou menos assim: 'Bebeto, você vai ser meu secretário'. Eu perguntei: 'Alexandre, você tem certeza de que eu posso lhe ajudar? O que é que vai ser?' Ele disse com uma palavra a prioridade: 'social'. E eu tento traduzir isso a todos, porque é importante que entendam. A disponibilidade financeira da secretaria está voltada para o esporte social e o lazer.

Mas haverá problemas de disponibilidade financeira. Em 2015, o orçamento foi de R$ 46,3 milhões. Em 2016, R$ 39,9 milhões. Em 2017, R$ 15,2 milhões. Como gerir tamanha redução?
Não me preocupei em perguntar qual seria o orçamento. Há metas preparadas há três anos. No primeiro, temos um plano de metas de R$ 13 milhões. Estou agora verificando se temos como suportar. Mas não muda a essência. A prioridade é o esporte para todos, social, a integração através do esporte.

Você foi jogador, técnico, executivo de clubes de futebol, mas nunca trabalhou na área pública, que tem demandas variadas, específicas e ainda o dragão da burocracia. Como driblá-los?
Se você se antecipar, jogar dentro das regras, você encurta o caminho. Se houver algum trâmite que atrase um pouco, não importa. O importante é o fato de acontecer. Faz parte da regra do jogo. Eu sabia o que viria junto. A única coisa que pedi ao Alexandre foi que me ajudasse do ponto de vista da situação jurídica. Tive uma reunião com o procurador-geral, para enquadrar a secretaria nas determinações da procuradoria. Temos nossa assessora jurídica e vamos trabalhar conjuntamente. Fazer tudo correto. Estamos vendo pelo Brasil afora a situação, com o dinheiro deixando rastros. Não é diferente no esporte.

Marcos Vieira/EM/D.A Press
Um dos males do setor público é a descontinuidade. Que projetos serão mantidos?
Os que existem serão mantidos e melhorados. Não vamos inventar nada. Vamos melhorar o que temos, não 100%, porque ninguém pode fazer mágica. Vamos fazer hoje, amanhã...

Um dos exemplos de boa aprovação foram as academias a céu aberto. Qual o futuro delas?
Serão mantidas. Mas pedi para que não continuassem a crescer. Hoje são cerca de 400. Temos certos limites e precisamos sempre de pensar na manutenção. Não podemos permitir que se deteriorem. Percorremos cerca de 40 instalações. Em todas encontramos problemas.

A série de exonerações feitas pelo prefeito em cargos comissionados afetou a secretaria?
Sem querer entrar no mérito da capacidade de quem foi exonerado, ainda não sofremos nada. Comecei a estudar o currículo dos concursados. Há muita gente para crescer que se sentia desprestigiado.

Qual será seu maior desafio?
Será convencer a todos de que a atividade física, da tenra idade aos dias de hoje, é como uma poupança. Se mantida, seremos pessoas com organismo melhor, com menos doenças diretamente ligadas à vida moderna. Assim, tentarei convencer empresários, comércio, de que todo investimento que fizerem em atividade física do ponto de vista social é economia enorme do ponto de vista da saúde pública, principalmente. Trabalhei minha vida profissional inteira como captador de recursos para o esporte, sempre com sucesso. Não teremos nenhuma vergonha de sair batendo à porta de quem puder ajudar.

Seriam no estilo parceria público privada?
Se conseguir convencê-las, teremos muitas ideias para fazer sempre voltadas para o desenvolvimento da atividade física. O esporte seria a consequência da atividade física. Gostaria de sensibilizar todos aqueles que podem ter algum benefício da melhoria da população: raciocinem que uma das melhores maneiras é que, desde cedo, você enquadre nossos meninos, nossa juventude, com atividades que mais à frente eles colherão frutos.

No futebol amador, há um fenômeno no Brasil que se repete aqui, com a perda cada vez maior dos campos de várzea. A prefeitura tem como fazer algo ou é ilusão imaginar esse poder?
Existem várias copas no futebol amador. Temos quantidade grande de campos, e a ideia é achar formas de melhorar um pouquinho e estar sempre em dia com os torneios. Mas uma coisa que me causa espécie no futebol é ver as bases de clubes como Atlético, Cruzeiro e América jogarem fora de Belo Horizonte, porque não há onde jogar aqui. O Independência fechou para eles desde a reforma.

