Márcio conta que a todo instante alguém quer saber notícias sobre seu relacionamento com o pai e garante que não se cansa de falar sobre isso. “Para todo mundo ele era o Nelson Prudêncio, discípulo de Adhemar Ferreira da Silva, ganhador de duas medalhas olímpicas, campeão do Troféu Brasil e sul-americano. Mas, para mim e minha irmã, Cristina Andréa, ele era simplesmente o nosso pai. Ele não deixava o esporte intervir na família.”
Segundo Márcio, a última pessoa a incentivá-lo a competir para se tornar um atleta foi o pai. “Cresci neste meio. A gente vivia em São Carlos. Tinha escola de educação física lá. Para mim, era normal estar com o Adhemar, João do Pulo e Claudinei Quirino e com os estrangeiros Viktor Saneiev e Sergei Bubka. Tinha também contato com jogadores de basquete, de futebol, além do atletismo. Tenho um grande amigo daqui de BH, o Gersão, ouro no Pan de Indianápolis, com quem ainda não me encontrei. Então, era tudo muito natural para mim”, relembra. “O mais curioso é que quando passei competir meu pai ia em todas as disputas. Virou meu maior incentivador”, completou.
Ele acabou se tornando atleta e também campeão do Troféu Brasil e do Campeonato Paulista. Optou por seguir o caminho do pai, seu espelho. Foi ser professor de educação física. E quis o destino que ele viesse parar em BH. “Recebi um convite do professor Leszek, da UFMG. Ele me ligou e disse: ‘Abriu uma vaga para professor na UFMG. Você poderia vir’. Não tive dúvida. Passei na prova e aqui estou. Cheguei em janeiro do ano passado para ser professor de atletismo”, diz.
INFRAESTRUTURA
Um algo a mais o cativou. Ser técnico de formação e condução do projeto de atletismo da Escola de Educação Física. “É fascinante. Chega um menino de 12, 14 anos, que nem sequer sabe correr. Vem participar da seletiva. Chega com o pai, entusiasmado. Vejo chances de futuro para o menino e isso me faz me apegar ainda mais ao garoto. Daí a pouco, você vê que ele vai se tornando um atleta. Essa é realmente uma coisa que gosto de fazer. Espero, daqui a algum tempo, que campeões saiam deste projeto.”
Márcio garante que há estrutura necessária para isso: “Temos um dos centros mais avançados do país, com equipamento de primeira. O que precisamos fazer é ajudar os jovens que querem ser atletas chegar a uma Olimpíada, por exemplo, conseguir seu objetivo, que é também o meu e o da escola.”
MEMÓRIA
O ÍDOLO
Além das duas medalhas que recebeu no México e em Munique (foto), Nelson Prudêncio é um dos maiores atletas olímpicos brasileiros. Ele foi o responsável pela continuidade da escola brasileira de salto triplo, que começou com Adhemar Ferreira da Silva, dono de duas medalhas olímpicas de ouro (Helsinque’52 e Melbourne’56) e que teve sequência com João Carlos de Oliveira, o “João do Pulo”, de quem foi professor, que ganhou dois bronzes nos Jogos (Montreal’76 e Moscou’80).