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Centro Santos Dumont segue sem a prometida reforma e secretaria de Esportes se cala

Local ainda tem material novo 'escondido' em uma sala com mofo e problemas elétricos

postado em 10/11/2014 08:37 / atualizado em 10/11/2014 09:42

Roberto Ramos/DP/D.A Press
Não há como pensar no atletismo estadual e dissociar a imagem da pista do Santos Dumont, em Boa Viagem. Tem sido assim desde 1975, ano da sua fundação. Muitos competidores bons já passaram por lá e outros tantos seguem em formação. Transformar o local em um centro de alto rendimento é um sonho antigo, acalentado principalmente pelos praticantes do atletismo. Mas, de tão antigo, o sonho caducou. A reforma do espaço, que chegou até a ser cogitado como possível endereço de aclimatação para delegações internacionais antes do ínicio dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, definitivamente não é prioridade, embora tenha sido pactuada como essencial neste último ano do atual governo.

Em 20 de outubro de 2007, o então ministro dos Esporte Orlando Silva anunciou o montante de R$ 79,4 milhões para reforma geral do Santos Dumont. Mas, até agora, as poucas mudanças no Centro de Esporte, Lazer e Cultura Alberto Santos Dumont estão restritas à troca do piso da pista e à instalação de uma gaiola, local usado pelos atletas das provas de lançamentos. No mais, tudo permanece inalterado.

Tudo no papel
O projeto inicial previa a adequação generalizada do único ginásio coberto, fazendo com que ele se transformasse em uma moderna arena multiuso. Atualmente, nem a limpeza dos dois banheiros é feita a contento. Portas caindo, instalações elétricas danificadas, problemas hidráulicos nas pias, chuveiros e descargas. Sem falar das péssimas condições da quadra em si. E mesmo assim os portões foram abertos para abrigar disputas dos Jogos Escolares 2014.

As inovações para o espaço são muitas, mas, infelizmente, seguem apenas no papel. A planta previa a construção de restaurante, uma bem equipada sala de musculação, três piscinas, alojamento e estacionamento. Aquisições imprescindíveis para o crescimento do esporte estadual. Para fazer do local um verdadeiro centro esportivo.

Porque, sem isso, o Santos Dumont encolhe, se resume, tem sua principal função alijada: formar e desenvolver campeões. Hoje, isso não acontece. E, pelo jeito, não é da vontade das autoridades que aconteça. Como fica claro na explicação do gestor do local, Henrique Milet: “Não somos um centro de alto rendimento. Aqui é um centro interescolar”. E nada além disso.

A SALA "ADEQUADA"
Sob a justificativa do zelo, a gerência do Santos Dumont mantém os equipamentos novos fechados a chave em uma sala do térreo do prédio onde funciona a direção do centro interescolar. O cômodo - apresentado ao Superesportes pelo diretor Henrique Milet como prova de que a instituição está se esforçando para preservar os novos colchões e as recém-chegadas barreiras, permitindo que estejam em boa condição de uso em futuras competições - tem sinais de umidade e fiação elétrica exposta. As marcas de mofo são vistas em vários pontos e a falta de manutenção elétrica é observável logo na entrada da sala, no interruptor usado para acender e apagar as luzes.

Da janela, é possível ver que a pista fica ali pertinho, a apenas alguns metros. Mas a porta de entrada e saída dos equipamentos dá para o interior da edificação e não para a área externa, dificultando o transporte do material. Problema que se tornou impeditivo à substituição dos colchões velhos e das barreiras de madeira e ferro (enferrujadas) por equipamentos adequados à prática esportiva de rendimento.

Roberto Ramos/DP/D.A Press
 

Não convence
Ao Superesportes, Milet, funcionário comissionado, alegou que os colchões novos não vieram com capa de proteção e que, por esse motivo, não podem ficar no local de treino, a fim de evitar possíveis danos causados pelo sol ou pela chuva. A princípio, deu a mesma justificativa quando questionado a respeito das barreiras usadas nas provas de salto. Chegou a afirmar que o alumínio da estrutura do equipamento enferrujaria se fosse exposto à chuva.

