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RACISMO NO FUTEBOL

Rap dá a Aranha força para lutar contra a discriminação; ouça a playlist do goleiro

Vítima de preconceito em Porto Alegre, atleta volta à Arena do Grêmio nesta quinta-feira

postado em 18/09/2014 08:00 / atualizado em 17/09/2014 22:49

Lorrane Melo /Correio Braziliense

Santos FC/Divulgação

À beira do gramado, Luiz Felipe Scolari gesticula e pronuncia sentenças com um vocabulário diferente daquele a que o goleiro Aranha está acostumado. Mas, enquanto o treinador do Grêmio abusa de “esparrelas” e termos difíceis para insinuar uma armação do jogador do Santos no episódio de racismo na Arena — em partida válida pela Copa do Brasil —, o atleta também se apoia em palavras, porém para combater o preconceito. Três semanas depois da injúria racial, a força que ele precisa chega por meio dos fones de ouvido.

Aranha diz ter aprendido a enfrentar a discriminação ouvindo o rap de pessoas como ele: “Sofrido, acusado e agredido”, mas “bem informado sobre política, religião e história”. “Eu cresci preparado para esse tipo de situação”, assegurou, seguindo a ordem do clube paulista de tentar minimizar a polêmica no reencontro entre o Santos e o Grêmio, nesta quinta-feira, na Arena, em confronto válido, desta vez, pelo Campeonato Brasileiro. Enquanto, porém, o tímido jogador prefere manter distância em relação aos desdobramentos do caso, o assunto insiste em voltar à tona, seja em atos explícitos, seja em insultos velados.

Na última terça-feira, durante um treinamento, Felipão questionou se os jornalistas iam cair de novo na “encenação” de Aranha — ignorando as imagens de tevê que captaram torcedores xingando o goleiro, como a jovem Patrícia Moreira e seus insistentes gritos de “macaco”.

Jair Bertolucci/TV Cultura
“Fatos como esse ocorrem todos os dias onde a câmera não pega e o crime não está sendo cobrado”, denuncia o rapper Rappin Hood, com voz exaltada. Bem diferente do tom que embalou Aranha na letra de Suburbano, rap que conta o dia a dia de uma periferia onde tudo recomeça às 5h: “A garotada acordando pra ir para a escola, e vai saindo pra treinar o mano que joga bola”, diz a música. Quase um paralelo à vida do goleiro nascido em Minas Gerais e moldado não por viola, mas pelas batidas pesadas e ritmadas de Racionais MCs e MV Bill.

"Fatos como esse ocorrem todos os dias onde a câmera não pega"
Rappin Hood, rapper


Paulista e torcedor do Corinthians, Rappin Hood não se intimida por cor ou listras na camisa. Ele lembra que o hip-hop discute o preconceito há anos, porém falta à sociedade encarar o tema. “No Brasil, é esse racismo velado. Finge-se que não existe ou que é algo normal; que foi ‘no calor do jogo’, como a torcedora mesmo disse”, afirma. “Já é mais do que chegada a hora de encarar isso. No momento em que as pessoas perceberem que vão presas, a palhaçada para”, acredita, só querendo que “a lei seja cumprida”.

No próximo dia 26, Grêmio e Santos voltam a se enfrentar, desta vez no Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Para tentar reverter o banimento da Copa do Brasil, o tricolor adotará como linha de defesa a tese de que o goleiro exagerou na reação aos xingamentos. Essa teoria contraria a nota publicada no site do próprio clube, no dia seguinte ao jogo, admitindo a injúria racial por parte de torcedores.

Para a partida desta noite, houve modificação no sistema de venda de ingressos para facilitar a identificação de torcedores em caso de novos incidentes. Além disso, orientadores do estádio estarão infiltrados na Geral para flagrar eventuais infrações.

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