E qual a saída?
Temos ideias. Quero trazê-los de volta. Estou agendando uma reunião com a Federação Mineira. Não vou antecipar. Mas só vamos conseguir colocar essas ideias em prática quando os clubes se unirem, se engajarem no conceito de trabalharmos a base para chegar a algum lugar. E aqui aproveito para falar não falo só do futebol, mas também dos especializados, como Minas, Mackenzie, Olympico, Ginástico. Bem antes de o Cruzeiro em 66 se tornar uma referência nacional, como o Atlético em 1971, a gente não pode se esquecer de que o Minas Tênis Clube, o Mackenzie, o Ginástico, o Olympico, eram referências nacionais em esportes especializados. Antes de o Cruzeiro ou o Atlético serem campeões brasileiros, o Minas já era campeão brasileiro, o Mackenzie já era uma referência do voleibol feminino, o Ginástico já era uma referência no basquete masculino.

Mesmo tendo vivido em Belo Horizonte em três períodos, algum crítico dirá: 'o Bebeto talvez conheça pouco a cidade'. Em que medida isso pode afetar o desempenho como secretário?
Muito, sem dúvida nenhuma. Mas estou aqui desde antes do Natal. Correndo, percorrendo as instalações da secretaria. Me perguntam: você vai ser daquele tipo bate-volta? Não. No fim de semana, terei um pouco mais de tempo para ter conhecimento sobre a cidade. Aliás, meu primeiro título como atleta foi aqui, em 1967, pela Seleção Carioca de Voleibol, um campeonato brasileiro. Desde então, tive total ligação com a cidade. Minha prima, uma das maiores jogadoras de futebol que esse país já teve, a Helenize de Freitas, era do Mackenzie. Sempre tive uma aproximação grande. Meu pai é mineiro, de São João Nepomuceno. Belo Horizonte sempre foi, para mim, uma cidade muito aconchegante. Sempre disse que se fosse sair do Rio para morar em algum lugar, seria aqui. Mas, pelo amor de Deus, sou pré-candidato a voltar para minha casa.

O prefeito presidiu o Atlético, há um secretário que preside o Atlético, o senhor foi dirigente do clube, assim como Adriana Branco, também no governo. Não vai haver conflito de interesses?
Do meu ponto de vista, o Atlético é um clube e vou tratá-lo como tal. Um clube importante, da mesma forma que importante temos o Ginástico, o Olympico, o Mackenzie, o Minas e outros. Da mesma forma, o Cruzeiro, o América.

Marcos Vieira/EM/D.A Press
Como pretende ser reconhecido?
Quero apenas que me encarem como uma pessoa como uma pessoa que vai defender a minha camisa hoje, que é a de Belo Horizonte. Não tenho por que estar aqui apenas por estar. Tive uma vida profissional relevante. E a gente chega a uma certa idade em que escolhe o que faz. Sei onde estou entrando e o fiz em função do que eu conheço da pessoa que está à frente de tudo. Nos momentos de pressão, dificuldade, é que você conhece as pessoas. E o Alexandre nunca me faltou. Sempre me perguntam o quanto é difícil trabalhar com o Alexandre e eu respondo: 'Não tem nenhuma dificuldade em trabalhar com o Alexandre. A dificuldade é de quem não trabalha'.

No bom sentido, o senhor foi 'intimado, convocado' por ele?
Trabalhamos juntos e o conheço desde os anos 80, 81 ou 82, quando ele era diretor de voleibol do Atlético. Nosso primeiro contato foi uma discussão. Eu defendendo minha equipe e ele, com razão, defendendo a equipe dele. Tínhamos um quadrangular aqui em Minas. Como minha equipe, A Atlântica, estava se preparando para o Sul-Americano, vinha de treinamento com uma bola japonesa, oficial da Federação Internacional. No Brasil, era a bola brasileira. Na semifinal, conversei com o técnico adversário. Ele concordou em jogar com a japonesa. Na final, conversei com o técnico do Atlético, que também concordou. Aí, o Alexandre bateu a mão na mesa: 'O Atlético joga com a bola nacional'. Não houve discussão. Mas a partir desse momento entendi a personalidade dele. Passei a respeitá-lo muito. Nos tornamos amigos.

Projeto aprovado no ano passado na Câmara estabelece 30% de ingressos a preços populares em estádios e ginásios. A secretaria apoia?
O Minas Tênis Clube recentemente já me ofereceu isso para o seu ginásio. Já se colocaram à disposição, antes mesmo que eu soubesse que havia passado pela Câmara. Vamos encontrar as formas de viabilizar. Acho que é mais do que correto, mas essa é uma questão política.

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