Confrontado, demonstrou não ter conhecimento suficiente sobre o processo de corrosão desse tipo de metal para usar essa alegação como justificativa para a decisão de manter as barreiras longe dos treinos e acabou partindo para o argumento da insegurança. “Se eu relaxar, de noite elas (as barreiras) vão sumir. Pelo alumínio. Para um drogado, alumínio é ouro. Se você olhar, o fim da minha rua é uma favela”, afirmou.

SECRETARIA NÃO DÁ EXPLICAÇÕES
Orçada em R$ 79,4 milhões, a licitação das obras de requalificação física-estrutural do Centro de Esporte, Lazer e Cultura Alberto Santos Dumont foi homologada há pouco mais de um ano, em 8 de outubro de 2013, pela então secretária de Esportes - hoje secretária executiva -, Ana Cavalcanti. Os recursos viriam do governo federal, via emenda parlamentar da bancada pernambucana no Congresso, e do governo estadual. A homologação, no entanto, foi feita antes de o dinheiro estar, de fato, assegurado.

Segundo o assessor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Antonio Augusto de Queiroz, para que o recurso de uma emenda de bancada estadual seja efetivamente liberado, é necessário haver um projeto aprovado no qual o governo federal possa se basear para liberar os recursos e disponibilidade de caixa para a liberação das emendas. No caso específico do Santos Dumont, devido ao montante necessário para a execução das obras, é possível que o projeto não tenha passado pelo crivo de exigência do governo federal.

Sem resposta
Para tentar esclarecer como se deu a negociação dos recursos e saber quando o Santos Dumont vai, enfim, virar um centro de referência para esporte de alto rendimento, o Superesportes procurou a secretária-executiva de Esportes de Pernambuco, Ana Cavalcanti. O primeiro pedido formal de entrevista, formalizado por email, foi feito no último dia 17. Desde então, a solicitação foi reiterada repetidas vezes, mas a secretária não concedeu a entrevista nem designou alguém para prestar esclarecimentos. Por fim, a reportagem enviou novo email com as principais dúvidas, via assessoria de imprensa, mas não recebeu retorno.

Também no dia 17, o Superesportes também solicitou entrevista com o secretário de Planejamento do estado, Fred Amâncio. Obteve da assessoria de imprensa a seguinte resposta: “Este tema já está no âmbito da Secretaria Executiva de Esportes, ligada à Secretaria de Educação. Lá, eles têm as informações sobre o orçamento e licitação deste equipamento e estão acompanhando o trâmite”.

ATLETAS DIVERGEM
Ainda que longe das condições ideiais para se tornar um centro de alto rendimento, o Santos Dumont de hoje é bem melhor que aquele de anos atrás. Não à toa, quem lembra da pista que alagava ou da gaiola quebrada e com mato na altura do joelho, por vezes prefere não se queixar da situação atual. Caso da barreirista Alessandra Santos Silva.

Ela é veterana no Santos Dumont e bem sabe que, ali, melhorias de infraestrutura não vêm da noite para o dia. “A gente sabe que chegou o material novo e que está aí guardado, que a gente não pode no momento utilizar ele porque não tem local para guardar e porque é do centro, não é da Federação Pernambucana de atletismo. A gente se vira com o que tem mesmo. Para hoje, a realidade é essa que está aqui”, explicou Alessandra. “A barreira (que está sendo usada hoje no centro) às vezes machuca. A nova (que está guardada) é diferente, não machuca”, ponderou a atleta.

Felipe Moura, do salto com vara, tem opinião contrária à da colega e vive em atrito com o gestor do centro, Henrique Milet. “Muita coisa precisa mudar e melhorar. Atleta de alto rendimento não treina somente até às 18h, horário em que este senhor (Milet), que não conhece nada de atletismo, fecha os portões da pista. Sem falar nos equipamentos novos que não estão sendo usados e teve, inclusive, peças que já sumiram. Não podemos pensar em futuro, sem cuidar do presente”, comentou Moura, campeão estadual 2014, do salto com vara.

Saiba mais

O que tem no novo projeto
- 1 piscina de 50m (olímpica)
- 1 piscina para aquecimento
- 1 tanque de salto
- 1 arena multiuso
- 112 alojamentos
- Sala de condicionamento físico e musculação
- Sauna a vapor
- Sala com equipamentos multimídia
- Sala privada para gerência de delegação
- Restaurante
- Lanchonete
- Área de descanso
- Estacionamento