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CARLOS ALBERTO TORRES

Capitão, sempre capitão! Brasil dá adeus a um dos líderes da maior seleção de todos os tempos

Carlos Alberto Torres sofreu infarto fulminante em casa, aos 72 anos

postado em 26/10/2016 11:00 / atualizado em 26/10/2016 09:22

Arte/EM/D.A `Press
Autor de um dos gols mais bonitos da história das Copas, herdeiro legítimo de Djalma Santos e precursor dos laterais-direitos modernos, daqueles que defendem e atacam com a mesma intensidade, Carlos Alberto Torres aliava liderança e personalidade – dentro e fora de campo. Muito antes de ser eternizado como o Capitão do Tri, o carioca da Vila da Penha já mostrava fôlego, classe e ímpeto para se tornar, ao mesmo tempo, o maior de sua posição e um líder inconteste, a ponto de não sobrar dúvidas sobre quem teria a braçadeira na maior Seleção Brasileira de todos os tempos, a da Copa do Mundo’1970.

Carlos Alberto Torres morreu na manhã de ontem, aos 72 anos, de infarto fulminante, em casa. O corpo foi velado na sede da CBF, no Rio, e o enterro será hoje, às 11h, no cemitério de Irajá.

Alto e esguio, ele sempre encarou grandes empreitadas. Para ingressar no profissional do Fluminense, no início dos anos 1960, precisou peitar o pai, que lhe deu uma surra ao saber da paixão do filho pela bola. Logo nas primeiras partidas no tricolor, não se fazia de rogado ao dar broncas em veteranos e, em 1967, dois anos depois de chegar ao Santos, de Pelé, assumiu a braçadeira em lugar do bicampeão mundial Zito, que havia se aposentado. Um ano antes, foi cortado às vésperas da Copa da Inglaterra, porque Vicente Feola optou por Fidélis, do Bangu, para a reserva de Djalma Santos.

Revelado pelo Fluminense, Carlos Alberto chegou ao Santos em 1965. Em uma década – passagem dividida por uma curta ida para Botafogo, em 1971 –, ele vestiu a camisa alvinegra por 445 partidas, marcou 40 gols e conquistou nove títulos. Foi peça-chave dos anos de ouro do Peixe, que cedeu cinco jogadores para a Seleção de 1970, três deles titulares: Pelé, Clodoaldo e o capitão. No México, coube ao Capita a cereja do bolo: o quarto gol da vitória sobre a Itália, por 4 a 1, considerado a jogada coletiva mais bonita da história dos Mundiais. Por 28 segundos, desde o desarme de Tostão, a bola passou pelos pés de oito jogadores, até o chute fulminante de Carlos Alberto, que estufou as redes de Albertosi.

DONO DE TÍTULOS Depois do Mundial, Carlos Alberto Torres passou pelo Botafogo, voltou ao Santos, fez parte da Máquina Tricolor, conquistando dois títulos cariocas, e foi vendido ao Flamengo, em 1977. Antes do fim da temporada, viajou aos Estados Unidos para acertar com o estrelado New York Cosmos, onde jogou ao lado de legendas como Pelé, Neeskens e Beckenbauer. Defendeu o Cosmos até 1982, quando encerrou a carreira

Logo no primeiro ano como treinador, conquistou o Brasileiro’1983 pelo Flamengo, derrotando justamente o Santos na final. Nos anos seguintes, passou por diversos clubes do Brasil, foi eleito vereador no Rio, em 1988. Em Minas, seu único trabalho foi à frente do Atlético, dirigindo o clube por 26 partidas (12 vitórias, oito empates e seis derrotas), em 1998. Em 2010, estreou como comentarista pelo canal Sportv. Sua última participação foi no domingo, em um programa noturno.



REPERCUSSÃO

 

“Meu amigo, meu companheiro e meu capitão se foi. Um dia muito triste para mim, minha família e o Brasil. Nunca mais teremos um capitão como ele foi”
Gérson, campeão mundial em 1970

“Heidi (esposa) e eu estamos profundamente chocados. Carlos Alberto era como um irmão para mim, um dos meus melhores amigos!”
Franz Beckenbauer, jogador alemão, parceiro de Carlos Alberto no Cosmos

“Um exemplo de liderança dentro e fora de campo. Um grande amigo que sempre me tratou com grande carinho. Descanse em paz, eterno capitão”
Ronaldinho Gaúcho

“Foi um dos maiores laterais da história, um líder nos clubes em que passou e na Seleção de 1970. Fará falta por tudo, inclusive pela personalidade”
Carlos Alberto Parreira

“O Carlos Alberto Torres foi muito importante na Seleção Brasileira, pois tinha o apreço de todos os jogadores. Ele conseguiu ganhar o grupo e isso foi determinante para o sucesso daquela equipe.”
PIAZZA, campeão mundial em 1970

Em Minas, sem brilho

Carlos Alberto Torres teve passagens por Minas como jogador e treinador. Além de enfrentar Cruzeiro e Atlético por seus clubes, foi capitão da Seleção Brasileira em três jogos no Mineirão e treinador do Galo, em 1998. Pelo Santos, onde atuou por uma década, sua presença mais marcante em Minas não lhe trazia boas recordações: era o lateral-direito do até então imbatível alvinegro praiano, goleado pelo Cruzeiro por 6 a 2, na final da Taça Brasil’1966.

Pela Seleção, jogou no Gigante da Pampulha em três oportunidades na preparação para a Copa do Mundo do México’1970. Em 3 de novembro de 1968, o Brasil recebeu os anfitriões daquele Mundial no Mineirão. Carlos Alberto era o capitão do time, que venceu os mexicanos por 2 a 1, gols de Jairzinho e Pelé. No ano seguinte, a equipe do técnico João Saldanha acabaria derrotada pelo Atlético, que representava a Seleção Mineira: 2 a 1. O troco foi dado no ano seguinte, quando o Brasil venceu os mineiros por 3 a 1.

No Atlético, Carlos Alberto Torres comandou a equipe em 26 jogos (12 vitórias, oito empates e seis derrotas). A estreia foi no triunfo por 3 a 2 sobre o Grêmio, em Porto Alegre, em 2 de agosto de 1998. A queda, no 0 a 0 com a Ponte Preta, em Campinas, em 12 novembro. “Era sensacional. A gente tinha respeito e admiração por sua história. Formidável, um porto seguro para todos nós, pois sabíamos que, num resultado adverso, estaria lá para nos ajudar”, diz o ex-atacante Marques.

O empate deixou o Atlético fora do mata-mata do Campeonato Brasileiro. O Galo terminou em nono, fora da zona de classificação, com 36 pontos. “O Clube Atlético lamenta a morte do eterno capitão da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Torres, técnico do #Galo em 1998”, publicou o presidente atleticano, Daniel Nepomuceno, em seu Twitter.

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